Por: Ryan Dixon

Assim como Kobe e Shaq durante seus dias de Lakers, minha cabeça e meu intestino jogam para o mesmo time, mas nem sempre se dão bem.  A batalha recrudesce a cada vez que vemos uma contusão séria ocorrer após uma jogada com ênfase na força física, seja no hóquei ou em qualquer outro esporte. 

A cabeça ganha com facilidade quando se trata de jogadas como a tão falada cotovelada de Patrice Cormier, uma atitude que todos vão concordar que ultrapassou os limites. Mas o mais difícil é descobrir onde exatamente começam esses limites, porque, cada vez mais, parece que eles estão desaparecendo. 

Como qualquer fã dos Habs nascido depois daqueles dias de glória da equipe pode atestar, o fato de nós não podermos escolher a época em que vivemos é um infeliz, e não-negociável aspecto da vida. A sensação que eu começo a ter de uma enorme parcela daqueles que assistem ao hóquei é que há uma nostalgia por uma época em que os jogadores faziam o que tinha de ser feito, sem a necessidade de pensar nas consequências. Goste ou não, esse já não é o mundo em que vivemos. 

A mais recente edição da revista The Hockey News, de 25 de janeiro de 2010, mostrou que a esmagadora maioria dos jovens jogadores estão usando viseiras. Isso não vai mudar, assim como não veremos ser revogada a regra do uso de capacetes ou de restrições mais flexíveis no que diz respeito à maneira pela qual você pode passar por um oponente usando o jogo físico. 

O boxe adotou as luvas. O futebol americano não está prestes a começar a incentivar as jogadas máscara-contra-máscara que atualmente penaliza. A consciência não é algo que você pode deslocar em sentido inverso. 

É a mesma coisa para a nossa sociedade como um todo, que desde cedo ensina às suas crianças o que é e não é considerado um comportamento publicamente aceitável. Em alguns casos, é uma coisa boa, em outros não. Mas não há como negar a mudança de paradigma. E, novamente, é difícil imaginar uma mudança dramática no curso agora. 

Isso se aplica aos esportes, pois onde antes as pessoas atribuíam aos ferimentos e doenças uma parte e uma parcela do processo, tenho a sensação de que agora elas examinam mais de perto as consequências dos esportes mas duros e mais físicos. Registros de jogadores aposentados da NFL que ficam altamente expostos ao risco de demência ou o trauma pós-concussão que alguns jogadores da NHL enfrentam parecem estar repercutindo cada vez mais nas pessoas em geral.

O que nos leva de volta para onde começamos. Cotoveladas na cabeça e trancos pelas costas são coisas com as quais não podemos concordar que ainda aconteçam. Mas o que acontece com as ações que se enquadram dentro dos limites das regras mas que ainda sim podem deixar os jogadores gravemente feridos? Neste momento, é difícil imaginar qualquer coisa diferente de 'essa é forma com que o jogo é jogado, e se você não gosta, vá jogar xadrez'. 

E as pessoas não apenas gostam disso, elas adoram. O esporte existe para aliviar aquela necessidade primitiva, e o aspecto físico que ele abriga é uma enorme parte disso. Isso te pega pelo intestino, razão pela qual algumas das pessoas mais inteligentes que eu conheço assistem ao hóquei, em grande parte, porque simplesmente gostam de assistir às pessoas esmagando umas às outras. 

Não muito tempo atrás, acho que era fácil vender a idéia simples de que você entra em um esporte com os olhos abertos, de modo que não há necessidade de desviar o olhar quando alguns respingos de sangue voam, pois é dessa forma que os tomates são triturados. 

Não acho que essa mentalidade está começando a "sair do gelo". Não assim tão cedo, porque muitas pessoas ainda a adoram. Mas me pergunto se, em algum lugar no caminho, esportes como o hóquei podem ser forçados a passar por algumas mudanças fundamentais devido às transformações do mundo fora dos rinques. 

Ryan Dixon é colunista e editor da revista The Hockey News, co-autor do livro "Hockey's Young Guns" e colabora regularmente para o THN.com. O artigo original, publicado em 20 de janeiro de 2010, foi traduzido por Igor Veiga.
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Página publicada em 21 de janeiro de 2010.