Por: Scott Burnside

Lá estava ele, Mario Lemieux, ex-capitão e atual dono do Pittsburgh Penguins, procurando entre a multidão no gelo da Joe Louis Arena por seu capitão, Sidney Crosby. Ao achar Crosby, Lemieux gentilmente devolveu-lhe a Copa Stanley e, ao fazê-lo, fechou o círculo na memorável campanha dos Penguins que culminou com o título. Para um time que naquela noite perdeu Crosby por causa de uma contusão no joelho no começo do segundo período e ainda assim arrancou com garra uma emocionante vitória por 2-1 sobre o então campeão da Copa Stanley Detroit, seu primeiro campeonato desde 1992 não é só a comemoração de um jogo, mas a comemoração de uma improvável jornada.

Uma improvável jornada para uma franquia que parecia morta e enterrada poucos anos atrás. Uma improvável jornada para um time que demitiu seu técnico e parecia ter poucas chances até de chegar aos playoffs em meados de fevereiro. Uma improvável jornada para jogadores que consistentemente recusaram-se a ceder quando a lógica sugeria que eles fariam justamente isso.

"Sonhos viram realidade. É para isso que você trabalha", disse Crosby, que deu início à tradicional procissão da Copa ao receber o grande troféu das mãos do comissário da NHL, Gary Bettman, tornando-se o mais jovem capitão a ganhar uma Copa Stanley. "É uma sensação muito boa. É exatamente como você imagina, é para isso que você joga."

Pelo segundo jogo seguido, os Penguins seguraram um time talentoso e determinado sem precisar de gols de Crosby ou do vencedor do Troféu Conn Smythe, Evgeni Malkin (que marcou uma assistência no primeiro gol dos Penguins). Ao invés disso, os Pens contaram com dois gols de Maxime Talbot e uma atuação brilhante do sempre vilanizado goleiro Marc-André Fleury para tornarem-se apenas o segndo time na história a perder os dois primeiros jogos das finais da Copa fora de casa e virar a série, vencendo-a em sete jogos.

"Era um cara diferente a cada noite. A defesa que o Marc fez faltando um segundo, ele já a fez inúmeras vezes", disse Crosby, referindo-se à defesa no desespero que Fleury fez com a parte de cima de seu corpo no chute que Nicklas Lidström de no último segundo de jogo, mantendo assim a margem da vitória.

Talbot lembrou-se de ter falado com Fleury depois que Jonathan Ericsson tinha diminuído a vantagem dos Penguins pela metade a cerca de seis minutos do fim do tempo regulamentar. "Eu falei: 'Flor, eu estou com o gol da vitória, sabe, tente fazer a defesa.' E ele fez", comemorou Talbot. Os dois são grandes amigos, e Talbot sempre é visto conversando com o jovem arqueiro cara a cara antes de entrar no gelo ou na área de Fleury. "Sempre fazemos a mesma coisa." Eles falam sobre a vida sobre família, sobre o jogo. Mas falam principalmente sobre como como têm sorte de estar onde estão. "Temos sorte de estarmos aqui, É isso que dizemos", conta Talbot.

Na noite de sexta-feira, Fleury ganhou o respeito do mundo do hóquei ao repelir 23 dos 24 chutes e de alguma maneira limpar da memória as três derrotas seguidas que sofrera na Joe Louis Arena durante esta série. Fleury foi uma primeira escolha geral dos Penguins no recrutamento de 2003. Talbot? Ele foi recrutado com a 234.ª escolha em 2002 e brincou dizendo que ficou preocupado quando os Penguins recrutaram Crosby em 2005, porque ele é também um central e achou que Crosby iria roubar sua vaga.

O homem que é chamado de "O Jogador" terminou os playoffs com oito gols, incluindo os únicos de que os Penguins precisaram para ganhar o título na sexta-feira. "Não consigo acreditar que ganhamos a Copa Stanley. Isso é tão especial", disse Talbot. "É como eu gosto de dizer: toda manhã eu acordo e digo que hoje é o melhor dia da minha vida. Bem, hoje pe realmente o melhor dia da minha vida."

O veterano Bill Guerin pode ter resumido tudo da melhor maneira quando disse, simplesmente: "Agradeço a Deus por Max Talbot." Foi Guerin a quem Crosby deu a Copa primeiro, depois de levantá-la. Guerin ganhou uma Copa Stanley ainda jovem com o New Jersey, em 1995. "Eu achava que teria mais um milhão de chances de conquistá-la de novo", disse Guerin, rodeado por sua esposa e seus quatro filhos. Mas ele não teve outra chance até este ano, e foi preciso um grande comprometimento por parte de sua família, que ficou em Long Island, para que isso acontecesse quando os Penguins adquiriram Guerin no dia-limite de trocas.

"Era isso que todos nós queríamos. Isso faz tudo ter valido a pena", celebrou Guerin. Ele lembrou-se de olhar para o cronômetro e perceber que faltavam apenas seis segundos para o fim do jogo. "Eu não conseguia acreditar que aquilo iria realmente acontecer", confessou. A Copa parecia diferente em suas mãos de 38 anos? "Fazia muito tempo. Eu não me lembrava muito bem, mas sei que me senti muito bem."

Enquanto as famílias e os jogadores tomavam o gelo da Joe Louis Arena, milhares de torcedores do Pittsburgh — de onde eles apareceram? — aplaudiam-nos das arquibancadas. Hal Gill ficou segurando sua filha. Muitas vezes vilanizado pela torcida por seu estilo às vezes pouco comum de jogar, Gill estava no gelo para os movimentados últimos segundos do jogo 7 (assim como no jogo 6, quando os Penguins também arrancaram uma vitória por 2-1). Agora, com sua família em volta, Gill reconhecia que não conseguia sequer lembrar como se sentiu ao segurar a Copa pela primeira vez em sua carreira. "Nem sei se me lembro", exagerou. "Você dá tão duro por alguma coisa. É uma jornada de verdade."

Próximo a ele, Jordan Staal pegou sua mãe, Linda, e rodopiou com ela, seus olhos vermelhos de emoção. No verão setentrional de 2006 seu irmão Eric levou a Copa Stanley para a casa de fazenda da família em Thunder Bay, Ontário, depois de vencê-la com o Carolina. Jordan não tocou nela na ocasião, mas o fez nesta noite, depois de uma atuação estelar nas finais. "É muito emocionante para ele", disse o pai de Staal, Henry. "É maravilhoso."

O terno do assistente técnico Tom Fitzgerald estava coberto de suor por causa do abraço nos jogadores. Ele juntou-se à comissão técnica de Dan Bylsma em meados de fevereiro e está longe de sua mulher e quatro filhos quase que o tempo todo desde então. Como jogador, ele foi às finais da Copa Stanley com o Florida Panthers em 1996, mas não ganhou nenhum jogo. "Nunca pensei que eu fosse voltar", revelou. Ele reconheceu que, ao aceitar o emprego, não poderia imaginar que era ali que os Penguins iriam acabar. "Isso mostra que tudo é possível", disse. "Mostra a resiliência deste grupo."

Se o time aprendeu que essas coisas eram possíveis, aprendeu com seu novo técnico, Bylsma, sempre otimista e de bom humor. Mesmo quando as coisas estavam feias nesta primavera, como estavam quando os Pens perdiam por 2-0 para o Washington na segunda fase e novamente contra um Detroit que já passou por muitas batalhas, Bylsma permaneceu concentrado nas coisas que ele acreditava que seu time poderia alcançar. Na sexta-feira, ele foi recompensado com o título. Nada mau para um cara que começou a temporada como um técnico anônimo da AHL em Wilkes-Barre. "Sabe, eu tinha planos para isso, eu sonhava com isso", contou Bylsma. "Eu esperava que isso acontecesse um dia. Mas bons técnicos tiveram longas carreiras e nunca tiveram uma oportunidade como esta."

O gerente geral Ray Shero vestia seu novo boné com a Copa Stanley mesmo sem combinar com seu terno escuro. Este é o time dele. Ele foi criticado por movimentações no elenco durante as últimas férias, como o fato de não ter conseguido renovar com Marián Hossa, que assinou contrato com os Red Wings. Engraçado, no jogo 7 Ruslan Fedotenko e Miroslav Satan, dois jogadores cujas contratações também foram criticadas, jogaram bem, com Satan bloqueando chutes e Fedotenko ajudando a controlar o disco no ataque. "Foi incrível ver como esse time se arrumou", disse Shero.

O GG é filho do legendário técnico do Philadelphia Flyers Fred Shero, que ganhou duas Copas seguidas em 1974 e 1975. Agora, quando Shero levar seus filhos ao Hall da Fama do hóquei, eles não vão ver só o nome de seu avô, mas também o nome de seu pai inscrito por toda a eternidade. Alguém perguntou a Shero se este é o começo de uma dinastia, e ele sorriu. Disse que é muito cedo para dizer. Mas não muito cedo para dizer isto: "Neste instante, somos o melhor time da NHL", vangloriou-se. Não muito longe dali, Crosby apareceu com uma garrafa de champanhe, enquanto procurava colegas de time para dar um banho, atrás de uma legião de repórteres e câmeras. Parecia que Shero estava certo.

Scott Burnside é colunista do site ESPN.com. O artigo original foi traduzido por Alexandre Giesbrecht.
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Página publicada em 16 de junho de 2009.