Por: Thiago Leal

Quando Mario Lemieux, por mais que quisesse, não podia entrar nos rinques, devido a seus problemas de saúde, lá estava o tcheco Jaromír Jágr. O ponta direita de nome complicado havia sido a quinta escolha geral de 1990 pelo Pittsburgh. Vindo do Hokejový Klub Kladno, na então Tchecoslováquia.

Podemos dizer que Jagr não podia ter tido mais sorte. Chegou como uma das peças que completou um elenco forte para o Pittsburgh finalmente avançar na pós-temporada. Jagr, assim como Ron Francis, Jiri Hrdina, Mark Recchi e Paul Coffey, ou mesmo Brian Trottier, foi apenas um coadjuvante para a grande estrela dos Penguins: Mario Lemieux. Talvez não na prática, mas a moral da história credita os Penguins campeões mais a Lemieux que aos demais — uma situação bem diferente, por exemplo, do Edmonton Oilers de Wayne Gretzky. Aos 19 anos de idade, Jagr contribuiu com a campanha vencedora na pós-temporada marcando 13 pontos, sendo 10 assistências, embora o #68 sempre tenha sido um cara mais de gols. Basta conferir seu retrospecto nas competições tchecoslovacas, antes de entrar na NHL.

Na sua segunda temporada Jagr contribuiu de forma mais consistente para o bicampeonato dos Penguins. Foram 24 pontos na pós-temporada. Mas em ambas as finalíssimas foi Lemieux o jogador mais valioso. E não questiono a escolha, de forma alguma. Apenas quero chamar atenção para mais um fator que alçava ainda mais Lemieux, ofuscando seus companheiros de time, mesmo os com grande participação, caso de Jagr.

Mas quando o tcheco foi necessário, devido aos problemas de saúde de Mario, ele não decepcionou: assumiu a responsabilidade, liderando a franquia em pontos e sendo a peça fundamental para levar o time às pós-temporadas. Mais para frente, Jagr capitanearia os Penguins, e seria o primeiro "estrangeiro" (consideremos canadenses e estadunidenses como uma nacionalidade só) a se tornar um grande ídolo de fato no time de Pittsburgh.

Agora a história se repete com Evgeni Malkin?

De certo modo. Na verdade Malkin ainda não é um jogador com a técnica apurada de Jagr — sem exageros, um dos dez maiores jogadores que passaram pela NHL, com certeza. Mesmo sendo um fenômeno, o russo ainda tem que crescer um pouco mais para ter a mesma habilidade para driblar ou marcar gols que Jagr tinha, e eu diria que hoje em dia nem Alexander Ovechkin ou Pavel Datsyuk têm esse mesmo controle do jogo de Jaromir. Claro que é algo que eles, e acima de tudo Malkin, ainda podem desenvolver.

Por outro lado, Malkin não teve sua estrela ofuscada nas finais. Muito pelo contrário! Eu diria que ele, Malkin, foi quem acabou ofuscando a presença dos demais jogadores da equipe. Só não ofuscou Sidney Crosby porque o Menino manteve um jogo de alto nível e um alto índice de pontuação. Podemos dizer que eles dois dividiram o posto de estrelas do Pittsburgh e dividiram as atenções, enquanto no passado Lemieux destacou-se tanto a ponto de fazer dos demais jogadores, por melhores que fossem, meros coadjuvantes. Mesmo assim, foi Malkin o grande nome dos playoffs nos Penguins e o jogador mais decisivo, sobretudo com assistências. Não dá para dizer que os Pens seriam campeões sem Crosby, claro. Mas muito menos sem Malkin.

Foi o russo, por sinal, quem mudou completamente a cara dessa franquia. Com bem menos pressão que Crosby, sem o rótulo de estrela instantânea e sem ser objeto de desejo e produto de marketing da franquia ou da liga, Geno chegou a Pittsburgh sem peso sobre as costas, mas trazendo a bagagem de sua experiência na então Superliga Russa. Segunda escolha geral de 2004, ano em que Alexander Ovechkin foi recrutado como escolha de número 1, o central canhoto, alto e forte pode vir a ser uma versão anos 2000 de Jaromir Jagr, embora eu ache que hoje em dia quem guarda mais semelhanças com o tcheco seja... Ovechkin.

Em sua temporada de estreia Malkin atingiu 85 pontos e era visto como um "ajudante" de Crosby — claro, no sentido de carregar o time, não como companheiro de linha, como fora Jagr para Lemieux a princípio. Na seguinte, quando ofuscou Crosby, chegou aos 106. E agora são 113, isso falando apenas de temporada regular.

Com duas medalhas de bronze em Campeonatos Mundiais, duas de prata em Mundiais Juvenis e um ouro e um bronze em Mundiais Sub18, vejo Malkin numa situação mais complicada que Crosby de agora em diante. Enquanto o "Menino" vai ter um trabalho, digamos, mais leve, mais solto para jogar e crescer como jogador, por ter aliviado toda aquela pressão de levar o time ao título, creio que Malkin terá uma sobrecarga extra. Geno vai começar a sentir a pressão de ser o MVP, de ter liderado o time nos playoffs, de ser um grande assistente, de ser um grande goleador...

E é aqui onde vai ser determinante "quem é Evgeni Malkin". Porque quando foi questionado quem era Jaromir Jagr, na ausência de Mario Lemieux, o tcheco mostrou muito bem quem era. E passou a ser uma figura não apenas do Pittsburgh Penguins, mas da NHL e do hóquei no gelo.

Esse é o desafio de Malkin de agora em diante.

Thiago Leal recentemente resolveu aderir à onda dos twitters.
Arquivo TheSlot.com.br
Jagr, nos tempos em que era mera sombra de Lemieux: até o mesmo mau-gosto para cabelos.

AP
Malkin MVP: agora as responsabilidades serão maiores.
(12/06/2009)

Thiago Leal/TheSlot.com.br
Morra de inveja, Giesbrecht: eu já tenho o DVD do Penguins campeão da Copa Stanley 2009.
(12/06/2009)

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Página publicada em 16 de junho de 2009.