Por: Humberto Fernandes

Uma das formas de ficar bom é sendo ruim por muito tempo. Para o Pittsburgh Penguins não há maior verdade. O time campeão da Copa Stanley 2009 foi construído basicamente através do recrutamento, com destaque para o período entre 2003 e 2007, quando a equipe escolheu quatro campeões com a primeira ou segunda escolha geral.

Recrutar bem é fundamental, faz parte da receita vitoriosa, mas o trabalho da gerência vai além de garimpar talentos precoces. Um time campeão também é formado de jogadores adquiridos por troca ou contratados como agentes livres. Regra geral, eles são a maioria no elenco, porém desempenham papel secundário.

O grupo dos Penguins campeão em 2009 é tão especial que a maioria dos atletas foi recrutada pela equipe. Dos 23 jogadores que disputaram os playoffs, dez são provenientes do recrutamento, enquanto sete foram adquiridos em negociações e seis foram contratados como agentes livres.

Entre os recrutados, de imediato você pensa em Sidney Crosby (1.ª escolha de 2005) e Evgeni Malkin (2.ª escolha de 2004), os dois melhores atacantes do time. Mas a primeira pedra do time campeão foi Marc-Andre Fleury (1.ª escolha de 2003). O goleiro foi tão importante quanto os demais na reconstrução do time através dos anos e na campanha do título, afinal de contas um bom time começa por um bom goleiro. E Fleury não é bom, ele é ótimo — não acredite no que dizem por aí. Nos playoffs, Fleury registrou 90,8% de defesas e 2,61 gols sofridos por jogo.

Crosby e Malkin juntos marcaram 29 gols e 67 pontos nos playoffs. A diferença dos dois para os demais é tão grande que o terceiro artilheiro do time teve menos da metade dos pontos de Crosby. Malkin foi o primeiro russo a vencer o Troféu Conn Smythe, concedido ao melhor jogador dos playoffs. Seus 36 pontos constituem a sétima melhor pontuação da história da liga, estabelecendo um novo parâmetro que, até então, eram os 34 pontos de Joe Sakic marcados em 1996.

Jordan Staal (2.ª escolha de 2006) não é um artilheiro. Seu estilo de jogo é baseado nos aspectos defensivos. Durante algum tempo houve quem defendesse a troca do jogador, mas os Penguins acreditaram nele. O gol em desvantagem numérica marcado no jogo 4 das finais foi decisivo para o título.

Acima de Staal na artilharia ficaram Max Talbot (234.ª escolha de 2002) e Kris Letang (62.ª escolha de 2005). Talbot é um dos ídolos da torcida e gravou o seu nome na Copa Stanley de todas as maneiras. Foi ele quem brigou com Daniel Carcillo e inspirou os companheiros a virar um jogo perdido contra o Philadelphia Flyers; foi ele quem declarou, antes da série contra o Detroit Red Wings, que adoraria cumprimentar Marian Hossa e lhe dizer que ele escolheu o time errado; foi ele quem marcou os dois gols do tenso jogo 7.

Completam o grupo dos recrutados o central Tyler Kennedy (99.ª escolha de 2004) e os defensores Rob Scuderi (134.ª escolha de 1998), Brooks Orpik (18.ª escolha de 2000) e Alex Goligoski (61.ª escolha de 2004). Scuderi bloqueou um chute no jogo 6 das finais que certamente entrará na seleção dos melhores momentos dos playoffs. Alguns trancos de Orpik também devem aparecer no vídeo.

No dia-limite de trocas os Penguins reforçaram o ponto fraco do time adquirindo Bill Guerin por uma escolha condicional no recrutamento. O veterano atacante deixou a lanterna da liga diretamente para o time campeão. Guerin marcou sete gols e 15 pontos atuando ao lado de Crosby, o que o fez parecer alguns anos mais jovem. Outra aquisição do dia-limite foi Craig Adams, selecionado na Desistência.

Dias antes do dia-limite os Penguins já haviam movimentado o mercado com uma das trocas mais comentadas da temporada. Confiando em sua profundidade defensiva, a equipe trocou o bom defensor Ryan Whitney pelo atacante Chris Kunitz, outro que foi jogar ao lado de Crosby. A defesa realmente suportou a perda. Kunitz marcou um gol e 14 pontos.

Outro titular do time, o defensor Hal Gill, foi adquirido na temporada passada. Com +8, teve um dos melhores saldos nos playoffs. Remanescente da troca de Hossa, Pascal Dupuis perdeu espaço e foi barrado em vários jogos. O defensor Philippe Boucher e o goleiro reserva Mathieu Garon chegaram após trocas menores nesta temporada.

O trabalho da gerência contratando agentes livres começou ainda em 2006, com a contratação do defensor Sergei Gonchar. O russo recuperou o seu melhor hóquei em Pittsburgh, depois de ser considerado ex-jogador em atividade. Com três gols e 14 pontos, foi o artilheiro do time entre os defensores. Gonchar disputou boa parte da campanha com danos nos ligamentos do joelho, após um choque com Alexander Ovechkin na segunda fase. Em 2007, Mark Eaton, outro defensor que cresceu em Pittsburgh, foi contratado. Eaton marcou quatro gols e sete pontos na campanha do título. O atacante Petr Sykora foi contratado em 2008. Sua participação nos playoffs ficará marcada pela contusão sofrida no jogo 6 das finais após bloquear um chute.

O surpreendente Ruslan Fedotenko chegou ao time nesta temporada. Atuando na segunda linha com Malkin, marcou sete gols e 14 pontos. Fedotenko foi um dos jogadores contratados para reforçar as pontas do time. Miroslav Satan foi outro, mas nos playoffs o veterano marcou apenas um gol e seis pontos. O esforçado Matt Cooke também foi contratado como agente livre e disputou todos os jogos nos playoffs, marcando sete pontos.

Os números
Na campanha do título os Penguins disputaram 24 jogos e marcaram 79 gols, 131 assistências, 210 pontos, +41, 279 PIM e 20 gols em vantagem numérica.

Somatório de cada "grupo" de jogadores:
Recrutamento – 193 jogos, 51 gols, 70 assistências, 121 pontos, +18, 150 PIM, 14 gols em vantagem numérica e 11 gols da vitória.
Troca – 121 jogos, 12 gols, 28 assistências, 40 pontos, +11, 68 PIM e 3 gols da vitória.
Agentes livres – 118 jogos, 16 gols, 33 assistências, 49 pontos, +12, 59 PIM e 2 gols da vitória.

Média dos jogadores (com arredondamento):
Recrutamento – 21 jogos, 6 gols, 8 assistências, 13 pontos, +2 e 17 PIM
Troca – 20 jogos, 2 gols, 5 assistências, 7 pontos, +2 e 11 PIM
Agentes livres – 20 jogos, 3 gols, 6 assistências, 8 pontos, +2 e 10 PIM





Dados
Faço esse exercício de destrinchar o time campeão há três temporadas. Começou com o Anaheim em 2007, passou pelo Detroit em 2008 e agora chegou ao Pittsburgh.

Percebe-se que a cada ano o recrutamento ganha mais importância nos times campeões porque os jogadores recrutados e desenvolvidos pela organização são cada vez mais numerosos nos elencos vencedores. O Anaheim tinha apenas três jogadores provenientes do recrutamento, o Detroit tinha nove e o Pittsburgh tem dez.

De 2007 a 2009 a participação desses jogadores no time campeão saltou de 12% para 43%. Dos 72 atletas campeões neste período, 22 foram recrutados pelo próprio time (para efeito de cálculo, jogadores recrutados, negociados e readquiridos via troca não entram nas estatísticas do recrutamento).

Ainda não há dados suficientes para se afirmar que há uma tendência, mas não é à toa que Chicago Blackhawks e Washington Capitals, entre outros, são times apontados como favoritos no futuro.

Humberto Fernandes parabeniza os torcedores brasileiros do Pittsburgh Penguins.

Jamie Sabau/Getty Images
O povo de Pittsburgh saúda Sidney Crosby e os campeões da Copa Stanley 2009.
(15/06/2009)

AP
Evgeni Malkin desfila com seu Troféu Conn Smythe e um pinguim na mão. Ainda há espaço para o Troféu Hart na outra mão.
(15/06/2009)

Jamie Sabau/Getty Images
A camisa dos Penguins fez de Bill Guerin um menino aos 38 anos de idade.
(15/06/2009)

AP
Max Talbot, o herói do jogo 7, estoura a champagne enquanto Crosby ergue a Copa Stanley mais uma vez.
(15/06/2009)

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Página publicada em 16 de junho de 2009.