Por: Mitch Albom

As barbas foram raspadas, os ternos apareceram e os jogadores foram relutantemente embora. Com seus cabelos ainda molhados, muitos jogadores dos Red Wings pareciam exatamente o que eles eram: um monte de atletas que não estavam preparados para vestir roupas civis, não estavam preparados para ser eliminados. Kris Draper cumprimentou sua mulher e seus filhos e parou em silêncio por um minuto, com as crianças segurando suas pernas. Justin Abdelkader conversou com visitantes e parecia ainda mais jovem que seus 22 anos. Henrik Zetterberg apareceu sem barba, uma gravata bem amarrada em uma camisa branca e um terno escuro; ele poderia até ir a um funeral se quisesse.

O topo da montanha foi-lhes negado. "Esta situação é nova para mim", confessou Zetterberg. "É uma situação nova para o time todo, sabe?" É nova também para muitos torcedores dos Wings. Nasquatro últimas vezes que o Detroit chegou às finais, o time levantou a Copa Stanley. Ficamos acostumados a isso. Em Detroit, ou ganhamos ou somos eliminados logo de cara. Mas no jogo 7? Em casa? Por um gol de diferença? Isso é frágil demais para se deixar cair no chão, raro demais para se dar de graça.

Os jogadores deram de ombros ao dizer adeus na sexta-feira. Mas, agora, quando não há treino, não há imprensa, não há nada além de memórias, a dor de sexta-feira transforma-se na incômoda dor de cabeça do verão setentrional. Porque chegar perto assim é virtualmente tão raro quanto ganhar o título. "Voltaremos no ano que vem", insistiam diversos jogadores dos Wings, e esperamos que seja verdade. Mas há um motivo para tão poucos times sejam bicampeões na NHL, ou mesmo finalistas consecutivos. É a pós-temporada mais difícil entre os esportes norte-americanos. E ser grande não é garantia de nada.

O San Jose foi grande. Veja como eles foram eliminados cedo. O Anaheim foi grande. Saiu na segunda fase. Os Wings foram grandes, e ratificaram isso no começo destas finais. Mas os Penguins ficaram maiores ainda debaixo de nossos olhos, e, quanto mais a série ia longe, melhor sua defesa jogava e mais eles acreditavam em si. De pouco importou o espancamento por 5-0 no jogo 5. Os Penguins cometeram um montão de penalidades estúpidas e pagaram por isso. Olhando para trás, talvez tenhamos dado crédito demais aos Wings por tal vitória. O fato é que o Pittsburgh venceu os então campeões quatro vezes em cinco jogos. E os Wings marcaram seis gols nessas quatro derrotas.

Cinco jogos, quatro derrotas, seis gols. Esses números contam boa parte da história. O resto é contado pelos momentos. Como a disparada de Dan Cleary que ele não conseguiu converter. Como o gol do Pittsburgh em desvantagem numérica no jogo 4 virou a maré. Como Niklas Kronwall acertou o travessão na sexta-feira e o sentido erro de Brad Stuart ao lado de seu gol fez os Penguins abrir o placar e tirar o ar da Joe Louis Arena.

Enquanto o relógio aproximava-se da meia-noite, Stuart, também vestindo um terno escuro, encostou-se em uma parede do vestiário, com a voz ainda mais macia que o normal: "Eu deveria ter optado pela jogada mais segura. O disco bateu em um patim ou caneleira. Foi culpa minha. Se eu pudesse tentar de novo, eu tentaria." Perguntaram a ele se este seria um longo verão. "Não, um verão curto." Ele pausou. "E, de alguma maneira, um verão longo."

O topo da montanha foi-lhe negado.

Agora, os Wings merecem aplauso. Eles seguraram Anaheim, Chicago, Sidney Crosby, superaram contusões, fadiga, um mau calendário e o fardo de um campeão — tudo para chegar a centímetros da Copa. Chris Osgood — que perdeu o título, o Conn Smythe e o direito de calar os que duvidam de suas credenciais para o Hall da Fama, tudo isso em uma noite em que ele jogou bem! — deve ser celebrado, assim como Zetterberg, Helm, Ericsson e tantos outros.

Mike Babcock disse que seu time jogou com raça, mas nunca alcançou seu potencial nestes sete jogos. "Com as contusões", disse ele, "não acho que tenhamos conseguido isso nas finais." Talvez não. Talvez os Wings sejam melhores do que foram nas finais, com perdas de disco pouco características e jejuns de gols de Marián Hossa, Nicklas Lidström, Pavel Datsyuk, Jiri Hudler e Tomas Holmström. Mas quando se tem um sexto e um sétimo jogos para decidir o título, tem-se que agarrar a chance — com ou sem força total. É só perguntar para o time de cestobol de Detroit como eles se sentiram ao chegar tão perto do bi nas finais de 2005; eles também tinham motivos para explicar a derrota.

Mas não voltaram às finais de sua respectiva liga desde então.

O topo da montanha foi-lhes negado. A frustração mais enlouquecedora de sexta-feira será sentida quando os Wings derem início à pré-temporada em setembro e perceberem que estão de volta à estaca zero junto com todos os outros times. Se você quiser dizer obrigado, faça-o. Se quiser agradecer aos grandes jogadores do Detroit, faça-o. Se quiser ter classe e admitir que o Pittsburgh derrotou os Wings em seu próprio jogo — defesa e oportunismo —, faça-o. Mas você não poderá negar que dói ficar sem barba, sem patins e sem a Copa. A vista do topo foi-se. E, o que é pior, a vista do quase topo também foi-se. Tudo o que sobrou são as coisas bonitas que se fala aos jogadores em roupas civis que acenam polidamente, mas prefeririam que não tivessem de ouvi-las.

Mitch Albom é colunista do jornal Detroit Free Press. O artigo original foi traduzido por Alexandre Giesbrecht.
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Página publicada em 16 de junho de 2009.