Por: Marcelo Constantino

Algo que anda em voga ultimamente é uma frase feita do tipo “não me diga o que eu não posso fazer”. O personagem John Locke, da novela Lost, já repetiu isso algumas vezes. Na mesma novela, se não me engano, outros personagens já disseram isso.

O Pittsburgh Penguins encarnou exatamente isso nas finais da Copa Stanley de 2009. Não diga aos Penguins o que eles não podem fazer.

Não diga a eles que eles não têm como vencer quatro vezes o Detroit Red Wings em cinco jogos. Não diga a eles que eles não têm como se equiparar à profundidade do Detroit. Não diga a eles que um time que sai perdendo por 2-0 numa série raramente reage. Não diga a eles que eles não têm mais chances depois de levar uma goleada de 5-0 no jogo 5. Não diga a eles que eles não têm como não tremer sob pressão num jogo 7 de final de Copa jogando na Joe Louis Arena, onde ainda não haviam vencido nesses playoffs. Não diga a eles que eles não têm experiência suficiente para isso. Não diga a eles que eles não podem vencer o Detroit sem Sidney Crosby. E não diga a eles para não tocar o troféu de campeão da conferência.

Porque tudo isso que eles supostamente não teriam como (ou não deveriam) fazer, eles fizeram. E venceram. Eles foram melhores desde o começo e conseguiram suportar a pressão final no jogo 7. Eles venceram quatro dos últimos cinco jogos das finais. Mesmo levando aquela sova no jogo 5, eles retomaram as rédeas da série no jogo seguinte para nunca mais largá-las.

O derradeiro e ansiosamente aguardado jogo 7 da final da Copa Stanley de 2009 foi muito parecido com o jogo anterior, o jogo 6. O placar foi o mesmo, 2-1 para os Penguins. As grandes estrelas de cada lado não marcaram. Os responsáveis pelos gols foram jogadores das linhas mais baixas. Não houve gols de times especiais — times especiais não fizeram qualquer diferença. Os goleiros dos dois times brilharam. Os Pens marcaram os dois primeiros gols, sofreram o gol de desconto no terceiro período e sobreviveram à pressão final do Detroit. E, tendo feito isso duas vezes, sagraram-se campeões.

Esse Pittsburgh Penguins é daqueles times que jamais se entrega numa série. Eles até podem entregar um jogo — como fizeram no jogo 5 —, mas nunca a série. Já fora assim na final do ano passado, mas ali os Pens não conseguiram. Agora chegou a vez deles. O prêmio pela incessante batalha, pela qualidade técnica e por saber domar o adversário favorito.

Campeões com absoluta autoridade, porque, além de melhores, eles venceram detonando com falsas premissas e predições, e venceram com características habitualmente atribuídas ao Detroit.

Marc-André Fleury amarelava em Detroit e, portanto, num jogo 7 de final de Copa Stanley o jovem goleiro naturalmente tremeria nas bases? Fleury virou uma rocha quase intransponível no jogo decisivo, levando apenas um gol, salvando vários outros e salvando sobretudo o último chute do jogo, a última chance do adversário – e era uma chance real de gol —, no último segundo do jogo.

O Detroit é famoso por conseguir recrutar grandes valores nas rodadas mais baixas (Henrik Zetterberg, Pavel Datsyuk etc.)? Quem brilhou no jogo 7 da final foi Maxime Talbot, recrutado pelos Penguins na oitava rodada de 2002. Quem salvara os Penguins no jogo 6 fora Rob Scuderi, um defensor subvalorizado que jogou como um leão quando a hora apertou..

Até as finais o Detroit vinha vencendo mesmo sem Datsyuk (física ou produtivamente falando)? Isso não durou muito, Dats teve de voltar logo, porque as coisas estavam ficando feias. As estrelas dos Penguins são mais importantes para o time do que as estrelas do Detroit? Os Pens venceram o jogo 7 mesmo sem Crosby, contundido desde o segundo período da partida.

O estilo de jogo defensivo do Detroit limita as ações e frustra os atacantes adversários? Foi exatamente isso que os Penguins fizeram nos dois últimos jogos das finais, e com muito mais competência. Simplesmente não deram espaços aos Wings. E, quando havia algum — geralmente para disparar de longe — geralmente havia algum Penguin para bloquear o chute. Lidstrom, Rafalski, Stuart e Kronwall? Não, bastam os menos badalados Gonchar, Letang e Scuderi.

Sim, eles puderam, e eles venceram. Eles foram os melhores.

Marcelo Constantino está de volta ao normal: barba feita, cabelo cortado e sem dias presos na semana por conta de jogos da NHL.

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Página publicada em 16 de junho de 2009.