Por: Mitch Albom

Os seis últimos minutos poderiam ter arrancado as suas entranhas. A torcida de pé, esgotando suas cordas vocais. Os Red Wings pressionando, seus pulmões queimando, enquanto perseguiam a única coisa que importava. Um gol. Um gol. Um gol poderia redimir a noite inteira e fazer do desespero esperança , mudar o destino, dar continuidade à programação de uma parada comemorativa. A música disparava nos intervalos: “I want it all, and I want it now!” (Em português: "Eu quero tudo, e eu quero agora!")

Então Niklas Kronwall chutou e acertou o travessão! O estádio inteiro gemeu! Valtteri Filppula chutou! Marc-André Fleury defendeu. Os Wings tiraram seu goleiro. Eles perseguiram e perseguiram. Trinta segundos. Vinte segundos. Seis segundos. O disco veio de um rebote e houve um último chute, bem de perto, Nicklas Lidström chamou para si a responsabilidade e disparou e Fleury mergulhou no ar enquanto os torcedores deram um último grito coletivo.

E então...

E então, momentos depois, tudo ficou silencioso. No túnel. Nas arquibancadas. No deprimido vestiário. Silencioso como se o diabo pudesse ouvir você cochichar e deixar a situação ainda pior. Silencioso como não se espera em um jogo 7 para determinar quem fica com a Copa Stanley. Mas é o silêncio que se tem quando o time da casa vê o troféu escapar. O silêncio é que se tem quando se é Lidström, que viu aquele último chute ser bloqueado por Fleury. O silêncio é o que se tem quando se é Marián Hossa, que assistiu ao outro time comemorando no ano passado e teve de fazê-lo de novo na sexta-feira, com os uniformes invertidos. O silêncio é o que sobra a você em uma noite para se esquecer de uma série para se lembrar. "Tivemos nossas chances", disse Lidström à emissora de televisão NBC depois da derrota por 2-1 no jogo 7. "Mas eles jogaram muito bem."

Silêncio.

Ora, mas havia muito barulho no começo, um barulho ensurdecedor na Joe Louis Arena. Os Wings começaram com energia transbordando como mostarda de cachorro quente. Eles deram trancos em todo mundo. Eles chutaram de todos os lugares. Mas na metade do primeiro período tal energia parecia ter sido esgotada, da mesma maneira que a neblina se esvai de cima do oceano pela manhã. E tudo que sobrou foram as profundezas.

E ficou mais profundo.

Mais profundo, quando Maxime Talbot marcou o primeiro gol, em um disco perdido de maneira lastimável por Brad Stuart ao lado do gol dos Wings. Mais profundo, quando Talbot marcou outro gol em uma disparada de dois-contra-um, fazendo 2-0. Mais profundo, quando Fleury subitamente transformou-se em uma parede. Mais profundo, enquanto o tempo passava e os Wings ainda não tinham marcado. Jonathan Ericsson deu vida ao estádio com um gol a pouco mais de seis minutos do final.

Mas não era para ser. E quando a sirene finalmente tocou e as luzes azuis se acenderam, os Penguins pularam em uma grande pilha para comemorar e fizeram-no aqui, como os Wings tinham feito em Pittsburgh no ano passado. “Isto é um sonho", revelou Talbot à emissora de TV canadense CBC. A Copa vai para o leste.

Levante a cabeça, torcedor do Detroit. Não reclame. Os Red Wings, que chegaram a esta vencendo a série por 2-0 e por 3-2, perderam as duas últimas chances de conquistar a Copa Stanley. Não foi um golpe de sorte. Não foi um maldito quique ou um ricochete assombrado. Os Penguins foram o melhor time naquela noite. Sua defesa foi melhor. Seu ataque foi melhor. Sua pressão foi melhor. E sua proteção do disco foi melhor. As chances de se vencer quando se perde aquela coisinha de borracha 11 vezes a mais que o outro cara não são boas, e foi isso que os Wings fizeram. Por isso, eles não podem reclamar. Eles estavam em casa. Eles tiveram três dias de descanso. Eles tiveram mais vantagens numéricas e mais chutes a gol. E — como se o resto não fosse o bastante — Sidney Crosby não jogou metade do jogo por causa de uma contusão. Diga a verdade: os Wings pareciam desconfortáveis. Eles não viram suas estrelas marcar gols. Foi perfeito que Lidström tenha sido parado no último chute. Ele não marcou gol algum na série. Nem Tomas Holmström. Nem Pavel Datsyuk em seus três jogos.

Defesa é importante. Jogadores raçudos são importantes. Goleiros são importantes. Mas o que vale no placar são gols. E aos Wings faltou um para empatar, dois para vencer. Tire seu chapéu para os Penguins. Eles fizeram o que nenhum outro time conseguiu em 38 anos: ganhar um jogo 7 fora de casa para ficar com a Copa. Eles deveriam ser mais jovens, menos experientes e menos talentosos no geral. Ninguém avisou isso a eles. "Não conseguimos", disse o atacante Kirk Maltby, dos Wings. “Voltaremos no ano que vem.”

Esperamos que sim. E agradecemos ao time por uma primavera setentrional emocionante. Mas sexta-feira foi uma noite para se esquecer em uma série para se lembrar. E por aqui o dia está terrivelmente silencioso.

Mitch Albom é colunista do jornal Detroit Free Press. O artigo original foi traduzido por Alexandre Giesbrecht.
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Página publicada em 16 de junho de 2009.