Com um tranco traiçoeiro
por trás, Claude
Lemieux quase esmagou
o rosto de Kris
Draper nas bordas do
rinque da McNichols
Sports Arena. De nada
adiantou a indignação
do Wing Dino Ciccarelli.
O Detroit perdeu
aquele jogo por 4-1, e o
Colorado avançou às
finais da Copa Stanley.
Calma, esta não é mais
uma matéria sobre o
Banho de Sangue!
O fato que você acaba
de (re)ler abre este artigo por causa de
uma outra relevância: o Detroit foi o último
dos Seis Originais vivo nas finais
de conferência da temporada de 1995-96. Aquela foi a última ocasião onde os
Seis Originais classificaram-se todos
para a pós-temporada.
Os Wings foram justamente os líderes
no Oeste e os vencedores do Troféu
dos Presidentes. Avaçaram até as
finais de conferência, quando perderam
para o Colorado, num jogo que, como
todos sabemos, ainda ia dar muito o
que falar. O Chicago foi o terceiro.
Varreu o Calgary na primeira rodada,
mas em seguida foi eliminado também
pelo Colorado. E o Toronto, que ainda
jogava pelo Oeste, parou nos Blues
ainda na primeira rodada.
No Leste, dois dos Seis Originais
enfrentaram-se logo na abertura da
pós-temporada: os Rangers tiraram o
Montreal. O outro, o Boston, perdeu
para a grande sensação daquele ano,
o Florida Panthers. Era um tempo em
que a liga tinha 26 times e apenas quatro
assimétricas divisões. Depois disso,
a temporada que teve o maior número
de Seis Originais classificados foi a
de 2001-02, quando cinco entre os seis
avançaram. Apenas os Rangers ficaram
de fora. Tivemos um Original em cada
final de conferência. Mas, enquanto o
Detroit passou pelo Colorado no Oeste,
seguindo para ganhar a Copa, o Toronto
não passou pelo Carolina.
A última vez que uma Copa foi decidida
entre dois Originais foi em 1979,
quando os Canadiens derrotaram os
Rangers. De lá para cá ocorreram 28
decisões de Copa Stanley. Em 16 delas
não havia nenhum Original presente.
Os Originais ganharam sete das 12
finais em que tinham um representante.
Nesse período, apenas Wings,
Canadiens e Rangers venceram Copas.
Leafs, Bruins e Blackhawks não
ganham nada há décadas. O Toronto,
aliás, não sabe nem o que é vencer
uma conferência. Sua última final de
Copa Stanley aconteceu junto com seu último título, em 1967, justamente a última temporada pré-expansão.
As expansões sempre foram muito
criticadas em TheSlot.com.br, já desde
a primeira edição da revista. Com o
excesso de expansões após 1967, a liga
foi inflando e as franquias chamadas "originais" foram cada vez mais perdendo
espaço. Por pouco esta lista de
times que não ganham Copas, citada
no parágrafo acima, não foi engordada
pelos Rangers, que conseguiram
acabar com seu jejum de 54 anos sem
títulos ao vencer a Copa em 1994. Àquela altura, o Detroit também
vivia um jejum de décadas, sendo
o Montreal a única equipe Original
que vinha bem antes das expansões e
continuou muito bem mesmo depois
delas — apesar de, logo no princípio,
Boston e Chicago terem conseguido
ganhar seus títulos.
Dizer aqui que, com a quantidade de
clubes hoje em dia, os Originais perderam espaço na liga é falar o óbvio. Mas
a culpa disso também não é de quem
chega, até porque as expansões não
foram tão maléficas à liga — muito
pelo contrário. A princípio as expansões
agregavam novos valores à NHL.
Quem consegue imaginá-la sem Oilers
ou Islanders? Ou mesmo sem Canucks
ou Sabres, dois times que nunca conquistaram
a Copa, mas sempre contribuíram
para aumento de rivalidades
e o equilíbrio da tabela? O problema
foi o excesso de expansões e a colocação
de dois times na Flórida e um na
Califórnia, por exemplo.
Mas não podemos simplesmente dizer
que o fato de Leafs, Hawks e Bruins
não ganharem nada há um bom tempo
seja culpa dos Bolts ou dos Panthers. É
claro que um pouco de planejamento
e organização resolvem o problema.
Basta contrastar o Detroit e o Toronto.
O primeiro voltou a conquistar Copas
em 1997 e manteve-se no topo como a
principal franquia da liga nos últimos
13 anos, vencendo também seis Troféus
dos Presidentes. Já os Leafs conquistaram
apenas a Divisão Nordeste.
Ou seja, nada. O Montreal manteve-se
forte até ganhar sua última Copa em
1993. E até meados da década de 90
Chicago e Boston ainda mantinham
times fortes e brigavam por títulos.
O motivo por que esses fatos vêm
à tona agora é que, no presente momento,
cinco entre os Seis Originais
estariam classificados para a pós-temporada.
Bruins e Red Wings já
têm vaga garantida. O Chicago ainda
não tem, mas está próximo. Rangers e
Canadiens ocupam, respectivamente,
a sétima e a oitava posições no Leste e,
no momento, estão sendo ameaçados
apenas pelos Panthers — a briga no
Leste não está tão acirrada quanto
no Oeste. A última vez que a NHL viu
esse fato foi em 2002, quando apenas os
Rangers ficaram de fora dos playoffs.
Quem ficaria de fora desta vez, caso
os três já citados confirmem suas vagas
junto aos dois já classificados,
seria apenas o Toronto — que ainda
tem chances matemáticas,
mas
tão pequenas que
preferimos nem
considerá-las.
E quem se importa
com isso?
Que diferença
faria ter esses
cinco (ou seis...)
entre os finalistas? Pois bem. Se tiver
se feito essa pergunta acima, seria
melhor que você fosse com o cursor
do mouse no X do canto direito superior
da tela (ou na bolinha vermelha
do canto superior esquerdo, caso use
sistema operacional da Apple) e feche
esta janela. Afinal, você não se importa
com hóquei no gelo, mas apenas
com o time por que torce. Principalmente
pelos confrontos que a tabela
no Leste proporcionaria atualmente.
Caso a liga terminasse com a tabela
exatamente com essa formatação, teríamos
logo na primeira rodada dois
belos confrontos, envolvendo duas
grandes rivalidades, ambos repetindo
a pós-temporada passada.
O primeiro deles seria Canadiens
contra Bruins, uma das maiores (senão
a maior) rivalidades da NHL. A
série de 2008 entre as duas franquias
teve sete jogos, com os Canadiens chegando
a abrir 3-1 e uma forte reação
dos Bruins em seguida. O jogo 6, vitória
dos Bruins por 5-4, foi sensacional.
Os Canadiens saíram vencedores do
confronto no geral após fechar o jogo
sete em casa com um shutout: 5-0.
Montreal e Boston é um confronto
histórico, e oito Copas Stanley já foram
decididas no embate, com larga
vantagem dos Canadiens, vencedor
em sete delas — uma final que hoje
em dia não é mais possível, devido à
formatação de conferências.
Já Rangers e Devils dividem uma
rivalidade geográfica, devido à supremacia
que a cidade de Nova York
exerce sobre o estado de New Jersey.
Os Rangers venceram a série do ano
passado por 4-1, e no jogo 3, vencido
pelos Devils na prorrogação, tivemos o
curioso incidente da tentativa de Sean
Avery de bloquear a visão do goleiro
Martin Brodeur, o que deu origem à
Regra Avery. Com o recordista Brodeur
de volta e, agora, os Devils por
cima dos Rangers, sem dúvida este
seria um caso em que o New Jersey
faria de tudo para se vingar do resultado
da série da temporada passada. E
que fã de um bom jogo de hóquei não
gostaria de ver isso?
Pergunto-me quando teremos os Seis
Originais de volta entre os finalistas.
Com cinco deles se classificando neste
ano e Brian Burke organizando os Leafs,
acredito que isso pode acontecer
mais rápido do que se espera — quem
sabe, já na próxima temporada...
Arquivo TheSlot.com.br Quando éramos seis: os Leafs recebem os Canadiens... |
AP |
AP ... enquanto o Chicago enfrenta o Detroit. Quando veremos mais imagens dessas coloridas? |