O nível de babaquice do movimento
politicamente
correto já alcança níveis
extraordinários: vejam
que a comemoração de Alex Ovechkin
ao marcar seu 50.º gol na temporada
(eis a "polêmica" comemoração: ele
apenas colocou o taco no gelo e simulou
estar aquecendo suas mãos sobre o
imaginário taco quente, pegando fogo)
inovou o padrão da NHL. Para quê?
Abutres do esporte — e também
alguns bem-intencionados, porém entorpecidos
pelo burlesco mal do movimento
politicamente correto — logo
começaram a questionar se aquilo não
seria um insulto ao espírito esportivo. "Ele passou dos limites." Limites de
quê? Chega a ser inacreditável,
mas esse tipo de palhaçada rende
hoje em dia. Até eu estou dedicando
este espaço para tanto. Veja bem,
Ovechkin não foi gozar da cara dos
adversários. Sequer olhou para ou
fez menção a eles. Sequer olhou
para a torcida. Não fez cara de
mau, não gritou, não correu pelo gelo,
não fez sinais para quem quer que seja.
Foi apenas um gesto inovador, particular
dele. É como o jogador olhar para
cima e agradecer aos céus (isso também
seria inovador na NHL de hoje) depois
de marcar um gol. Mas já foi o suficiente
pra esse bando reclamar.
A palhaçada na verdade começou
com o folclórico Don Cherry, semanas
antes. Sem ter algo mais útil para fazer
na vida, ou sem notícias para aparecer,
ou já acometido por problemas mentais
da velhice, ele decidiu pegar no pé das
comemorações do Ovechkin. Provavelmente
também frustrado de ver que o
canadense Sidney Crosby (Cherry é
tido como um porta-voz dos canadenses
e americanos nessa história de América
do Norte x Europa no hóquei), mes-
mo com toda a propaganda na mídia
local, está abaixo de seu grande rival
Ovechkin, Cherry lançou a bomba de
que as comemorações do craque russo
estavam, digamos, fora do padrão do
espírito esportivo da NHL.
Até aí, vá lá. É a opinião de uma figura
folclórica, não é para se levar a sério.
O problema é que a babaquice recebeu
eco na mídia. E, plantada a semente,
logo vieram os abutres para cima da
carniça. Rick Tocchet, técnico do Tampa
Bay Lightning — time que tomou o
50.º gol de Ovechkin — disse que a tal "polêmica" comemoração não é algo de
que goste. "É difícil ver isso no nosso
estádio. Ele é um grande jogador, mas
caiu no meu conceito depois disso."
O próprio técnico do Washington
Capitals, Bruce Boudreau, disse que
conversaria com Ovechkin depois do
jogo. Conversar o quê? "Olhe, Ovechkin,
não comemore o gol assim,
não. Faça como todos os outros fazem:
sorria, feche os punhos, receba
cumprimentos e pronto." Seria isso?
Breve teremos um manual com regras
de etiqueta ao marcar gols na NHL.
Cheguei a ler que arautos da imbecilidade
cogitaram a idéia de se criar
penalidades para comemorações! É
grotesco, mas faz todo sentido, diante
do carnaval de patetices atual.
O próximo passo deverá ser pedir aos
jogadores para que não comemorem
mais os gols marcados. O citado Manual
de Etiqueta ao Marcar Gols (com
maiúsculas fica mais sério) dirá: "Ao
marcar um gol, o jogador deve abaixar
sua cabeça e dirigir-se normalmente
ao banco de reservas ou ao seu campo
defensivo. Celebrações, ainda que contidas,
devem ser evitadas. No máximo,
o jogador poderá receber os cumprimentos
de seus companheiros." Soa
patético? Os abutres, no fundo, devem
adorar. Depois disso, por fim, a orientação
deverá ser para que os jogadores
peçam desculpas ao marcar gols. A vitória
final da babaquice.
Marcelo Constantino também quer ser excomungado pelo Arcebispo de Olinda.