Por: Marcelo Constantino

O nível de babaquice do movimento politicamente correto já alcança níveis extraordinários: vejam que a comemoração de Alex Ovechkin ao marcar seu 50.º gol na temporada (eis a "polêmica" comemoração: ele apenas colocou o taco no gelo e simulou estar aquecendo suas mãos sobre o imaginário taco quente, pegando fogo) inovou o padrão da NHL. Para quê?

Abutres do esporte — e também alguns bem-intencionados, porém entorpecidos pelo burlesco mal do movimento politicamente correto — logo começaram a questionar se aquilo não seria um insulto ao espírito esportivo. "Ele passou dos limites." Limites de quê? Chega a ser inacreditável, mas esse tipo de palhaçada rende hoje em dia. Até eu estou dedicando este espaço para tanto. Veja bem, Ovechkin não foi gozar da cara dos adversários. Sequer olhou para ou fez menção a eles. Sequer olhou para a torcida. Não fez cara de mau, não gritou, não correu pelo gelo, não fez sinais para quem quer que seja. Foi apenas um gesto inovador, particular dele. É como o jogador olhar para cima e agradecer aos céus (isso também seria inovador na NHL de hoje) depois de marcar um gol. Mas já foi o suficiente pra esse bando reclamar.

A palhaçada na verdade começou com o folclórico Don Cherry, semanas antes. Sem ter algo mais útil para fazer na vida, ou sem notícias para aparecer, ou já acometido por problemas mentais da velhice, ele decidiu pegar no pé das comemorações do Ovechkin. Provavelmente também frustrado de ver que o canadense Sidney Crosby (Cherry é tido como um porta-voz dos canadenses e americanos nessa história de América do Norte x Europa no hóquei), mes- mo com toda a propaganda na mídia local, está abaixo de seu grande rival Ovechkin, Cherry lançou a bomba de que as comemorações do craque russo estavam, digamos, fora do padrão do espírito esportivo da NHL.

Até aí, vá lá. É a opinião de uma figura folclórica, não é para se levar a sério. O problema é que a babaquice recebeu eco na mídia. E, plantada a semente, logo vieram os abutres para cima da carniça. Rick Tocchet, técnico do Tampa Bay Lightning — time que tomou o 50.º gol de Ovechkin — disse que a tal "polêmica" comemoração não é algo de que goste. "É difícil ver isso no nosso estádio. Ele é um grande jogador, mas caiu no meu conceito depois disso."

O próprio técnico do Washington Capitals, Bruce Boudreau, disse que conversaria com Ovechkin depois do jogo. Conversar o quê? "Olhe, Ovechkin, não comemore o gol assim, não. Faça como todos os outros fazem: sorria, feche os punhos, receba cumprimentos e pronto." Seria isso? Breve teremos um manual com regras de etiqueta ao marcar gols na NHL. Cheguei a ler que arautos da imbecilidade cogitaram a idéia de se criar penalidades para comemorações! É grotesco, mas faz todo sentido, diante do carnaval de patetices atual.

O próximo passo deverá ser pedir aos jogadores para que não comemorem mais os gols marcados. O citado Manual de Etiqueta ao Marcar Gols (com maiúsculas fica mais sério) dirá: "Ao marcar um gol, o jogador deve abaixar sua cabeça e dirigir-se normalmente ao banco de reservas ou ao seu campo defensivo. Celebrações, ainda que contidas, devem ser evitadas. No máximo, o jogador poderá receber os cumprimentos de seus companheiros." Soa patético? Os abutres, no fundo, devem adorar. Depois disso, por fim, a orientação deverá ser para que os jogadores peçam desculpas ao marcar gols. A vitória final da babaquice.

Marcelo Constantino também quer ser excomungado pelo Arcebispo de Olinda.

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Página publicada em 25 de março de 2009.