Por: Alexandre Giesbrecht

Lembro-me da primeira página do jornal Columbus Dispatch de 19 de abril de 2006. Os Blue Jackets tinham vencido os Stars no dia anterior por 5-4 na prorrogação, encerrando uma campanha de 26-18-3 pós-Natal, fato a se comemorar por aquelas bandas, especialmente depois de o time ter conseguido apenas nove vitórias nos 35 jogos iniciais. Ou seja, com a campanha total em 2005-06, é óbvio que o time não foi aos playoffs. Mas a reta final daquele ano, se não valeu grande coisa para o Columbus, serviu para dar esperança à torcida, tanto é que o subtítulo da chamada de capa do Dispatch daquele dia foi "Torcedores podem sonhar com os playoffs em 2007". Talvez essa frase possa ser considerada correta, afinal até agora, em 2009, playoffs para os Jackets só em sonho, mesmo. Isso pode mudar em alguns dias, tanto é que o embate entre Jackets e Flames em Columbus está sendo tratado em Ohio como "possível prévia do confronto na primeira fase". O ineditismo dessa frase em tal região à parte, por lá já contam a classificação para os playoffs como favas contadas. É compreensível, dada a grande diferença para o nono colocado, e ainda bem que a história do clube ainda é curta demais para registrar um padrão de fracassos homéricos, mas, considerando-se que o Columbus é o dono da pior equipe de vantagem numérica de toda a liga, eu esperaria um pouco mais para dar a vaga como garantida. Em partidas decicidas por um gol de diferença, a campanha dos Jackets é de 18-13, e nessas mesmas partidas a produtividade (deveria eu cercar de aspas essa palavra?) do time ficou ligeiramente abaixo de 8,5%. Não estou nem tentando defender a tese de que talvez eles estivessem brigando por mando de gelo caso sua vantagem numérica fosse ao menos maior que os juros anuais da poupança. O que quero dizer é que ainda dá para cair na tabela, mesmo que não seja para fora do G-8, e nenhum time vai querer pegar Detroit ou San Jose logo de cara. Especialmente com uma vantagem numérica tão inofensiva.


Acabaram de lançar em Boston o DVD A História dos Bruins. No evento em um Hard Rock Cafe, estiveram presentes representantes de três gerações diferentes de jogadores: Gord Kluzak, Cam Neely e Milan Lucic. Já aqui no Brasil não existe um único DVD histórico sobre qualquer time de futebol. As poucas opções disponíveis são de conquistas razoavelmente recentes, como os DVDs lançados pelo São Paulo depois de cada um de seus três últimos títulos brasileiros ou o DVD que o Internacional lançou em conjunto com a revista Placar sobre a conquista da Libertadores de 2006. Enquanto isso, não é difícil achar camelôs com um respeitável acervo de DVDs futebolísticos histórios feitos "em casa" a partir de antigas fitas VHS. Os clubes não se entendem com as emissoras quanto ao valor dos direitos autorais. E todos perdem.


Duas semanas atrás, os Panthers estavam na briga até pelo mando de gelo nos playoffs. Sete derrotas nos últimos oito jogos fizeram o time despencar na tabela. E, se ainda não precisa de binóculos para enxergar o oitavo colocado, também este já não está mais ao alcance das mãos. Escrevo um pouco mais tarde que meus colegas, então sei da virada que os Panthers tomaram em Buffalo na quarta-feira, depois de abrirem 3-1 já no terceiro período. Tal derrocada não costuma acontecer com quem marca um gol tão de sorte como foi o terceiro do Florida: Michael Frolik chutou e seu taco quebrou-se; mesmo assim, o disco bateu no taco do goleiro Mikael Tellqvist, subiu, sem conseguir ser alcançado por Brett McLean, bateu na luva do defensor Henrik Tallinder e foi para o gol. Se sobrou sorte nesse lance, o que faltou depois? Para o técnico Pete DeBoer, faltaram defesas do goleiro Tomas Vokoun. Um comentário estranho: não é hora de acusar o goleiro, ainda mais quando ele passou a temporada salvando a pele do time. Vai ser difícil eu convencer alguém de que não estou torcendo contra: se o Florida realmente não se classificar, terei acertado todos os meus palpites no Leste.


Já que estou falando da quarta-feira mesmo, que grande duelo de goleiros fizeram Marc-André Fleury, dos Penguins, e Miikka Kiprusoff, dos Flames! Kiprusoff é daqueles goleiros que não precisam fazer acrobacias para fechar o gol, e comprovou isso mais uma vez, fazendo parecer fáceis várias defesas que exigiriam cambalhotas e paradas de mão de outros goleiros. Já Fleury fez uma defesa espetacular no segundo período, quando Curtis Glencross recebeu o disco com o gol praticamente vazio e chutou de primeira. Fleury, que no lance fez sua sombra operar com um delay de dois segundos, atravessou a área e desviou o disco, que passou raspando a trave oposta. Curiosamente, no finzinho do jogo Matt Cooke, dos Penguins, também não teve sorte com o gol vazio. Kiprusoff não o estava defendendo, pois os Flames, perdendo por 2-0, tiraram- no para dar lugar a um atacante extra. Cooke recebeu de Sidney Crosby no topo do círculo esquerdo e, sem ninguém à sua frente, chutou longe do gol, o que causou risos no comentarista da transmissão da TSN. Apesar desse lance patético, não imagine que erros dos atacantes foram determinantes para as boas atuações de ambos os goleiros.


"É um sentimento terrível para mim." É assim que Marty Turco, goleiro dos Stars, descreveu a sensação de ser o responsável pela fraca campanha do time. Não que ele seja o verdadeiro culpado; as contusões que assolaram o time nesta temporada é que ocupam esse papel. O problema é que nessas condições um goleiro em excelente fase pode fazer a diferença, e as atuações de Turco não têm sido a oitava maravilha do mundo. De qualquer maneira, a atitude do arqueiro é rara. Uma coisa é você assumir a culpa quando efetivamente é você o responsável — digamos que ele tivesse tomado um frango no último minuto de um jogo perdido por 1-0 —; outra, mais difícil, é você assumir sua parcela de culpa em uma situação já difícil. Isso é uma das coisas que ajudam a construir a união de um time. Quando a situação melhorar, os colegas de Turco saberão que poderão contar com ele e que ele não fugirá da reta quando dos primeiros percalços.

Alexandre Giesbrecht, 32 anos, está ansioso por testar a portabilidade numérica, mas ainda não teve tempo de comparar preços.
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Página publicada em 25 de março de 2009.