Por: Thiago Leal

Não, não é o velho seriado médico, primo pobre do Plantão Médico (ou E.R.), apesar de também envolver uma morte por câncer e um doente terminal que vem se recuperando rapidamente. A esperança de Chicago está toda no velho índio guerreiro, para que recoloque a franquia de hóquei novamente entre o hall de campeões, tal qual o time de beisebol Chicago White Sox fez a quatro anos atrás.

O central Stan Mikita marca o terceiro gol do Chicago Blackhawks na noite. O placar ainda aumentaria. Mas foi esse gol de Mikita que garantiu ao Black Hawks, então grafado separadamente, a vitória por 6-2 no jogo 5 da Copa Stanley sobre o Detroit Red Wings. Como os Hawks também haviam vencido os jogos 1 e 2, contra vitórias do Detroit nos jogos 3 e 4, uma vitória no jogo 6 bastaria para que o título da Copa Stanley voltasse a Chicago 23 anos depois. Para um time que tinha no gol Glenn Hall, na defesa Pierre Pilote e no ataque Mikita e Bobby Hull, talvez a vitória na sexta partida não fosse assim tão difícil. E não foi: 5-1 para os Hawks. E finalmente veio a Copa Stanley novamente para Chicago.

O ano de 1961, assim como os anos anteriores, não vinha sendo dos melhores para o esporte na Cidade dos Ventos. A última Série Mundial que a cidade viu foi em 1917, com os Sox. Antes disso, só em 1908 com o Chicago Cubs. E o último Campeonato da NFL (na época não havia Super Bowl) conquistado pelo Chicago Bears foi a 15 anos atrás. No hóquei, nem dava para dizer que os Hawks eram favoritos, tamanha a superioridade do Montreal Canadiens e do Toronto Maple Leafs na temporada regular daquela liga de seis times. Foi nesse cenário que os Hawks acabaram por conquistar sua última Copa Stanley.

Uma nova oportunidade veio em 1992, mas ela foi varrida pelo Pittsburgh Penguins de Mario Lemieux, Ron Francis, Bryan Trottier e Jaromir Jagr. Um ano antes, um outro time, que não vou mencionar nome porque TheSlot.com.br só trata de esporte, não de rap/hip-hop, venceu o primeiro de seis campeonatos. Aquela franquia viria a se tornar o xodó da cidade, enquanto os times de hóquei, beisebol e futebol americano figuravam como coadjuvantes em suas ligas.

Já era um novo Chicago Blackhawks, agora com nome aglutinado. Depois do vice-campeonato de 1992, o time tornou a participar da pós-temporada em 1993, 1994, 1995, 1996 e 1997. Apenas em 1995 chegou à final de Conferência e, em 1996, à semi-final. Nas demais foi eliminado na primeira rodada. Em 1998, 1999, 2000, 2001, 2003, 2004, 2006, 2007 e 2008 nem à pós-temporada chegou. Nas últimas dez temporadas, o Chicago só disputou playoffs uma vez, em 2002, e mesmo assim foi eliminado na primeira rodada. Bill Wirtz, longo dono do time, era, em parte, responsabilizado pelo fracasso da equipe, até que veio a falecer de câncer em 2007.

Novamente Chicago
Se a culpa era ou não do velho Wirtz, não importa agora. Seu filho Rocky assumiu a franquia. E a primeira atitude de Rocky ao assumir o cargo foi mudar completamente a política de gestão de negócios de seu pai Bill. Primeiramente, Rocky resgatou a história, não apenas dos Hawks, mas da cidade de Chicago. A tradicional emissora de rádio AM WGN entrou em parceria com a franquia para transmitir os jogos de casa. John McDonough, antigo presidente do querido Chicago Cubs foi contratado como presidente, enquanto as lendas vivas Mikita e Hull foram chamados para reintegrar o time como "embaixadores" da empresa, uma excelente estratégia de marketing. Mas como hóquei se joga no rinque, dois jovens jogadores foram adicionados ao time: Jonathan Toews e Patrick Kane, respectivamente terceira escolha geral de 2006 e primeira escolha geral de 2007. Ambos foram finalistas do Troféu Calder de Calouro do Ano, que acabou ficando com Kane. Dois veteranos que não vinham funcionando foram trocados: Tuomo Ruutu e Martin Lapointe.

E o marketing continuou: o clube realizou pela primeira vez uma convenção de fãs, enquanto foi anunciado sua presença no novo Clássico de Inverno contra o Detroit Red Wings. A camisa #3 foi aposentada, em homenagem a dois grandes defensores da história da franquia: Pierre Pilote e Keith Magnuson.

A temporada 2008-09 não começou lá muito bem: em cinco jogos, uma vitória apenas. Os meses de outubro e novembro em geral viram uma franquia irregular que alternava vitórias e derrotas. Mas o que a franquia tinha de bom já estava devidamente identificado: Patrick Kane, Patrick Sharp, Martin Havlat, Duncan Keith, Brian Campbell e Jonathan Toews. E, claro, o gol, com Nikolai Khabibulin. O ataque era bastante preciso, ainda que não fosse exatamente o melhor da Liga. E a defesa era igualmente boa.

O sucesso começou a surgir em dezembro, com uma impressionante sequência de nove vitórias. No total foram dez em 12 jogos. Basicamente, foi o mês de dezembro quem fez toda diferença para o Chicago na temporada. O mês de janeiro tornou à campanha irregular, enquanto fevereiro foi apenas um pouco mais positivo. Os Hawks não conseguiram mais manter uma longa sequência de vitórias, chegando a um máximo de quatro. E o mês de março remete à campanha ruim de outubro — neste exato momento os Hawks acabam de perder dos Jackets na prorrogação e enfileirar cinco derrotas seguidas.

Mas é inegável a diferença que o time faz hoje em dia. A estratégia de marketing Mostre Sua Paixão vem enchendo o United Center, embora nem sempre tenha venda total de ingressos. A torcida tem se agradado mesmo em derrotas, e isso é devido a uma postura ofensiva e guerreira dos Hawks no gelo. Se Wayne Gretzky dizia que você perde 100% dos chutes que nunca chuta, parece que os Hawks não estão a fim de perder nenhum e sempre bombardeiam a rede adversária. Perdendo ou vencendo, esses caras vão passar dos 30 chutes por jogo, sempre. Mesmo no massacre sofrido durante o Clássico de Inverno, os Hawks mantiveram seu estilo de jogo, o que contribuiu para um grande espetáculo.

Keith, em particular, é o melhor jogador do time na atualidade: bloqueia chutes, pára os atacantes adversários com trancos, sobe ao ataque, chuta a gol e tem sucesso em boa parte desses chutes. É capitão alternativo, mas deveria ser o capitão principal do time. Quem melhor lidera a equipe no gelo é Keith, e não Toews, o atual capitão — que também é um ótimo jogador e tem feito grande papel.

Atualmente, o Chicago é o quarto colocado na Conferência Oeste e, certamente, vai voltar à pós-temporada. Como o Detroit está muito perto de confirmar o título na Divisão Central, certamente o quarto posto é o máximo que o Chicago vai alcançar. Na atual conjuntura, enfrentaria o Vancouver Canucks com mando de gelo na primeira rodada. Até agora Canucks e Blackhawks se enfrentaram três vezes com duas vitórias dos Hawks. Para ser sincero, os únicos times realmente superiores ao Chicago atualmente no Oeste são justamente aqueles que estão à sua frente: Red Wings e Sharks. Mesmo o Calgary Flames, terceiro colocado, não vejo como uma equipe párea para os Hawks — nos quatro confrontos ocorridos até agora foram quatro vitórias dos Blackhawks.

Se Bill Wirtz foi o responsável pelo fracasso dessa franquia, Rocky vem sendo a chave para seu sucesso. É mais um dos Seis Originais que se ergue para brigar feito grande na NHL.

Esta foi a segunda e última parte da matéria sobre os dois grandes que, por muito tempo, jogaram como pequenos na NHL: Boston Bruins e Chicago Blackhawks. Hoje, com esses dois times fortes, podemos dizer que estamos, de fato, vendo hóquei de verdade.

Thiago Leal está muito preocupado com sua cadela vira-lata, Yevgenya Motta Cianella Odara Atrapalhada, que está muito mal com alguma doença que os veterinários ainda não identificaram.
AP
Duncan Keith, melhor jogador do time, encara até o árbitro.
(15/03/2009)

Bruce Bennett/Getty Images
Patrick Kane: é ele quem grita mais alto no time.
(18/03/2009)

Al Bello/Getty Images
O capitão Jonathan Toews: trabalho até para Martin Brodeur.
(17/03/2009)
AP
Rocky Wirtz (à direita): consertando o que o seu pai quebrou.
(24/10/2007)
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Página publicada em 18 de março de 2009.