Por: Alexandre Giesbrecht

Acho incrível que, logo depois de Martin Brodeur conquistar seu recorde de vitórias, tantos torcedores tenham descido a lenha. Ouvi dizer que, se Patrick Roy tivesse jogado nos Devils, ele teria mais de 600 vitórias a esta altura e outras baboseiras do gênero. Para muita gente, um jogador só pode ser bom se seu principal "rival" for um desastre. Ou então o fato de um ser melhor que o outro significa que esse outro era horrível. É muito parecido com as asneiras que muitos torcedores vomitam a respeito de Alex Ovechkin e Sidney Crosby.

Por favor!

Um dos maiores argumentos falaciosos dessa discussão é que Brodeur se contundiu no começo desta temporada e o mediano Scott Clemmensen teve campanha de 25-13 e média de 2,39 gols contra atrás da defesa normalmente impecável dos Devils. Deve ser isso mesmo. E talvez as outras 14 temporadas espetaculares de Brodeur tenham sido uma mera coincidência, sorte de um principiante que já está com 36 anos. Um fogo de palha por 14 anos? Só se for alguma palha quimicamente tratada para ficar extremamente inflamável.

Outra falácia é quando falam que ele só chegou ao recorde porque atuou na esmagadora maioria dos jogos dos Devils desde que foi lançado no time de cima. Soa até como se fosse um ponto fraco. Mas, não: mostra que ele se manteve livre de contusões ao longo de toda a sua carreira (até 2008-09). Nesse ponto até concordo que parte é devido a sorte, só que Jim Carey, por exemplo, não sofreu nenhuma contusão grave. E qual é seu lugar na história?

Brodeur em outro time teria tornado esse time, qualquer que fosse, melhor. Ele talvez não seja o melhor goleiro de todos os tempos, mas é o melhor que eu vi jogar. Nenhum outro goleiro me inspirou tanto respeito nas quase duas décadas que acompanho o esporte. Ele teve um belo esquema defensivo à sua frente durante praticamente todas as temporadas que disputou, mas não podemos nos esquecer de que ele é parte importante desse esquema. Ponha Clint Malarchuk no lugar dele desde 1993, e os Devils não têm três Copas no currículo. Simples assim.


Talvez a sequência invicta em casa dos Canucks não tenha vindo na melhor das horas. O time vai se classificar para os playoffs até com antecedência, mas a própria sequência de derrotas que antecedeu a atual preocupa, porque dá a impressão de que o time atingiu seu auge agora, pouco menos de um mês antes dos playoffs. Se eles conseguirem manter o embalo até o final da temporada regular, serão um time encardido para se enfrentar no mata-mata. Mas se essa boa fase se encerrar poderemos ver uma eliminação precoce ainda que eles não peguem as duas potências do Oeste logo de cara.

Enquanto isso, em Chicago, os Blackhawks encontraram uma péssima hora para cair de produção. É bom estancarem o sangramento logo, porque por enquanto o maior problema é ter de pegar os próprios Canucks sem o mando de gelo na primeira fase, mas uma queda mais longa pode significar encarar Detroit ou San Jose ainda em meados de abril.


Outra sequência interessante foi a de seis vitórias seguidas dos Thrashers, recorde na história da franquia. Justamente quando o time deveria começar a cair de produção por enfrentar quem está brigando de verdade pelos playoffs — o elenco do Atlanta vai estar jogando golfe em abril. Dessas seis vitórias, apenas uma foi contra um time que não briga por uma vaga e duas foram contra equipes praticamente garantidas, mas que já estão se preparando para quando os jogos forem para valer.

Os Thrashers são um dos dois únicos times na liga que não têm pelo menos 50% de aproveitamento em casa. Um pouco mais de sorte (ou competência) nas partidas em casa, e talvez o time pudesse ao menos sonhar com uma vaga, ao invés de ter como único incentivo a possibilidade de estragar a festa de outrém. Afinal, até os lamentáveis Islanders têm mais de 50% em casa.


Não deixa de ser curioso que os Sharks tenham garantido o título do Pacífico com uma derrota. É claro que o fator determinante foi a derrota dos Stars em Vancouver, mas perder para o lanterna da divisão é surpreendente para um time que sofreu apenas outras 13 derrotas no tempo normal ao longo desta temporada.

A antecipação dessa vaga serve para testar o San Jose. Seus jogos a partir de agora pouco valerão. O único ponto de interrogação é saber se ele vai alcançar o Detroit no topo do Oeste. Com três pontos e dois jogos a menos, é uma tarefa que pode servir para manter o interesse do elenco até o fim da temporada regular. Seguir em velocidade de cruzeiro é a receita certa para entrar nos playoffs em ritmo de soneca contra um adversário que já estará jogando em ritmo de playoffs desde algumas semanas antes.

Alexandre Giesbrecht, publicitário, agora lamenta o fim do Seattle Post-Intelligencer.
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Página publicada em 18 de março de 2009.