Por: Bill Meltzer

O sonho de reunir os maiores clubes da Europa em uma competição de alto nível data de 43 anos atrás, com a primeira edição da antiga Copa Européia. Cada uma das ligas predecessoras à atual Champions Hockey League (CHL) teve o seu momento na história do hóquei mundial, como também foi palco para algumas partidas memoráveis no decorrer dos anos.

Ato I: Copa Européia (1965-1997): De volta para o passado
Quase que ironicamente, a idéia original de uma Copa Européia teve como inspiração a Copa Européia de futebol. Günther Sabetzki, então presidente da IIHF, anunciou a realização do primeiro torneio de clubes europeus durante o congresso da IIHF de 1965, na Finlândia.

Os 31 anos de história da Copa Européia provaram duas coisas. Primeiro, o torneio serviu para não deixar dúvidas quanto ao fato do time do CSKA Moscou (Exército Vermelho) ser mundialmente considerado o maior clube de hóquei fora da NHL. Por outro lado, esse domínio também mostrou como era difícil manter o interesse em uma competição em que o resultado final já era dado como óbvio. Naqueles anos, a maior parte dos grandes jogadores era composta por amadores que tinham outros empregos fora o hóquei. Porém, os melhores jogadores soviéticos e tchecos eram essencialmente profissionais que tinham no hóquei sua principal ocupação. Isso era demonstrado no gelo.

Entretanto, os times soviéticos não participaram das três primeiras edições da Copa, abrindo assim as portas para o ZKL Brno — chamado anteriormente de Ruda Hvezda Brno (Estrela Vermelha Brno), time do exército, para mais tarde ter seu nome trocado para HC Kometa Brno —, onze vezes campeão da liga tchecoeslovaca, e que acabou por vencer o torneio europeu nos primeiros três anos, encontrando pouca concorrência pelo caminho. Naqueles anos, os times participantes jogavam quatro partidas entre si, duas em casa e duas fora.

Estreando em 1968-69, os campeões soviéticos levaram a sério a competição, que poderia até ter sido renomeada para Copa CSKA, devido aos 19 títulos conquistados nos 21 seguintes pelo CSKA Moscou, que freqüentemente derrotava seus oponentes por uma diferença de dois dígitos. Enquanto isso tudo serviu para confirmar a superioridade do CSKA, pouco era acrescentado à competividade do torneio, uma vez que todos já sabiam qual das equipes levantaria a taça.

A proposta da Copa Européia não era criar uma versão hóquei dos Harlem Globetrotters contra os Washington Generals. Só que a qualidade do jogo do CSKA estava tão distante de seus adversários que a única coisa que estava faltando era tocar "Sweet Georgia Brown" — a música tema dos Globetrotters — quando o CSKA passeava com o disco pelo gelo até deixá-lo no fundo das redes adversárias.

A alta competitividade do CSKA veio de outros clubes soviéticos. Quando o Exército Vermelho venceu sua segunda Copa Européia (1969-70), as finais foram simplesmente o clássico entre CSKA e Spartak Moscow, na legendária Luzhniki Arena. Cerca de 28.000 espectadores foram testemunhas dos últimos dois jogos, e puderam presenciar um hóquei de altíssimo nível.

Infelizmente, alguns times fora o CSKA estavam perdendo o interesse no torneio. As receitas eram insuficientes e os custos de viagens muito altos. Era uma luta constante encontrar clubes dispostos a competir, como também assegurar a realização das partidas nas datas previamente marcadas.

Nos primeiros anos, alguns jogos eram remarcados para outras datas ou simplesmente cancelados por razões logísticas. Os times muitas vezes preferiam se dar como derrotados a viajar para outras cidades. Eles também marcavam dois jogos numa mesma data em suas arenas, sendo que as partidas da Copa Européia raramente eram prioridade. Infelizmente, muitos potenciais participantes consideravam que a Copa era um obstáculo a mais no caminho rumo ao título de seus respectivos títulos nacionais.

O torneio de 1973-74 teve um calendário cheio de problemas, com várias partidas realizadas após intermináveis transferências de datas. O quão intermináveis? A temporada só chegou ao seu final em setembro de 1975, dois anos após a realização da primeira partida! E, como era de se esperar, o título ficou com o CSKA Moscou.

Da mesma forma, o calendário da temporada 1977-78 ainda não havia sido completado a tempo de dar início à competição de 1978-79. Para não perder tempo, a IIHF declarou que o campeão das finais de 1978-79 — o CSKA Moscow, naturalmente — seria creditado como o vencedor do torneio do ano anterior. Muitos acreditam que a vitória de 3-1 do CSKA sobre o HC Poldi Kladno tenha sido a primeira e única vez que um time conquistou dois títulos através de uma simples vitória.

A princípio, os melhores times suecos mostraram uma particular aversão ao torneio. Por exemplo, em 1968-69, os campeões suecos do Brynäs IF, de Gävle, perderam por WO suas duas partidas (em casa e fora de casa) agendadas contra o time da então Alemanha Oriental SC Dynamo Berlin (mais tarde reorganizado como Eisbären Berlin, clube que participa da edição inaugural da Champions Hockey League deste ano). Apesar desse certo desprezo, o Brynäs chegou às finais em 1971-72 e 1972-73, sendo vítima da máquina CSKA.

Nos anos 70, era prática comum entre as equipes suecas e finlandesas poupar seus principais jogadores durante os jogos da Copa Européia. Muitas das vezes, esses jogadores nem eram levados para as viagens.

Quando a Copa Européia despertava interesse era porque já havia uma rivalidade pré-estabelecida fora do gelo. Talvez um dos jogos mais emocionantes de toda a história da Copa Européia tenha sido o encontro entre o campeão da Alemanha Ocidental, o Berliner SC, e o campeão da Alemanha Oriental, o Dynamo Berlin, na temporada 1976-77.

Com o Muro de Berlim ainda intacto e o país dividido politicamente, a tensão era ainda maior pelo fato do Dynamo Berlin ser o representante dos clubes de atletismo do serviço secreto (Stasi) e da polícia do Estado do então governo socialista da Alemanha Oriental. Os ingressos já estavam esgotados semanas antes da realização da partida.

Na década de 80, o espetacular Great Five do CSKA (Igor Larionov, Sergei Makarov, Vladimir Krutov, Vyacheslav Fetisov e Alexei Kasatonov) levou o time soviético a um nível de dominância jamais visto. Todos os torneios da década foram vencidos pelo Exército Vermelho. Finalmente, a queda da antiga URSS fez com que equipes da Suécia (Djurgårdens IF, IF Malmö Redhawks) e da Finlândia (TPS Turku, Jokerit Helsinki) conquistassem seu espaço na competição européia.

Confira na próxima semana a segunda e última parte desta matéria.

Bill Meltzer é jornalista e escreve regularmente para o ChampionsHockeyLeague.com. O artigo original foi traduzido por Igor Veiga.
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Página publicada em 12 de novembro de 2008.