Por: Igor Veiga

Terça-feira, 4 de novembro de 2008. O torcedor do NY Islanders já desconfia que terá uma noite daquelas... No gelo do Madison Square Garden jogarão Islanders e Rangers, simplesmente o último e o primeiro colocados da Divisão do Atlântico, respectivamente. Enquanto o time de Long Island amarga uma fraquíssima campanha (foram apenas três vitórias nas nove partidas anteriores), os rivais de Manhattan cada vez mais assumem a posição entre os favoritos ao título de sua Conferência. Liderados pelo goleiro Henrik Lundqvist, os Rangers sabem que uma vitória no clássico de Nova Iorque é quase certa.

Quarta-feira, 5 de novembro de 2008. O torcedor do Islanders acorda feliz, mas rapidamente volta a si. "Que sonho bacana. Tomar uma pressão daquelas dos Rangers durante toda a partida, ver o MacDonald fazer milagres no gol, e, ainda melhor, sair do gelo com uma vitória de 2-1. Que bom se fosse verdade...", pensa ele. Mas, ao abrir os jornais matinais, algo estranho parece ter acontecido. Em primeiro lugar, uma enorme manchete trazendo um negro eleito futuro presidente dos Estados Unidos. Em segundo lugar, a notícia da vitória dos Islanders sobre os Rangers.

Apesar de surpreendentes, as notícias eram, de fato, reais. O torcedor veste então sua camisa número 31 de Billy Smith e sai às ruas orgulhoso pela vitória e louco para tirar um sarro dos seus amigos torcedores dos Rangers. A incrível vitória no clássico e a eleição de Obama trouxeram de volta um pouco do otimismo deixado para traz nas últimas rodadas — e nas últimas eleições para presidente. O sorriso estava de volta ao rosto do torcedor. "Temos raça, temos coração. Acreditamos no sonho americano. Agora ninguém nos segura."

Quinta-feira, 6 de novembro de 2008. Os Isles voltam ao gelo, dessa vez em Atlanta, diante dos Thrashers. Uma partida equilibrada, já que as duas equipes fazem campanhas parecidas. Os torcedores de Long Island reúnem-se para ver o jogo, confiantes que algo de muito bom está para vir. Mal começa a partida e o ala esquerdo Jon Sim abre o placar para os visitantes. Festa dos torcedores. No final do segundo período na Phillips Arena, os Isles estão na frente por 3-1. Os fãs dos Isles reunidos já dão o duelo por vencido e poucos ficam para acompanhar os vinte minutos finais.

Sexta-feira, 7 de novembro de 2008. A felicidade está estampada no rosto do torcedor. "Duas vitórias seguidas," pensa ele. Era o momento de ir à cozinha, preparar o café da manhã e ler as últimas notícias. Ao abrir a porta para pegar o jornal, seu vizinho, torcedor dos Rangers, manda um recado: "Koslov e Enstrom te mandaram um abraço." Sim, a realidade era dura e com ela veio uma certeza: deixar de acompanhar o terceiro período de um jogo dos Isles é uma péssima idéia. Os Thrashers viraram aquele jogo para 4-3.

Realmente não está sendo fácil torcer para esse time dos Isles que está aí.

A partida contra os Thrashers foi um bom exemplo disso. É notória a dificuldade da equipe dos Isles em manter o ritmo de jogo durante os 60 minutos de jogo. O resultado, muitas vezes fatal, é que isso acaba deixando escoar pelo ralo todo o trabalho realizado durante os dois primeiros períodos.

Perguntado durante o segundo intervalo daquela partida sobre o que os Thrashers poderiam fazer para tentar virar um placar já dado como ganho, o defensor Boris Valábik respondeu: "Precisamos jogar vinte minutos como se fossem sessenta."

Sim, o Atlanta entrou no gelo e correspondeu à estratégia. E foi exatamente o contrário que a equipe de Long Island fez no período final. "Após os nossos primeiros dois gols, nós paramos. Não éramos mais o mesmo time, perdemos a agressividade. E isso é um velho hábito nosso. Nós tinhamos o jogo sob controle no segundo período," disse Scott Gordon, técnico dos Islanders, após a partida.

Pedir um melhor desempenho de MacDonald seria loucura. O goleiro, que vem fazendo um bom trabalho ocupando a vaga do lesionado Rick DiPietro, tem sido um dos destaques do time nesta temporada, fazendo justamente o que um bom goleiro deve fazer: dar segurança ao resto da equipe.

Foi exatamente isso o que se viu durante a partida contra os Rangers, que simplesmente passearam no gelo durante quase todo o jogo, desferindo 36 chutes a gol, contra apenas 19 dos Isles. E MacDonald estava lá para desviar praticamente todos os chutes em direção à sua meta. Mesmo com Henrik Lundqvist — nomeado o segundo melhor goleiro da liga em outubro — no outro gol do Madison Square Garden, MacDonald foi escolhido o melhor goleiro da partida.

"Fiz algumas boas defesas, mas esse é o meu trabalho," disse o goleiro dos Islanders, que, mesmo sabendo que seu posto pertence de fato a DiPietro, demonstra não querer ser visto apenas como mais um "bom goleiro reserva".

Após a derrota para os Rangers, os Islanders voltaram a ser derrotados pelos Penguins (nas penalidades) e pelos Flyers. A equipe de Nova Iorque faz a pior campanha de toda a liga. São apenas quatro vitórias 15 partidas disputadas. E das nove partidas em casa, apenas duas vitórias.

Os Islanders já sofreram 23 gols no terceiro período, sendo a equipe com a pior desempenho em toda a NHL nessa estatística. Embora no primeiro e segundo períodos o time sofra um número de gols dentro da média da liga, no terceiro fica evidente a deficiência.

"Estamos tentando ser um time difícil de ser enfrentado," disse o técnico Scott Gordon, que também tenta, em seu primeiro trabalho na NHL, mostrar que pode montar uma equipe competitiva, mesmo com um elenco limitado.

Escrever aqui que a equipe dos Isles é fraca, é "chover no molhado". A tabela de classificação já mostra isso. Mas, pelo que parece, se exite um problema que Gordon deve enfrentar neste momento, este é a queda de rendimento de sua equipe nos vinte minutos finais.

Enquanto isso não for resolvido, deixar de acompanhar o terceiro período — mesmo com a partida praticamente ganha — continuará a ser uma péssima idéia para os torcedores dos Isles.

Igor Veiga está aproveitando suas férias para assistir a todos os episódios das primeiras quatro temporadas de "Lost".
Ed Betz/AP
Joey MacDonald (35) em ação durante a vitória dos Islanders sobre os Rangers, na semana passada. O goleiro dos Isles vem se superando a cada jogo, mesmo sabendo que isso não é suficiente para tirar sua equipe da lanterninha da liga.
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Página publicada em 12 de novembro de 2008.