Por: Alexandre Giesbrecht

Não há como comparar as finais da Copa Stanley, o Olimpo do hóquei, com um jogo em novembro que não vale nada além de dois pontos na tabela. Todavia, era inevitável que se falasse em revanche quando a tabela marcava para o dia 11 de novembro um reencontro entre Red Wings e Penguins, os dois times que disputaram em junho o direito de erguer o cálice sagrado da NHL sobre suas cabeças. Em Detroit, falava-se sobre o que passava pela cabeça de Marián Hossa, que em julho trocara os Pens por seus algozes. Em Pittsburgh, os microfones estavam voltados para Maxime Talbot, que expressava toda a sua decepção com a decisão de Hossa de debandar: "Sim, há raiva. A maneira com que ele nos deixou foi como um golpe no coração, mas temos que viver com isso. Temos de respeitar a decisão dele, mas, para nós, não foi a melhor coisa que poderia acontecer." Até a Versus, emissora norte-americana de TV a cabo, fez questão de falar de "negócios por finalizar" no anúncio que falava sobre a transmissão da partida.

Com todo esse clima, seria difícil lembrar mesmo aos menos fanáticos que este era apenas um dos 82 jogos da temporada regular. E, se antes de o disco cair essa já era uma tarefa difícil, depois do jogo tornou-se impossível. Ambos os times jogaram com pegada. Os Red Wings talvez motivados em ver um adversário que lhes abrilhantou a conquista de cinco meses atrás. Os Penguins talvez motivados em ver no teto da Joe Louis Arena uma bandeira comemorativa que preferiam ver pendurada na Mellon Arena. Só não foi um jogo digno dos playoffs por causa do elástico número de gols, 13, totalizando o escore de 7-6. Algo próximo do inimaginável nas finais passadas, quando aos Penguins foram necessários nada menos que 299 minutos e meio para marcar sete gols, a mesma marca que alcançaram na terça-feira em 63 minutos e pouco.

Se em termos de recompensa imediata esta partida pouco valeu, em termos de emoção tivemos simplesmente um clássico instantâneo. Quem compareceu à Joe Louis Arena deve ter saído de lá com a sensação que saiu do cinema depois de assistir a um filme da estirpe de um Clube da Luta. O velho clichê do futebol de deixar o estádio e passar na bilheteria para pagar de novo pelo ingresso nunca fez tanto sentido. Foi uma partida que teve de tudo, desde reviravoltas a golaços, desde belas defesas a gol nos últimos segundos.

Mais uma vez respeitadas as devidas proporções, lembrou um pouco o jogo 5 das últimas finais. Para quem não lembra, foi quando, nesse mesmo estádio, a torcida já comemorava a iminente conquista da Copa Stanley quando Talbot marcou o gol mais importante de sua carreira a menos de 35 segundos do que seria o apito final e Petr Sykora encerrou o jogo na terceira prorrogação no que Michael Farber, da revista Sports Illustrated, chamou de "a versão do hóquei de Guerra e Paz". Desta feita, o herói foi Jordan Staal, que marcou o gol que gerou a prorrogação a 23 segundos do apito final, seu terceiro tento — hat trick! — em 11 minutos e 38 segundos.

Essa produtividade não se limitou às poucas voltas que o ponteiro deu. Antes de Staal começar a bombardear o goleiro Chris Osgood, os Wings venciam por 5-3. E o placar só era tão apertado porque 72 segundos antes Evgeni Malkin tinha marcado em vantagem de dois homens. Os 5-2 que o Detroit abrira logo depois da marca dos cinco minutos do último período deram a impressão de que uma goleada estava encomendada. Com três gols em cinco chances em vantagem numérica e uma saudável vantagem no número de chutes, bastava manter o jogo em banho-maria e esperar pelo fim do jogo. O problema é que pouco mais de 30 segundos depois o placar construído começou a ruir.

Johan Franzen segurou Darryl Sydor e foi para o banco de penalidades. Nem cinco segundos se passaram, e foi a vez de Valtteri Filppula seguir o mesmo caminho, por falta em Miroslav Satan. Foi com os dois engaiolados que saiu o gol de Malkin. Em apenas 14 jogos na temporada, foi o sexto gol que os Wings sofreram em desvantagem de dois homens. "Isso deu uma injeção de ânimo neles", lamentou o capitão Nicklas Lidström. Se Dallas Drake não tivesse se aposentado, certamente o estrago adversário pararia por aí, mas o primeiro gol de Staal, logo depois, colocou um pouco mais de lenha na fogueira. Jiri Hudler tratou de jogar um balde água fria dois minutos adiante, com um gol que deixou o placar em 6-4 a dez minutos do fim.

Estivéssemos naquele fim de maio, começo de junho, e o jogo teria acabado, talvez até com mais um ou dois golzinhos do Detroit. Mas o time não soube controlar o jogo, especialidade executada com maestria nos últimos playoffs. Faltavam pouco mais de quatro minutos quando Staal deixou os Penguins a um gol da prorrogação. E quando o relógio já passava dos 19 minutos e meio e os Pens já não tinham ninguém defendendo sua meta sobrou um disco na boca do gol adversário, praticamente no mesmo lugar de onde Staal tinha disparado seus dois últimos chutes que morreram no fundo das redes. Foi onde este morreu também, empatando a partida. "É difícil ser mais decisivo do que isso", elogiou o colega Sidney Crosby. Os elogios também vieram do outro vestiário. "Ele é subestimado, mas é um grande jogador", disse o ex-colega Hossa.

Para coroar sua grande atuação, Staal foi o grande responsável pelo gol da vitória, embora não tenha sido seu autor. Ele partiu para o ataque, mas não teve com quem jogar e foi forçado a chutar a gol com pouco ângulo. O disco foi recolhido por Franzen, que saiu jogando. Sem retrovisor, não percebeu que Staal o seguia e, em uma fração de segundo, tomou-lhe o disco, partindo mais uma vez na direção do gol de Osgood. Desta vez, no entanto, seu colega Ruslan Fedotenko fez-lhe companhia e abriu pela direita. O passe nem foi tão preciso assim, mas o russo não pestanejou antes de chutar de primeira e definir o jogo.

Se o número de gols foi uma surpresa, ninguém deve ter tomado um susto ao ouvir as declarações do técnico dos Wings, Mike Babcock, ao final do jogo. "Não dá para sofrer sete gols e ainda querer ganhar o jogo", reclamou. "Nós tínhamos o jogo na mão. Perder é uma coisa, mas da maneira que estamos perdendo é para deixar qualquer um louco. Não podemos deixar isso ocorrer."

A vitória valeu dois pontos para os Penguins, e mesmo os Wings deixaram o gelo com um ponto na mão, por causa do empate no tempo normal. Nenhum dos dois times está mais perto da Copa Stanley por causa desse jogo, apesar de no dia seguinte alguns torcedores de Pittsburgh terem-no comparado à vitória sobre os Senators em novembro passado, que deu início à virada do time em 2007-08. Esquecem-se estes que no ano passado o time estava caindo pelas tabelas, enquanto neste ano a campanha é boa e as atuações não têm sido ruins, apesar de dois grandes desfalques na defesa (Sergei Gonchar e Ryan Whitney estão contundidos — para piorar, Rob Scuderi sofreu uma possível fratura no pé contra o Detroit) e das saídas de Hossa, Gary Roberts e Ryan Malone ao final da temporada passada. No caso dos Wings, o problema é a defesa, que parece estar de ressaca depois do título.

Em todo caso, os times encontrar-se-ão mais uma vez em 8 de fevereiro. Os Wings já deverão ter acertado sua defesa — não é possível que ela tenha desaprendido a jogar em tão pouco tempo — e os Penguins já deverão ter seus zagueiros de volta, à exceção de Gonchar. Será ainda o reencontro de Hossa com a cidade de Pittsburgh, o que certamente servirá de combustível para mais papo sobre revanche. E os Wings agora também terão motivo para querer a sua.

Alexandre Giesbrecht, publicitário, tem acordado mais cedo para pegar o Jornal Placar.
Paul Sancya/AP
Jordan Staal teve muitos motivos para comemorar.
(11/11/2008)
Julian Gonzalez/Detroit Free Press
Ruslan Fedotenko e Jordan Staal comemoram o gol que deu a vitória aos Penguins na prorrogação.
(11/11/2008)
Julian Gonzalez/Detroit Free Press
Wings comemoram gol: até aqui nada dava a entender que um colapso era iminente.
(11/11/2008)
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Página publicada em 12 de novembro de 2008.