Por: Daniel Novais

Nesta última semana tivemos a divulgação de duas matérias independentes, mas que, se lidas em seqüência, nos ajudam a traçar um interessante panorama do atual estado econômico da liga, e começar a antever os próximos passos visando a sobrevivência do hóquei nos Estados Unidos (ou ao menos na parte mais ao sul do país).

A primeira matéria traz um panorama geral da saúde financeira das franquias. Vale lembrar que esses resultados ainda não foram afetados pela crise econômica atual. Ainda assim, podemos deduzir algumas coisas do resultado:

1) As franquias canadenses são fundamentais para a manutenção de uma liga saudável. Das quatro franquias que mais lucraram na última temporada, três são canadenses. Além disso, todas as franquias canadenses apresentaram números positivos, muitos deles influenciados pelo aumento do valor do dólar canadense em relação ao seu xará americano. Vale lembrar sempre que a receita das franquias canadenses é toda recebida em dólares canadenses, porém os salários são pagos em dólar americano.

2) Resultado no gelo é igual a resultado financeiro. Claro que nesse quesito temos que desconsiderar os grandes mercados que todos já conhecem, como NY, Toronto e Montreal. Mas, tirando esses, as franquias que preenchem a base do ranking coincidem com aquelas que têm apresentado regularmente fracos resultados. Logicamente, há exceções. Os Capitals começam a reagir, após longo inverno, mas ainda não conseguiram a mesma reação no seu valor de mercado. Por outro lado, os Kings que se reconstroem desde a era de Luc Robitaille ainda mantém um excelente valor para a sua franquia — apesar de patinar para gerar receitas e agregar valor.

A segunda matéria, uma entrevista com Paul Kelly, diretor da NHLPA, mostra a sua opinião em relação a relocações de franquias, expansão e Jim Balsillie — sim, aquele mesmo que esteve a poucos passos de adquirir os Predators e relocar a franquia para Hamilton, Ontario. Só não deixa claro se essa é uma visão particular dele ou se estamos aqui falando com uma pessoa que expressa os interesses da NHLPA e, quem sabe, da NHL.

Juntando-se as duas, podemos tratar de forma mais embasada da questão de expansão/realocação de franquias.

Fica claro, mesmo que isso represente um medo de muitos, que a liga pode mudar seu aspecto em breve. Se em plena expansão econômica tivemos franquias apresentando números negativos, o que acontecerá com estes mesmos resultados após a recessão econômica atual?

Traduzindo ao pé da letra: as franquias de menor valor patrimonial, assim como piores resultados financeiros, podem sim ser relocadas em um futuro não tão distante. A realidade é que essas franquias acabam por prejudicar a liga, sendo obrigadas a tem uma folha salarial mais reduzida, e absorvendo dinheiro lucrado em outros mercados. Esse cenário está distante da perfeição na visão tanto da liga, quanto da associação de atletas.

Por isso, se você é torcedor dos Coyotes, Panthers ou Predators, franquias de mercados menores e com maus resultados financeiros, pode ficar com uma pulga atrás da orelha. Cidades como Quebec, Hamilton, e até as sempre mencionadas Kansas City, Oklahoma e Las Vegas estão de olho em seu futuro.

Ao mesmo tempo, vale o questionamento: a dificuldade financeira dessas franquias não estaria atrelada a uma fase de baixa dos times? Não faz muitos anos que Sabres e Senators sofreram sérias ameaças de fechar as portas, e atualmente são franquias que operam com caixa positivo e de forma estável. Portanto, pensar desde já em arrancar as raízes dessas franquias não seria uma ação no mínimo precipitada?

Além disso, até onde uma realocação é realmente benéfica? Vamos considerar ao menos os casos das atuais cidades que, ao menos de acordo com os rumores, são candidatas a ter uma equipe da NHL.

a) Las Vegas. Sério? A menos que seja pelo fator de ser um local famoso pelas apostas, não faz muito sentido ter uma franquia aqui. Além disso, já temos franquias sofrendo para se manter nessa mesma região dos Estados Unidos, será que o resultado não acabaria sendo o mesmo?

b) Kansas City. Tem uma excelente arena pronta para receber uma franquia da NHL... e só. A tradição do hóquei nos arredores de Kansas é tão intensa quanto a de Columbus ou Nashville. Seria começar todo o trabalho que foi feito nessas cidades praticamente do zero.

c) Oklahoma. Ver tópico acima... menos a arena.

d) Hamilton. Faz sentido relocar uma franquia para um local tão próximo de Toronto? A realidade é que não haveria um aumento no mercado do hóquei, apenas criaria uma divisão na torcida dos Leafs. Se a meta é, exclusivamente, encher arenas, faz sentido. No sentido geral de marketing, nem tanto.

e) Quebec. Tem um mercado adormecido para a NHL sobrando, e ainda carente desde a mudança dos Nordiques. Mas, ao mesmo tempo, não tem uma arena grande o suficiente, e a população da cidade não é das maiores — o que poderia deixar espaços vazios em caso de haver uma arena maior do que o atual.

Fica claro, portanto, que mesmo que venha a ser consumada a mudança, existem ainda pendências a ser resolvidas. Falar em expansão no cenário atual, então, é absolutamente absurdo. Com 30 franquias já há uma dificuldade em se trabalhar com elas no verde, a criação de novas só traria novos problemas.

E você, o que acha de tudo isso? Que eu só escrevi bobagem? Então escreve para a redação, estamos sempre abertos a ouvir a sua opinião!

Daniel Novais pede desculpas por usar conceitos de iniciante de Administração e Economia na redação do texto.
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Página publicada em 12 de novembro de 2008.