Por: Alexandre Giesbrecht

Neste final de temporada, é difícil não acompanhar as brigas em tudo quanto é divisão. E fazer o quê, se estamos tendo uma das retas finais mais disputadas dos últimos tempos? Em que pese a maldição que nos assola, falar sobre uma briga sequer sabendo que, quando a edição entrar no ar, tudo pode ter mudado não é dos mais aconselháveis. Mas há que se dar a cara para bater ou falar de assuntos menos relevantes ou que simplesmente não se acompanhou. Prefiro dar a cara para bater.

A briga no Sudeste chega à quarta-feira de publicação com uma briga tão acirrada quanto imprevisível. Hurricanes e Capitals estão empatados com 90 pontos em 80 jogos. O time da Carolina leva vantagem no número de vitórias, o que não o livra da obrigação de ganhar os dois confrontos que lhe restam para se garantir nos playoffs sem depender de um mau resultado do time de Alexander Ovechkin.

Aos Capitals, só interessa vencer seus dois jogos restantes e torcer por ao menos um tropeço da concorrência. O mais interessante dessa verdadeira disputa pela sobrevivência é que ambos vão duelar exatamente nas mesmas condições com os mesmos times: Tampa Bay (nesta quarta, viaja a Raleigh e, no dia seguinte, à capital norte-americana) e Florida (na sexta, em Raleigh; no sábado, em Washington) serão os fiéis da balança.

Os Capitals têm ao menos duas vantagens. Uma é psicológica: a vitória no confronto direto na terça-feira, por 4-1, em casa, com o estádio lotando cantando "M-V-P!" para Ovechkin. O Troféu Hart ainda não está garantido, embora o russo seja o favorito, mas para o Art Ross ele já pode reservar espaço na estante, ao lado do espaço que ele já deve ter reservado há algumas semanas para o Rocket Richard. Evgeni Malkin, dos Penguins, só tirará o Art Ross de seu compatriota se descontar a desvantagem de seis pontos em apenas dois jogos — sendo que não pode se dar ao luxo de empatar, pois o primeiro critério de desempate é o número de gols marcados, e Ovechkin leva essa ainda que dê dez gols de lambuja.

A outra vantagem que os Caps têm é que jogam ambas as partidas sabendo exatamente do que precisam, pois os jogos dos Canes serão sempre um dia antes. Melhor ainda: pegarão times cansados por jogos no dia anterior. À parte os escorregões em péssima hora na semana passada, voltou a dar para acreditar nos Caps.

Se ambos os times conseguirem ganhar suas partidas restantes, ainda podem até roubar a oitava vaga do Leste, contando com tropeços de Bruins e/ou Flyers. O cenário sombrio que tomou conta da corrida no Sudeste na semana passada deu lugar a um céu claro com poucas nuvens. A divisão levar dois times aos playoffs era algo inimáginável poucos dias atrás, e agora, se não é provável, ao menos não é mais uma hipótese a se desconsiderar.

O único problema desse cenário para os Caps é que ele torna mais provável um confronto logo de cara com os Penguins. Não que eles sejam mais ou menos perigosos que os Canadiens — o primeiro lugar da conferência ainda está longe de ser decidido —, mas o histórico do Washington contra o time das aves esfenisciformes preocupa. Em sete confrontos entre 1991 e 2001, houve apenas uma vitória. Entre as seis derrotas, ao menos três quedas retumbantes, incluindo duas derrotas depois de estar vencendo por 3-1 (1992 e 1995) e uma eliminação como segundo da conferência, com 14 pontos a mais ao longo da temporada, em apenas cinco jogos (2000).

Esse confronto ainda depende das atuações de vários times nos próximos dias. Três desses times são os próprios Penguins, os Habs e os Devils. Os Pens ainda não garantiram matematicamente o título do Atlântico, mas é difícil apostar contra eles. A classificação pode até acontecer ainda nesta quarta-feira, com uma vitória ou derrota após os 60 minutos contra os Flyers ou ainda uma derrota dos Devils frente aos Bruins.

Mas não é a briga na divisão que importa neste instante. A não ser, claro, que os Devils ressuscitem e os Penguins sofram um debacle histórico, o que os derrubaria de possíveis líderes do Leste para a quarta posição e poderia afetar seriamente a autoconfiança da equipe nos playoffs. (Este som que vocês acabaram de ouvir foi o da torcida dos Pens batendo na madeira.)

Não, a briga que importa é no topo da conferência. Se no Oeste os Sharks tentam um último suspiro para roubar o primeiro lugar dos Red Wings (para isso acontecer, o Detroit não pode ganhar um mísero ponto nos três jogos que lhe restam), no Leste é impossível dizer quem vai ficar por cima.

Pens e Habs têm ambos 80 jogos, como os dois primeiros do Sudeste, mas com dez pontos a mais cada um, ou cem pontos. A vantagem é do Pittsburgh, que tem uma vitória a mais. Mas os Penguins têm pela frente os Flyers, uma vez em casa na quarta-feira, outra fora no domingo. Como se sabe, o time da Filadélfia luta por uma vaga e não pode bobear, sob o risco de ver os Capitals ultrapassá-lo. Já o Montreal pega o quase morto Buffalo na quinta e o já eliminado Toronto no sábado. Se a briga se mantiver pau a pau até domingo, ao menos os Penguins saberão exatamente do que necessitam.

As demais vagas do Leste também prometem muita emoção para os últimos dias da temporada regular. Apenas Penguins, Canadiens e Devils têm vaga garantida nos playoffs, o que gera a curiosa situação de o quarto colocado (New Jersey) já poder mandar imprimir os ingressos para a pós-temporada, enquanto o terceiro (Carolina) ainda está brigando pela sobrevivência, correndo o risco real de despencar para a nona posição.

No Oeste, a briga deu uma esfriada, com a classificação antecipada dos seis primeiros colocados. Os Oilers não conseguiram manter o gás e saíram da briga, deixando três times (Calgary, Nashville e Vancouver) na luta por duas vagas. Os Flames precisam de um mero pontinho em suas duas últimas partidas, que incluem um confronto direto em Vancouver, o que deve deixar a última vaga entre Predators e Canucks, com vantagem para os primeiros, que têm uma tabela mais fácil pela frente (Blues em casa, na quinta, e Blackhawks em Chicago, na sexta). Os Canucks recebem os Oilers na quinta antes de os Flames visitarem, no sábado.

Se os playoffs deste ano forem tão emocionantes quanto este final de temporada, muito cardiologista vai faturar uma boa grana nas próximas semanas.

Alexandre Giesbrecht, 31 anos, até gostou da reforma gráfica do JT, mas lamenta que o caderno de esportes tenha se tornado tablóide todos os dias.
Bruce Bennett/Getty Images
Os Devils enfrentam os Bruins com esperanças de alcançar os Penguins no topo do Atlântico. Os Bruins enfrentam os Devils com esperança de se manter no G-8.
(02/04/2008)
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Página publicada em 2 de abril de 2008.