Por: Bruce Cheadle

Russell Williams conseguiu um impressionante feito ontem à noite.

Williams, um bem-humorado senhor de 99 anos que nasceu em 1908, estava no antigo Ottawa Auditorium na noite em que o Ottawa Senators ganhou sua última Copa Stanley, em 13 de abril de 1927.

O ex-caminhoneiro, ex-inspetor de ruas e ex-estoquista também assistiu ao vivo ao primeiro jogo dos Senators, então um time de expansão, no Civic Centre, em outubro de 1992, quando o hóquei da NHL voltou a Ottawa depois de um intervalo de 58 anos.


E ontem à noite Williams foi o convidado do dono dos Senators, Eugene Melnyk, no Scotiabank Place, para assistir ao jogo entre Senators e Anaheim Ducks, a primeira partida pelas finais da Copa Stanley na capital canadense em 80 anos.

Ele foi aplaudido de pé pela torcida que lotou o estádio ao ser apresentado no meio do segundo período. Williams levantou-se e tirou o seu boné dos Senators para a torcida.

"Eu consigo recitar os nomes de todos os jogadores daquele time que ganhou a Copa Stanley (de 1927), menos um", gabou-se Williams na manhã de ontem, em sua casa na zona oeste de Ottawa, onde ele mora com seu filho e seu neto, cujos nomes também são Russell.

Williams estava descansando depois de sua caminha diária, incomodado por não se lembrar que que formou dupla com George (Buck) Boucher na defesa.

Os Senators — um grupo de meter medo que incluía os futuros membros do Hall da Fama Boucher, Jack Adams, King Clancy, Cy Denneny e Frank Nighbor — derrotaram o Boston Bruins, treinado naquela noite por Art Ross.

Foi o primeiro ano em que a Copa foi disputada exclusivamente por timess da NHL — e Clancy, Adams e Ross vieram a servir de patronos para troféus individuais dados anualmente a jogadores da NHL.

Que tal isso como pedaço de história do hóquei?

"Até onde eu sei, muita gente [diz]: 'Ora, o hóquei era melhor anos atrás.' Eu não aceito isso", reclama Williams. "Acho que o hóquei de anos atrás era horrível. Eles jogavam um estilo mais defensivo, e hoje é mais aberto. Esse é o tipo de hóquei de que eu gosto — hóquei aberto."

Ele se lembra do jogo de 1927 como um em que havia muitos lançamentos, mas nenhuma perseguição ao disco.

"Naquela época eu não diria que o jogo era rápido", avalia ele. "O disco chegaria às bordas opostas e muito poucas vezes alguém ia atrás dele. Eles voltavam e esperavam pelo outro time."

Os Senators, completa Williams "tinham um bom defensor, Frank Nighbor, o homem que acertava o disco com a ponta do taco. Poucos passavam por ele."

E não só a NHL, como também o próprio Canadá, estava em seus primeiros anos.

Naquele ano, os EUA deram início a relações diplomáticas formais com o Canadá, reconhecendo o país como uma entidade soberana separada do Reino Unido da Grã-Bretanha. A fronteira entre o país e a Terra Nova foi formalmente acertada, assim como foi definida a tradução do hino canadense para o inglês. O carrilhão na Torre da Paz, em Ottawa, foi inaugurado.

Williams andou vários quilômetros entre sua casa e a estação final da linha na zona oeste, para pegar o bonde até Ottawa naquela noite de abril.

"É claro, ninguém que eu me lembre por aqui tinha carro naquela época", conta ele.

Denneny marcou o gol da vitória por 3-1 do Ottawa, que garantiu a Copa.

"Estava mutio barulhento, muito barulhento", lembra ele. "Depois do jogo, todo mundo saiu às ruas, e ninguém queria ir para casa."

A NHL deixou Ottawa em 1934 e não voltaria por 58 anos. Williams, cuja paixão pelo hóquei foi transferida para o Montreal Canadiens durante a ausência dos Senators, estava lá para ver o novo time derrotar os Habs por 5-3 na sua estréia em casa. Foi uma das dez únicas vitórias do Ottawa naquela temporada de 1992-93, enquanto o Montreal acabaria por conquistar a Copa Stanley, a última vez que um time canadense o fez.

"Eu nunca achei que eles poderiam voltar, e nunca descobri por que eles foram embora", disse Williams sobre o hiato sem NHL. "Ottawa apoiava muito bem o time."

Williams representa apenas a camada mais profunda em uma escavação arqueológica de história do hóquei nas finais da Copa Stanley deste ano. O jogo de ontem foi a primeira vez em que as finais da NHL foram jogadas na província de Ontário desde que os Maple Leafs foram campeões em 1967 — 40 anos e um mês atrás.

Um sujeito chamado Pierre Trudeau era o Ministro da Justiça do Canadá naquele ano, o país estava comemorando seu centenário e a NHL tinha apenas seis times.

O Anaheim, por outro lado, tem a chance de se tornar o primeiro time da Costa Oeste a conquistar a Copa Stanley desde que o Victoria Cougars ganhou o caneco em 1925.

Williams não se lembra dessa série, mas tem uma vaga lembrança da conquista da Copa Stanley pelo Ottawa em 1923. Ele viu muita história — e muitas mudanças — acontecer na NHL antes de ver a taça finalmente voltar a ser disputada em sua cidade. Ele se lembra de ter comprado ingressos para o setor em que se ficava de pé no antigo Aud por 25 cents, enquanto assentos custavam pouco mais de um dólar canadense, sendo majorados para cerca de dez dólares canadenses em jogos de playoffs.

E hoje?

"Os preços! Cento e setenta e cinco dólares [canadenses] por assento para assistir a um jogo de hóquei?", indigna-se Williams. "Isso é quanto o meu vizinho disse que pagou — Cdn$ 175!"

Ontem, ele foi convidado pelo dono do time. Será que esta vai ser a última chance de Williams para ver os Senators ganhar outra Copa Stanley?

"Eu faço muito exercício e sinto-me bem. Acho que tenho mais alguns anos ainda", sorri Williams. "De qualquer maneira, eu gostaria de chegar aos cem anos."

Bruce Cheadle é colunista do agência de notícias Canadian Press. O artigo foi traduzido por Alexandre Giesbrecht.
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Página publicada em 3 de junho de 2007.