Por: Marcelo Constantino

Num jogo em que eles não poderiam perder, eles não perderam. Os Senators se recuperaram na série jogando em casa e vencendo os Ducks por 5-3 numa partida em que batalharam, jogaram com muita raça. A vitória foi basicamente resultado desse espírito. Não foi uma apresentação brilhante, não foi uma apresentação daquele ótimo e dinâmico time ofensivo que vimos até a série contra o Buffalo Sabres — apesar dos cinco gols marcados. Foi a apresentação de um time guerreiro.

O Ottawa esteve atrás no placar por três vezes na partida, mas correu atrás para buscar o empate, e empatou o jogo também por três vezes. Até que conseguiu virar. De um começo um tanto cambaleante — ainda que guerreiro —, o time manteve o ritmo de jogo, eventualmente com grandes momentos de pressão, e foi crescendo ao longo da partida até efetivamente dominar as ações. E foi um jogão de hóquei! Vale inclusive uma breve descrição, baseada em notas escritas por mim durante a partida.

O jogo

Desde o começo já dava para identificar que os Sens eram outro time jogando em casa. Ou ao menos eram outro time especificamente ontem, no jogo 3. Bem mais ofensivos e ainda mais agressivos que no jogo 2, eles jogavam de igual para igual contra os Ducks. Porém, ali no começo, de alguma forma as coisas ainda pareciam sob o controle do Anaheim. Não um controle explícito, mas algo como aquela sensação de que um time é mais, digamos, soberano no jogo enquanto o outro corre atrás. Isso se confirmou com o primeiro gol do jogo, por Andy MacDonald, no finalzinho de uma vantagem numérica que os Sens vinham matando muito bem até então.

O panorama seguiu assim até que, faltando cerca de cinco minutos para o fim, os Sens empreenderam uma sufocante pressão na zona de ataque que acabou resultando no gol de empate. Dali em diante, mesmo que os Ducks tenham avançado no placar por mais duas vezes, não houve mais aquela sensação de "jogo sob controle". Ao menos para mim.

Os Sens mantiveram-se levemente superiores, muito na base da raça e possivelmente empurrados pela fantástica torcida canadense, mas, já no segundo período, levaram outro gol — com mais uma vez Ray Emery deixando entrar um disco que não se pode deixar entrar em final de Copa Stanley.

Até então, muito embora um dos comentaristas da CBC viesse a esculhambar a atuação de Wade Redden (com boa dose de razão) no final daquele segundo período, o defensor Anton Volchenckov é quem vinha fazendo o papel de vilão dos Senators na partida. No primeiro gol foi ele quem deu um passe errado atrás do próprio gol, originando a jogada que terminou com o disco na rede. No segundo, foi ele quem saiu da posição de marcação sobre Corey Perry, deixando-o livre para carregar o disco em direção ao gol.

Mas Volchenkov logo se redimiu: foi ele quem, meio minuto depois, empatou o jogo novamente, num fulminante disparo da linha azul (e um breve desvio no caminho, por Mike Fischer, somente verificado posteriormente), logo após um face-off na zona ofensiva. Porém, o jogo era dinâmico e, dois minutos depois, a linha de Ryan Getzlaf — ontem a melhor dos Ducks — novamente colocou o time na frente.

O jogo continuou quente e, já mais para o fim do período, veio o lance que ficará em discussão sem fim até sabe-se lá quando. Numa vantagem numérica, Redden mandou o disco em direção ao gol. Ele, o disco, ricocheteou em algum jogador, bateu no patim de Daniel Alfredsson (que esteve bem melhor que nos dois jogos anteriores) e entrou. De imediato o juiz cancelou o gol, mas mandou-o para a revisão. A dúvida era se Alfredsson chutara o disco para dentro do gol intencionalmente (o que não pode) ou se o disco apenas desviara no patim dele, mesmo que ele tenha apenas posicionado o pé para isso (o que pode). Difícil de avaliar, parece a antiga história de bola na mão x mão na bola no futebol. Como avaliar precisamente a intenção de um jogador num lance desses?

Nesta edição você encontra matérias mais exaustivas sobre esse lance, e o fato é que o gol valeu e o jogo estava novamente empatado. E os Ducks não se recuperariam mais na partida.

Pouco tempo depois, em nova forte pressão dos Sens na zona ofensiva, Dean McAmmond fez ótima jogada no fundo do rinque e mandou o disco para trás, em direção à área. Quem estava lá? Chris Pronger. O disco bateu nele e acabou entrando. Lembrou um pouco gol contra de Paul Coffey, na final da Conferência Oeste de 1996.

Mas Pronger daria o ar da graça no terceiro período, ao acertar a cabeça do mesmo McAmmond com uma cotovelada. Nenhuma penalidade foi marcada no lance, McAmmond ficou algum tempo no gelo sendo atendido e os ânimos claramente se esquentaram. Tanto que pouco tempo depois de reiniciada a partida tivemos uma confusão generalizada no meio do gelo, com alguma fartura de distribuição de penalidades — nenhuma por brigar, todas por jogo bruto. Quanto a Pronger, acabo de ler que foi novamente suspenso pela NHL, novamente por um jogo, novamente de um jogo 4.

No terceiro período o Ottawa manteve relativamente o controle e conseguiu ampliar a liderança, com um gol de Volchenkov — dessa vez creditado a ele próprio —, que acabou por tornar-se o grande nome do jogo. De candidato a vilão a herói.

Se o que vimos do Ottawa Senators foi um respiro, se é o início de uma reação ou se é um tipo de, digamos, retorno ao equilíbrio, é o que veremos amanhã, no jogo 4. O precedente do Anaheim jogando sem Pronger — no jogo 4 da série anterior contra o Detroit - é favorável ao time norte-americano. Cabe ao Ottawa mostrar que não é Detroit.

Marcelo Constantino é colunista da TheSlot.com.br.
Dave Sandford/AP
Eis o gol que adveio do patim de Daniel Alfredsson.
Chris Carlson/AP
Finalmente tivemos alguma grande confusão — não dá para chamar de briga realmente — nas finais!
Jeff Gross/Getty Images
E toda a ótima linha de Ryan Getzlaf foi parar no banco de penalidades.
02/06/2007     00  
Anaheim 1 2 0 3
Ottawa 1 3 1 5
PRIMEIRO PERÍODO — Gols: 1. Anaheim, Andy McDonald 7 (vantagem numérica) (Teemu Selanne), 5:39. 2. Ottawa, Chris Neil 2 (Chris Kelly, Andrej Meszaros), 16:10 . Penalidades: W. Redden, Otw (interference), 3:51; B. May, Anh (interference), 6:01; T. Moen, Anh (diving), 11:29; M. Fisher, Otw (roughing), 11:29.
SEGUNDO PERÍODO — Gols: 3. Anaheim, Corey Perry 5 (Dustin Penner, Ryan Getzlaf), 5:20. 4. Ottawa, Mike Fisher 5 (Anton Volchenkov), 5:47. 5. Anaheim, Ryan Getzlaf 7 (Dustin Penner, Corey Perry), 7:38. 6.Ottawa, Daniel Alfredsson 11 (vantagem numérica) (Wade Redden, Joe Corvo), 16:14. 7.Ottawa, Dean McAmmond 5 (Oleg Saprykin, Christoph Schubert), 18:34. Penalidades: S. Pahlsson, Anh (roughing), 2:04; J. Spezza, servida por M. Comrie, Otw (holding), 2:04; S. Niedermayer, Anh (hooking), 13:44; S. O'Donnell, Anh (cross check), 15:39.
TERCEIRO PERÍODO — Gols: 8. Ottawa, Anton Volchenkov 2 (Antoine Vermette, Chris Kelly), 8:22. Penalidades: C. Neil, Otw (roughing), 2:55; R. Getzlaf, Anh (roughing), 2:55; D. Penner, Anh (roughing), 2:55; C. Perry, Anh (roughing), 2:55; C. Perry, Anh (roughing), 2:55; M. Fisher, Otw (roughing), 2:55; P. Schaefer, Otw (roughing), 2:55; B. May, Anh (tripping), 5:43; P. Schaefer, Otw (interference), 10:41; R. Getzlaf, Anh (holding), 11:05; A. McDonald, Anh (interference with goaltender), 15:29; C. Phillips, Otw (roughing), 19:49.
CHUTES A GOL
Anaheim 8 11 3 22
Ottawa 10 12 7 29
Vantagem numérica: ANH – 1 de 3; OTW – 1 de 7. Goleiros: Anaheim – Jean-Sébastien Giguère (29 chutes, 24 defesas). Ottawa – Ray Emery (22, 19). Público: 20.500. Árbitros: Paul Devorski, Dan O'Halloran.
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Página publicada em 3 de junho de 2007.