Por: Michael Farber

Linha de tranco do Anaheim 2, Linha de ataque do Ottawa 0.

No mais recente exemplo de como é difícil para um time de uma linha só ganhar a Copa Stanley, a linha de tranco do Anaheim Ducks neutralizou a linha de ataque de Jason Spezza pelo segundo jogo consecutivo, dando ao Ottawa Senators sua segunda derrota seguida pela primeira vez em 63 jogos.

É claro, esses outros cinco meses e pouco de jogos são história antiga. Não há mais Floridas ou Bostons para o Ottawa. Os Senators, que passaram sem problemas pelas três primeiras fases, patinaram melhor que no jogo de abertura, revidaram mais quando os marcadores dos Ducks os pressionavam, mas ainda não demonstraram a convicção necessária contra um Anaheim fisicamente dominante, cujas duas vitórias por um gol de diferença não chegam nem perto de expressar o desequilíbrio que esta série tem sido a seu favor.

Os playoffs geralmente são mais recheados de complexidade e de nuances, mas Anaheim contra Ottawa tem girado tranqüilamente em torno de um único confronto: os porradeiros dos Ducks contra a linha de Spezza, Dany Heatley e Daniel Alfredsson (poupe-me dos argumentos a respeito da profundidade do elenco do Ottawa: esses três jogadores marcaram 23 dos 50 gols dos Senators nos playoffs).

Ao longo de dois jogos, a linha de neutralização do Anaheim marcou dois gols e tem +6, enquanto a linha de Spezza não marcou gol algum, tem -6 e passou menos tempo na zona de ataque em igualdade numérica do que a Britney Spears passa em uma biblioteca. Os porradeiros deveriam simplesmente parar os três grandes do Ottawa, não transformá-los em espectadores enquanto a luz vermelha se acende sem parar. No jogo 1, um garoto do interior de Saskatchewan chamado Travis Moen, que passou de irrigar plantações à disputa pelo troféu mais cobiçado do hóquei, marcou o gol da vitória a cerca de três minutos do fim do jogo, ao mesmo tempo em que encarava em todos os turnos os bam-bam-bans do Ottawa. Ontem à noite, o central de Moen, Samuel Pahlsson, marcou a 5:44 do fim e deu aos Ducks a vitória por 1-0, estragando uma atuação praticamente imaculada do goleiro Ray Emery.

"Pressioná-los e fazer com que eles joguem na defesa", elaborou o defensor do Anaheim Chris Pronger. "Essa é a melhor maneira de contra-atacar jogadores ofensivos."

"Os defensores e os porradeiros deles estão sendo as estrelas da série", disse o técnico do Ottawa, Bryan Murray, cujos três principais jogadores deixaram de marcar pontos apenas pela segunda vez em 17 jogos destes playoffs.

Os problemas ofensivos dos Senators, que colocaram Alfredsson do lado direito de Mike Fisher algumas vezes, mas geralmente mantiveram seus três principais atacantes juntos contra Pahlsson, Moen, Rob Niedermayer, Pronger e o defensor Scott Niedermayer, foram aumentado pelo comportamento apático de sua defesa no gol da vitória. Em uma tentativa de criar ao menos um mínimo de ataque — e, depois de se destacar durante um cinco contra três estendido no primeiro período, o goleiro dos Ducks, Jean-Sébastien Giguère, poderia ter trocado seus patins por um par de chinelos —, Heatley deu um passe errado perto da linha azul de ataque. Pahlsson roubou o disco e voou pela ponta direita, em uma jogada que parecia inofensiva enquanto ele não saía da zona neutra. Alfredsson pareceu ter uma chance de dar um tranco em Pahlsson quando ele passava pela linha azul do Ottawa, mas não conseguiu roubar de volta o disco e acabou por deixar o embalado central para a marcação do defensor Joe Corvo. Pahlsson cortou para o meio, fazendo com que Corvo desse um giro de 180 graus e ficasse de frente para o gol. Corvo foi então usado como bloqueio visual, e Pahlsson chutou do círculo direito de faceoff pelo meio das pernas do defensor, vencendo Emery. O chute foi cruzado e entrou perto da trave oposta.

Pahlsson também ganhou 10 de 12 faceoffs, deu quatro trancos, bloqueou um chute e provavelmente gravou no segundo intervalo um CD com Snoop Dog, que estava na platéia vestido com uma camisa dos Ducks.

"Nos playoffs, todo mundo melhora o aspecto defensivo de seu jogo pelo menos 20% a 25%", filosofou o técnico dos Ducks, Randy Carlyle. "É bom ver esses três jogadores ser recompensados por todo o seu trabalho duro. Uma coisa eu posso dizer sobre esses caras: eles jogam os minutos mais duro, e por muito tempo os holofotes não estavam virados na direção deles. Agora eles estão ganhando essa atenção."

Apesar das reflexões do gerente geral Brian Burke de que Pahlsson, durão ao extremo, tem de ter em suas origens alguma coisa da província de Alberta, Pahlsson freqüentou a escola na que é talvez a maior cidade do hóquei — per capita, pelo menos — do mundo. A cidade de Ornskoldsvik, um porto onde vivem cerca de 60,000 habitantes a meio caminho entre Estocolmo e o Círculo Polar Ártico, no Golfo de Bótnia, produziu Peter Forsberg, Markus Naslund, Daniel e Henrik Sedin e outros menos cotados atualmente na NHL. Quando o Boston o adquiriu do Colorado, na troca pelo legendário Raymond Bourque pouco antes do dia-limite em 2000, Pahlsson parecia projetar-se como um central de segunda linha, um pontuador freqüente. Só que as coisas não foram bem assim. Ele ainda joga um estilo equilibrado entre ataque e defesa na seleção sueca, mas Carlyle prefere vê-lo em um papel de anulação. O gol foi apenas o terceiro de Pahlsson nestes playoffs, mas seu segundo gol da vitória e o quinto de sua linha nas 14 vitórias do Anaheim até aqui.

O Anaheim está invicto em cinco jogos em casa, principalmente porque Carlyle tem conseguido colocar a linha de Pahlsson — o único trio em que ele não mexeu desde o início da temporada regular — contra várias primeiras linhas. Com a série se mudando para Ottawa no jogo 3, no sábado, o pareamento vai ser mais problemático para Carlyle, que não terá mais direito à última troca de linha. Mas se o banco do Anaheim estiver alerta, os Ducks vão fazer várias trocas de linha com o jogo rolando, de novo colocando Murray em uma posição em que ele é que vai ter de achar um jeito de reagir.

O pareamento contra os três grandes tem sido só más notícias para o Ottawa.

Michael Farber é jornalista da revista Sports Illustrated. O artigo foi traduzido por Alexandre Giesbrecht.
Paul Chiasson/CP/AP
O gol foi apenas o terceiro de Pahlsson nestes playoffs, mas seu segundo gol da vitória e o quinto de sua linha nas 14 vitórias do Anaheim até aqui.
(30/05/2007)
Edição Atual | Edições anteriores | Sobre TheSlot.com.br | Comunidade no Orkut | Contato
© 2002-07 TheSlot.com.br. Todos os direitos reservados. Permitida a reprodução do conteúdo escrito, desde que citados autor e fonte.
Página publicada em 31 de maio de 2007.