Por: Humberto Fernandes

A conquista da Copa Stanley é uma história de superação. Oito meses de trabalho com jogos praticamente a cada dois dias, viagens intermináveis, semanas longe de casa, muita dor causada pelas contusões no caminho para enfim se tornar imortal.

Às vezes escrever um artigo também é uma história de superação, principalmente quando você está extremamente puto após sobrescrever o seu texto que estava pronto e diagramado. Foi o que eu fiz há menos de 15 minutos com o meu artigo para essa edição.

Superação. Até onde será que o Ottawa Senators está se entregando dentro de gelo? Tudo que eles fazem, o Anaheim Ducks faz melhor.

Para o jogo 2 o treinador Bryan Murray, que não tem nada de excepcional, separou a sua principal linha ofensiva, escalando Daniel Alfredsson com Mike Fisher e Peter Schaefer, enquanto Chris Neil foi promovido para atuar ao lado de Jason Spezza e Dany Heatley. A novidade não funcionou e durou poucos turnos. Os três grandes foram reunidos novamente pela maior parte do jogo.

É mais um mérito para a linha de tranco do Anaheim. O trio Rob Niedermayer, Travis Moen e Samuel Pahlsson já havia forçado o Detroit Red Wings a separar seus dois melhores atacantes, Pavel Datsyuk e Henrik Zetterberg. Entretanto, naquela ocasião os Ducks foram arrasados por 5-0, no jogo 3 das finais de conferência. Desta vez não houve nenhuma surpresa e o time já estava preparado.

Aliás, o que é o ataque dos Senators? Lanço um desafio. Valendo uma viagem para Acapulco com tudo pago para quem conseguir encontrar a segunda linha de ataque do Ottawa, se é que ela existe. Alfredsson, Spezza e Heatley formam uma das melhores combinações ofensivas da liga, mas depois dela os Sens não têm ninguém. Exercício de comparação: os Ducks têm a linha do Teemu Selanne, a linha dos garotos e essa excepcional linha de tranco. E o Ottawa? Será que com Mike Comrie, Chris Kelly, Antoine Vermette, Dean McAmmond e Oleg Saprykin é possível fazer algo parecido? Eu não acredito.

Do primeiro para o segundo jogo não houve evolução nos Senators, apenas retrocesso, exceto por Ray Emery, que manteve o time no jogo durante toda a noite, mesmo sendo alvo constante dos chutes adversários. Ao todo os Ducks chutaram 69 vezes, sendo 31 no gol. Os Sens, em compensação, acertaram a meta de Jean-Sebastien Giguere apenas em 16 dos 41 chutes desferidos. Baixos números para quem pensar em ameaçar Giguere.

O número de discos perdidos pelas duas equipes beirou o ridículo. Foram 43 bobagens durante o jogo, sendo 22 cometidas pelos Ducks. Ou seja, por diversas vezes os Senators contaram com erros do adversário, mas não souberam aproveitar. Do outro lado, adivinhe como nasceu o gol de Pahlsson. Claro, de uma das 21 bobagens de Ottawa.

Muitos dos erros foram causados pela agressividade das equipes, que distribuíram trancos sem dó. Aqui reside a única melhoria dos Sens de um jogo para o outro. O time tentou igualar a força física dos Ducks, mas nem com 28 trancos isso foi possível. Do outro lado vieram 36 porradas, de 16 jogadores diferentes. Isso quer dizer que o elenco inteiro do Anaheim se entrega de maneira formidável ao jogo. Não é à toa que desde 22 de abril de 1.500 nós dizemos que esse time foi desenhado para os playoffs.

Isso não significa que eles sejam perfeitos, afinal Andrew Peters ainda não joga em Anaheim. Mas é muito mais do que o suficiente para nocautear os Senators, que se mostram incapazes de aproveitar até mesmo as oportunidades de 5-contra-3. Foram 67 segundos no jogo 2 e o zero não saiu do placar.

Pobres, Senators. Não fosse eu um colunista comprometido com a verdade os números a seguir seriam descartados, mas é preciso mostrar aos leitores o tamanho do buraco onde o Ottawa se enfiou. Basta dizer que nem faceoffs os caras vencem. Spezza e Fisher, os dois maiores especialistas do time, venceram apenas nove de 33 faceoffs disputados. O time terminou o jogo 2 com apenas 41% de aproveitamento. Alguém pode dizer que faceoff não significa muita coisa, mas quantas vezes ao longo dos anos vimos gols nascendo dessa forma? O atacante vence a disputa e o defensor chuta da linha azul surpreendendo o goleiro. Um desses gols seria o suficiente para empatar as duas partidas disputadas até o momento.

Faceoff é o básico do hóquei. Não é preciso sequer saber patinar para recolher o disco lançado pelo árbitro. Se nem isso os Sens conseguirem fazer bem, não haverá saída. Talvez os ares da cidade de Ottawa tragam a inspiração necessária.

Após dois jogos a fotografia da Copa Stanley 2007 traz três nomes: R. Niedermayer, Moen e Pahlsson.

O tamanho do estrago causado pelo trio no jogo 2 é medido pelos números: oito chutes a gol, 11 trancos, dois discos roubados e 11 faceoffs vencidos em 13 disputados. E o gol da vitória. Além de milhares de fantasmas povoando a mente de Murray, Alfredsson, Spezza e Heatley em Ottawa.

Humberto Fernandes é amigo de Thiago Leal.
Mark Avery/AP
Eles não são os nomes mais famosos de Anaheim, não têm os maiores salários, nunca foram artilheiros e certamente não seriam quem os torcedores convidariam para almoçar, mas Rob Niedermayer, Samuel Pahlsson e Travis Moen (ausente na foto) estão roubando a cena.
(30/05/2007)
30/05/2007     00  
Ottawa 0 0 0 0
Anaheim 0 0 1 1
PRIMEIRO PERÍODO — Gols: Nenhum. Penalidades: M. Comrie, Otw (boarding), 2:17; D. Miller, Anh (interference), 4:50; A. Volchenkov, Otw (boarding), 8:05; S. Thornton, Anh (charging), 12:31; C. Pronger, Anh (slashing), 13:24; M. Fisher, Otw (roughing), 18:07.
SEGUNDO PERÍODO — Gols: Nenhum. Penalidades: T. Preissing, Otw (tripping), 18:04; A. McDonald, Anh (hooking), 19:36.
TERCEIRO PERÍODO — Gols: 1. Anaheim, Samuel Pahlsson 3 (sem assistência), 14:16. Penalidades: Nenhuma.
CHUTES A GOL
Ottawa 7 4 5 16
Anaheim 12 14 5 31
Vantagem numérica: OTW – 0 de 4; ANH – 0 de 4. Goleiros: Ottawa – Ray Emery (31 chutes, 30 defesas). Anaheim – Jean-Sébastien Giguere (16, 16). Público: 17.258. Árbitros: Bill McCreary, Brad Watson.
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Página publicada em 31 de maio de 2007.