Por: Marcelo Constantino

O resultado magro de 1-0 no jogo 2 das finais da Copa Stanley não traduz o domínio absoluto do Anaheim Ducks na partida. Sim, absoluto. Do segundo período inteiro até algum momento depois do único gol da partida só havia um cenário: Ducks atacando e Ottawa Senators se defendendo. Durante esse longo período o disco mal chegava na zona de defesa do Anaheim — e geralmente chegava rifado — e já era dominado por algum jogador do time da casa, que rapidamente saía em busca de mais um ataque. Talvez eu esteja me esquecendo de um ou outro lance que foram exceções a essa regra durante o citado período? Talvez. Mas não apaga a sensação de total comando das ações por parte dos Ducks.

Só depois do gol, marcado por Samuel Pahlsson, é que o Ottawa começou a tentar alguma coisa, mas aí faltavam menos de seis minutos. Até o final do jogo o time canadense conseguiu dois bons momentos de grande pressão. Um deles quando faltavam cerca de três minutos para o fim e o outro já com a rede vazia, já em clima de desespero. Ambos falharam. E, no fim das contas, foi muito pouco. Afinal, durante a maioria expressiva da partida, os Senators atuaram na zona defensiva, ou então de forma defensiva. No fim das contas a breve pressão foi segura pelo Anaheim.

Já a voraz pressão dos Ducks foi segura durante quase todo o jogo, graças em grande parte — mas em grande parte mesmo, porque, para mim, ele foi o grande nome do jogo — pelo goleiro Ray Emery. No começo do terceiro período, com o placar ainda em 0-0, ele fez uma daquelas fantásticas defesas em cima da linha, com o disco no ar, prestes a cair para dentro do gol. Mas não foi suficiente: da mesma forma que Roberto Luongo não faz gol, Emery não podia sair para fazer esse papel que cabe ao ontem inexistente setor ofensivo do time canadense.

Vale ainda lembrar que, mais uma vez, o ataque dos Senators desperdiçou uma chance de vantagem numérica de dois homens, ainda no primeiro período. Não foi insosso, o time especial realmente criou chances, mas não passou por Giguere. Nem naquele momento, nem até o fim da partida.

Dessa vez, ainda que a linha de Ryan Getzlaf tenha feito novamente uma boa partida, sobressaiu a linha de Rob Niedermayer e Samuel Pahlsson. O terceiro jogador da linha, Travis Moen, já havia sido o herói do jogo anterior. O herói de ontem foi Pahlsson. E esta é uma linha de marcação, defensiva, composta por guerreiros. Porém, mais ou menos como o próprio narrador da CBC comentou ontem, é uma linha defensiva de mentalidade ofensiva! Eles geralmente são os escalados para marcar a principal linha ofensiva do adversário e, até o momento, você não tem ouvido falar muito de Jason Spezza, Dany Heatley e Daniel Alfredsson na série (aliás, Heatley foi o jogador que não conseguiu dominar o disco que acabou parando no taco de Pahlsson, e dali só saiu para o fundo da rede de Emery).

Outra função que essa linha cumpre com maestria, e isso eu já vejo desde as finais de conferência, é manter o disco na zona de ataque. Niedermayer (o Rob) é um guerreiro remanescente daquele time de guerreiros que chegou à final da Copa em 2003. Marca bem, faz gols e ainda desce pauladas. Pahlsson é o veloz central que comanda a linha e que dá um toque mais ofensivo. Ofensivamente eles estão superiores até mesmo à linha principal de ataque dos Senators.

Talvez o único ponto positivo do ataque dos Sens na partida de ontem, e isso não cabe exatamente ao trio principal, foi a disposição demonstrada em desferir trancos nos defensores dos Ducks. Isso aconteceu desde o começo e foi o melhor que conseguiram fazer. De um modo geral o jogo de ontem foi um tanto mais físico e menos ofensivo que o jogo 1.

Foi um jogo em que o Ottawa não merecia vencer, de maneira alguma. Se o jogo 1 foi equilibrado, o jogo 2 foi quase que integralmente do Anaheim. Aliás, computando-se apenas os dois primeiros jogos até aqui, os Ducks parecem ter tido mais trabalho com o Detroit Red Wings.

Uma coisa me parece certa: do jeito que jogou ontem o Ottawa não vira essa final. Aliás, nem empata a série, não vence jogo algum. Simplesmente porque não se vence jogos quando você praticamente passa o tempo todo se defendendo. Como os Sens sequer construíram uma vantagem para sentar em cima, o fato de terem ficado atuando daquela forma passiva tem motivo claro: os Ducks estão melhores. Muito melhores.

Mas se eles estão muito melhores assim, porque não venceram por um placar realmente elástico? É uma pergunta que eu me faço e que evidentemente demonstra uma deficiência do time. Ainda que Emery estivesse numa ótima noite, fica claro que os Ducks não souberam traduzir sua supremacia na partida em gols. Porém, mais uma vez, quando a hora começou a apertar, lá foram eles e decidiram com o gol que lhes foi necessário. Enquanto o panorama for esse, está ótimo para o Anaheim.

Marcelo Constantino está curtindo alguns dos cinco dias de frio que o Rio de Janeiro tem anualmente.
Mark J. Terrill/AP
O grande nome do jogo de ontem, Ray Emery parou tudo, exceto esse gol.
(30/05/2007)
30/05/2007     00  
Ottawa 0 0 0 0
Anaheim 0 0 1 1
PRIMEIRO PERÍODO — Gols: Nenhum. Penalidades: M. Comrie, Otw (boarding), 2:17; D. Miller, Anh (interference), 4:50; A. Volchenkov, Otw (boarding), 8:05; S. Thornton, Anh (charging), 12:31; C. Pronger, Anh (slashing), 13:24; M. Fisher, Otw (roughing), 18:07.
SEGUNDO PERÍODO — Gols: Nenhum. Penalidades: T. Preissing, Otw (tripping), 18:04; A. McDonald, Anh (hooking), 19:36.
TERCEIRO PERÍODO — Gols: 1. Anaheim, Samuel Pahlsson 3 (sem assistência), 14:16. Penalidades: Nenhuma.
CHUTES A GOL
Ottawa 7 4 5 16
Anaheim 12 14 5 31
Vantagem numérica: OTW – 0 de 4; ANH – 0 de 4. Goleiros: Ottawa – Ray Emery (31 chutes, 30 defesas). Anaheim – Jean-Sébastien Giguere (16, 16). Público: 17.258. Árbitros: Bill McCreary, Brad Watson.
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Página publicada em 31 de maio de 2007.