Por: Michael Farber

O comitê da Mensa International reuniu-se para uma sessão de emergência ontem à noite, no Sul da Califórnia, e, depois de alguma deliberação, decidiu recusar a ficha de inscrição do central Ryan Getzlaf, segundo-anista do Anaheim Ducks, que aparentemente deixou seu cérebro no guarda-volumes do estádio no exato momento em que ele deu um choque em cruz no ponta direita Mike Comrie, do Ottawa Senators, que o levou ao gelo no segundo período.

O estimável Scott Niedermayer também não deverá ser convidado para o próximo luau dos donos de altos QIs, depois de acertar com o taco alto Chris Neil, um dos menos perigosos atacantes dos Senators, no primeiro minuto do jogo.

Duas penalidades sem sentido cometidas pelos Ducks. Dois gols em vantagem numérica para o Ottawa, na verdade as únicas oportunidades em que os Senators, subitamente impotentes, deram sinais de vida.

Os Ducks, um time fisicamente dominante que venceu o jogo 1 das finais da Copa Stanley por 3-2, graças ao gol no fim de Travis Moen, são mais que um time; são um drama em cinco atos: Hamlet no gelo, fabuloso, mas defeituoso.

Estes Ducks confundem-se muito mais do que deveriam para o próprio bem.

OK, o Anaheim joga com um estilo realmente áspero, o que vai resultar em um número razoável de penalidades. Mas 19,2 minutos por jogo nos playoffs ao longo das três primeiras fases, basicamente um período por jogo, não é um número razoável. É uma fórmula para o fracasso. Mesmo com matadores de penalidades confiáveis como o central Sami Pahlsson e defensores como Niedermayer e Chris Pronger — que, em uma rara ocorrência no cinco contra cinco, somaram forças para lidar com a linha principal dos Senators, composta por Jason Spezza, Dany Heatley e Daniel Alfredsson —, a negligência colocou o time em perigo. Os Ducks estão sempre à procura do equilíbrio entre força e disciplina, mas por vezes demais eles passam do limite e caem no abismo. Os Ducks vão conseguir suas vantagens numéricas porque uma marcação incansável vai forçar os Senators a cometer algumas penalidades ocasionais — tantos corpos do Ottawa foram mandados pelos ares ontem, que parecia que eles deram início às finais da Copa Stanley e um jogo de boliche irrompeu —, mas suas próprias penalidades pareciam em sua maioria ser fruto de uma falta de disciplina. Em um esporte mais cavalheiresco, elas poderiam ser chamadas de erros não forçados.

Antes das finais, o gerente geral do Anaheim, Brian Burke, disse à SI.com que o número de vantagens numéricas que seu time permitiu nos playoffs — com um jogo a mais nas três primeiras fases, foram 17 desvantagens numéricas a mais que os Senators — não era um foco de "preocupação". Mas, completou ele, seria objeto de ênfase por parte da comissão técnica. Claramente, a mensagem do técnico Randy Carlyle está sendo filtrada por algum tipo de mentalidade durona, em que a testosterona de vez em quando se sobrepõe ao bom senso.

A penalidade de Niedermayer foi uma daquelas suaves no começo dos jogos que hoje andam tão predominantes na NHL, onde juízes querem estabelecer um padrão rigoroso desde o faceoff inicial. Se não estivéssemos nas finais da Copa, em que cada jogada é minuciosamente estudada, ele poderia ter o benefício da dúvida. Mas Getzlaf não tem nenhuma desculpa, e não, seu gol de empate aos seis minutos do terceiro período — um hábil chute de backhand que pareceu ter iludido o goleiro Ray Emery por entre as pernas — não limpa sua barra. Getzlaf deu choques em cruz em Comrie atrás do gol dos Ducks repetidamente, safando-se em ao menos uma, e possivelmente duas oportunidades que mereciam uma penalidade. Já que o juiz não fazia nada, aparentemente ele pensou "Que se dane" e foi atrás de Comrie de novo, desta vez realizando a profecia.

"Obviamente, eu fui meio que agressivo demais", reconheceu Getzlaf depois do jogo. "Eu dei um golpe a mais do que deveria, e eles [os árbitros] ficam de olho nesse tipo de coisa nesta época do ano."

Como o técnico dos Senators, Bryan Murray, destacou sucintamente, a linha de tranco do Anaheim ficou cabeça a cabeça com os astros do Ottawa e acabou marcando o gol da vitória, que "simbolizou o jogo em poucas palavras". Realmente, a linha de Pahlsson jogou muito melhor que a de Spezza, Heatley e Alfredsson. Surpreendentemente, Spezza jogou sem absolutamente nenhuma convicção, enquanto Alfredsson teve menos gelo à sua disposição do que em qualquer outro momento dos playoffs. O Ottawa tinha jogado alguns maus períodos na pós-temporada — o terceiro período do jogo 2 contra o Pittsburgh, na primeira fase, o primeiro período do jogo 4 na terceira fase, contra o Buffalo —, mas nunca tinha sido destruído como agora, o que acaba por ser um tributo à dedicação dos Ducks. Esta é a primeira vez que os Senators ficam atrás em uma série.

O Anaheim teve sucesso apesar de suas bobagens, provando que pode ser engenhoso o bastante para vencer apesar de sua tendência a cometer penalidades. Mas se alguns dos jogadores dos Ducks insistirem em se comportar como bichos bobos, esta poderá ser uma longa série.

Michael Farber é jornalista da revista Sports Illustrated. O artigo foi traduzido por Alexandre Giesbrecht.
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Página publicada em 29 de maio de 2007.