Há momentos no hóquei em que um time precisa não somente demonstrar, mas também reiterar o seu instinto matador. Se o time não faz isso, acaba por dar esperança, motivação e energia ao adversário. A história do jogo 1 da final da Copa Stanley de 2007, entre Anaheim Ducks e Ottawa Senators teve um pouco disso.

O time de vantagem numérica (VN) do Ottawa não marcava um gol há três partidas, totalizando 16 chances consecutivas desperdiçadas. Mal a partida de ontem começou e o time canadense já demonstrou um instinto matador ao capitalizar logo na primeira oportunidade de VN, no primeiro chute a gol, decorrido apenas o primeiro minuto completo de jogo.

Os Ducks empataram no meio do período, mas no segundo os Sens novamente puniram uma penalidade do time da casa e retomaram a vantagem no placar. Um belo disparo da linha azul de Wade Redden recolocava os Sens na frente e reiterava aos Ducks que o instinto matador estava presente.

Mas aí veio a falha. No momento em que era necessário reiterar, ainda que novamente, aquele instinto matador — não apenas reiterar, mas sobretudo deixar claro que uma oportunidade daquelas não seria desperdiçada. Afinal, dois minutos depois de tomar o segundo gol, o Anaheim cometia duas penalidades seguidas e ficava com dois homens a menos. Seriam cinco jogadores contra três durante praticamente um minuto e meio.

E o Ottawa falhou. Não puniu. Não reiterou o instinto matador. Pior ainda, quase sofreu um gol no final da VN. Mas não foi apenas isso: o time sentou sobre magra vantagem e diminuiu a intensidade no ataque. Era tudo o que os Ducks pediram.

Daquele ponto em diante o Anaheim tomou conta do jogo e o Ottawa só foi acordar quando o jogo já estava empatado. Só que os Ducks mantiveram o padrão de jogo e o que tivemos foi um terceiro período sensacional, especialmente os últimos sete ou oito minutos.

Ryan Getzlaf — novamente a linha dele foi a melhor do jogo — empatou o jogo num gol que um goleiro não pode levar numa final de Copa Stanley, e dali em diante a temperatura da partida só cresceu. Quando o herói da noite, Travis Moen, marcou o que seria o gol da vitória, faltavam apenas três minutos. Ou seja, mais uma vez o Anaheim Ducks demonstra que sabe decidir um jogo (ou ainda reverter o que parecia decidido) quando a hora H se aproxima. Gol da vitória, ou de empate, em final de partida é sempre valiosíssimo. Em final de partida da Copa Stanley então...

Foi um grande jogo, típico de final de Copa Stanley, ofensivo e com vários lances de gol. Talvez os Sens tenham sentido a semana inteira sem hóquei, mas isso soa mais como desculpa de quem perde. Faltou um pouco do brilho do capitão Daniel Alfredsson, que, por duas vezes no terceiro período, andou perigosamente perdendo o disco na entrada de sua zona defensiva. Se faltou brilho do capitão, sobrou do defensor Anton Volchenkov, que terminou a partida tendo bloqueado nada menos que dez discos.

Como resumo geral o jogo foi equilibrado, mas os Ducks mostraram novamente que sabem vencer jogos quando a hora aperta. E essa é uma qualidade digna de campeão de Copa Stanley.