Por: Alexandre Giesbrecht

Duas semanas atrás, escrevi neste espaço sobre abriga de foice pelas duas últimas vagas do Leste. Naquela ocasião, o 7.º e o 11.º colocados estavam separados por míseros dois pontos. Com pouco menos de um mês por jogar, havia tempo suficiente para algum dos times disparar e outro ganhar uma ligeira folga, então aquela parecia ser a hora certa para uma coluna sobre o assunto.

Afinal, quanto tempo mais tal situação duraria.

Não sei. E é por isso que estou escrevendo de novo sobre o assunto. Porque a coisa piorou. O 7.º e o 11.º colocados ainda estão separados por dois pontos, mas o 6.º agora se juntou, ainda que a contragosto, ao grupo, já que tem só um ponto a mais que o 7.º. Quer dizer, a contragosto não, porque o sexto colocado há duas semanas era o Tampa Bay, e hoje é o New York Rangers, que estava fora do grupo dos oito há 14 dias. Supondo que Canes, Leafs e Isles ganhem os jogos que têm a menos que Rangers, Bolts e Habs, teríamos seis times com o mesmo números de partidas disputadas, um com 87 pontos e cinco com 86. Quer equilíbrio maior?

Apostei em Isles e Canes como os dois times a ganhar as duas últimas vagas, justamente por serem os dois times com menos problemas. Mas a aposta baseada na quantidade de problemas não acabou sendo das mais felizes, ao menos por enquanto. Ambos estão fora da zona de classificação. E mesmo o Lightning, que parecia estar caminhando para garantir sua vaguinha, vem em queda livre, perdeu uma posição e corre o risco de perder mais.

E você vai dizer que o Lightning, com Vincent Lecavalier — o primeiro jogador na história da franquia a marcar cem pontos — e Martin St. Louis ainda razoavelmente próximos do topo da tabela de artilheiros, é um time com problemas? Tirando a má fase de Brad Richards, que pode acabar a qualquer momento (ou não), e a indecisão quanto ao goleiro titular, o time não deveria ter tantos problemas para ganhar a vaga. O caminho para ela, aliás, passa pela Carolina do Norte: eles terão os Hurricanes pela frente duas vezes nos últimos cinco jogos. Pode-se até dizer que o calendário foi gentil para com o Tampa Bay, já que os outros adversários (Washington, Florida e Atlanta) não metem tanto medo.

Outro ponto a favor do Lightning é que, apesar de estar só dois pontos à frente do nono colocado, ele também está apenas dois pontos atrás da primeira colocação da divisão — o que, na prática, vale a terceira posição no Leste, com mando de gelo ao menos na primeira fase. Um detalhe nessa matemática é que pesa, já que ambos os concorrentes têm um jogo a menos.

Já os Rangers pareciam destinados a ratear no fim da temporada, ainda mais depois que Brendan Shanahan caiu contundido. Mas ele voltou na semana passada e já tem cinco assistências em quatro jogos, embora ainda não tenha marcado gol algum. Agora, na enfermaria sobraram alguns jogadores que vinham de qualquer jeito sendo alvos da torcida, como Marcel Hossa e Kevin Weekes.

A contusão de Weekes, além de ter alegrado boa parte da torcida, serviu ainda para sobrecarregar o goleiro titular Henrik Lundqvist. "Sobrecarregar" talvez não seja a palavra certa. Afinal, entre seu último dia de folga e a derrota em Montreal na terça-feira, o sueco sofrera apenas 14 gols em 11 jogos. Seus excelentes números não param por aí. Até terça-feira, fazia quase dois meses que ele não sofria mais de três gols em uma partida.

Os camisas azuis chegaram a colecionar cinco vitórias seguidas na última semana e só tinham perdido um jogo no tempo normal em suas últimas 14 partidas, mas caíram no já citado confronto em Montreal. Tivessem os Rangers vencido a partida, teriam dado um passo importantíssimo na direção dos playoffs. Como não venceram, deixaram a situação se manter interessante, e todos os adversários diretos agradecem.

Os Canadiens, é claro, comemoraram bastante, porque foi o chamado jogo de quatro pontos. Se a luta continuar acirrada, os Habs terão ainda mais dois jogos de quatro pontos, justamente os dois últimos, contra Rangers e Maple Leafs, isso depois de pegar os já eliminados Bruins. Parece o ideal, não? Até seria, se os dois próximos jogos não fossem contra os perigosos Senators e os Sabres, líderes da conferência.

O problema é que, depois de um grande começo de temporada, seguido de uma queda livre que lembrou um zepelim de chumbo — não como a banda Led Zeppelin, claro, que sempre esteve no topo das paradas, mas um zepelim sem metáfora alguma —, o time demorou para se recuperar. As sete vitórias em casa seguidas, por exemplo, parecem ter vindo mais tarde do que deveriam.

Chegando aonde chegarem, o herói dos Canadiens nesta temporada sem dúvida é Sheldon Souray. Ele já é o primeiro defensor do Montreal a alcançar 60 pontos em uma temporada desde 1988-89, quando Chris Chelios marcou 73.

Souray não carregou seu time sozinho, é verdade. Mas Rick DiPietro, goleiro dos Islanders, quase o fez. Foram dele 32 das 36 vitórias do time, e outros números também comprovam essa dependência, como a média de 2,58 gols sofridos e o percentual de 91,9% de defesas. Nada mau para alguém que está na primeira temporada de um contrato de 15 anos.

E ele vai ter de continuar atuando dessa maneira, se quiser que seu time sobreviva depois do domingo de Páscoa. A tabela não foi nada generosa para com os Isles, que ainda têm pela frente Sabres, Senators e Devils, além dos adversários diretos Rangers e Leafs e os Flyers, que neste fim de temporada têm sido uma incógnita, roubando pontos de times que já contavam com a vitória.

O último candidato a uma das três vagas é o Toronto. A tabela nem é das mais difíceis, com Atlanta, Pittsburgh, Philadelphia e mais três partidas de matar ou morrer, contra Rangers, Islanders e Canadiens — esse jogo, especificamente, tem tudo para ser eletrizante, ainda mais se dele depender a classificação de um dos times ou de ambos.

Mas o comportamento da equipe tem sido meio estranho. Na sexta-feira, os Leafs venciam os Sabres por 4-1 no terceiro período. Poucos minutos depois, o jogo terminava com a vitória do Buffalo, ainda no tempo normal, por 5-4. No dia seguinte, nova partida contra os líderes do Leste. E os 4-1 construídos ao longo do jogo viraram o placar final. Nessa partida, a atuação defensiva em especial foi boa, já que o melhor ataque da liga limitou-se a 20 chutes a gol.

Ao contrário de duas semanas atrás, não arrisco mais palpites. A briga está boa demais para se perder tempo com uma bola de cristal que não é lustrada há muito tempo.

Alexandre Giesbrecht, publicitário, está começando a ler a biografia de Roberto Clemente.
Andy Marlin/Getty Images
Henrik Lundqvist. Mas pode chamar de MVP dos Rangers.
(25/03/2007)
Mike Carlson/AP
Vincent Lecavalier e Martin St. Louis acumulam pontos, ao contrário de seu Lightning.
(16/03/2007)
Ian Barrett/CP/AP
Michael Ryder (centro) comemora gol contra os Rangers, em partida que ajudou a manter viva a briga com seis times.
(27/03/2007)
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Página publicada em 28 de março de 2007.