Um debate levanta-se na NHL. As brigas devem ser abolidas? Bem, do
que conheço de meus colegas de TheSlot.com.br, a resposta é um estrondoso não. Eu
também não vejo por que abolir as brigas. Alguns incidentes começam a
acontecer, como o soco sem aviso de Jordin Tootoo dos Predators contra o
defensor Stephane Robidas dos Stars, o taco na cara de Chris Simon dos
Isles contra Ryan Hollweg dos Rangers ou vamos cavucar ainda mais. Aquele
tranco de Todd Bertuzzi, então nos Canucks, sobre Steve Moore do Colorado Avalanche. Aí, as velhinhas moralistas começam a culpar a "violência" de um modo geral.
Vou contar uma história, que na verdade foi o que causou essa
discussão, além dos incidentes acima.
Último jogo dos Rangers contra os Flyers.
A equipe de Nova Iorque venceu por estrondoso 5 a 0. Mas o grande fato
do jogo foi logo no começo. Os Rangers mandaram para o gelo uma linha
com Matt Cullen e os agitadores Ryan Hollweg e Colton Orr. Os Flyers,
então, mandaram o brigador Todd Fedoruk, porque eles entenderam que os
Rangers estavam mandando uma mensagem de que queriam brigar. Fedoruk chamou Orr
pra briga e os dois derrubaram as luvas. Orr acertou um soco em cheio na
cara de Fedoruk e ele caiu no chão. Orr recebeu uma penalidade de cinco
minutos por brigar, tudo como diz a regra. Nada de errado com essa
briga ou como qualquer outra. Mais tarde, na mesma partida, foi a vez do
brigão Ben Eager dos Flyers dar o troco em Orr e vencer.
Discussões começaram, sobre a gravidade da contusão de Fedoruk, mesmo a briga tendo sido limpa. Mas muitos esquecem que na partida anterior
entre as duas equipes, o próprio Fedoruk e Derian Hatcher intimidaram fisicamente os Rangers, especialmente o capitão Jaromir Jagr. Ou
seja, impuseram-se completamente. Naquele jogo, o treinador
novaiorquino disse ter sido um erro não ter escalado Orr, para evitar abusos dos arruaceiros adversários. E com Orr neste segundo jogo, ficou claro
para os Flyers que os Rangers não tolerariam isso e que nem tentassem folgar
pra cima de suas estrelas.
As brigas, fazem parte do hóquei desde seu princípio. Sua
popularização aconteceu especialmente nas décadas de 60 e 70, com aquela equipe
famosa dos Flyers, os Broad Street Bullies, de jogadores como Tiger Williams, e
com até um dos maiores de todos os tempos, Gordie Howe, com seu famoso "Gordie Howe Hat Trick", que consiste em um gol, um assistência e uma briga.
Não temos como ignorar que muitas equipes e treinadores mandam seus
jogadores com menos talento — os Rangers mesmo tem Sean Avery e Ryan Hollweg
pra fazer isso — caçar as estrelas e irritá-los. Mas muitas vezes isso é extrapolado com trancos pelas costas, joelho contra joelho (a famosa "paulistinha") ou uso do taco ou cotovelo de maneira inadvertida. Uma
das maneiras que as equipes têm é mandar seus brigões tomarem as dores
da estrela, que normalmente não é um jogador de briga. Com isso, os
times protegem aqueles que realmente decidem a partida. Por isso, mesmo com
a evolução do jogo, com o aumento da habilidade e as novas regras que permitem menos contato e um melhor fluxo no gelo, todos os times
sempre levam um ou dois agitadores caso a equipe adversária resolva começar a
caça pelas estrelas.
Isso começou mesmo na década de 80. Porque antes disso, os próprios jogadores resolviam seus problemas no gelo. Se você começava a ser
caçado, você mesmo ia lá e resolvia suas diferenças.
Para muitas estrelas, como Jeremy Roenick e Keith Tkachuk, está
faltando respeito aos novos jogadores. O que é verdade. Incidentes
como esses, de jogadores se agredindo inadvertidamente, contato físico
desnecessário, estão começando a ficar mais comuns.
Você não via os jogadores tentando se machucar —
claro, com exceção de um Dale Hunter aqui e ali. Para
muitos, inclusive eu, isso só aumentou com a nova regra que manda
para o banco por dois minutos os jogadores que iniciem uma briga. A
idéia da regra era coibir que as brigas acontecessem por qualquer
motivo ou pior, sem motivo. Mas agora um jogador tem que pensar duas
vezes se vale à pena defender seu companheiro.
Nem toda briga é boa. Muitas realmente não faziam sentido. Alguns jogadores se provocavam durante a semana e depois trocavam socos. Mas quando a estrela do time é perseguida, alguém tem que chegar e
mostrar que não se mexe com ele. Muitas linhas sempre tiveram alguém para
proteger os grandes jogadores. Peter Worrell jogou algum tempo com Pavel Bure
quando esteve jogava nos Panthers. Os Penguins tinham Kevin Stevens e
Rick Tocchet que mantinham os rufiões afastados de Mario Lemieux, Ron
Francis e Jaromir Jagr.
O que está acontecendo de errado não são as brigas. Quando um Todd
Fedoruk sai carregado por uma maca, ele sabe do risco que corre ao enfrentar
uma briga. Ou ainda, que pensasse antes de dar um tranco violento em Jagr no jogo anterior, já que seria óbvio que os Rangers buscariam
retaliação.
Agora, usar o argumento que as brigas tiram os fãs do esporte, essa
não dá pra engolir. Quando os Rangers foram campeões em 94, o hóquei era o
quarto maior esporte e sua popularidade atingia níveis recordes. Coincidentemente, Bettman havia recém sido empossado. Ele, um antigo executivo da NBA, que fez medidas extremamente "positivas", como
expansões para cidades quentes e sem tradição alguma de hóquei — se o time que
você torce está numa cidade dessas, desculpe-me, mas eu não concordo com
30 times — ou mudar tradicionais nomes das divisões (Adams, Norris,
Patrick, Smythe) e conferências (Prince of Wales e Clarence Campbell). Além
disso, o que para mim foi o principal, ele conseguiu paralisar metade da temporada seguinte com um locaute. Os times jogaram meia temporada
apenas e convenhamos, isso afasta os novos fãs. A conquista dos Rangers em
94 foi cheia de glamour, não há como negar. A franquia que joga em
Manhattan, na Broadway. Toda aquela história de 54 anos sem títulos, um capitão carismático como Messier. Bettman simplesmente arruinou tudo. E
agora, dizer que as brigas são um olho roxo para a liga, soa simplesmente ridículo.