Prova A: Marc-André Fleury, primeira escolha geral do recrutamento de 2003, é mandado para a AHL pelos Penguins pela terceira vez nesta temporada. Isso um dia depois de parar 45 chutes na vitória por 3-2 na prorrogação sobre os Flyers na Filadélfia.

Prova B: os Ducks trocam Sergei Fedeorov e seu salário de US$ 6,08 milhões para o Columbus, que, logo depois, manda Todd Marchant para a AHL via desistência para eliminar seu salário de US$ 2,47 milhões da folha de pagamento.

Bem-vindo à nova NHL.

Se você tinha alguma dúvida que uma revolução tinha acontecido quando a liga e a Associação de Jogadores chegaram a um acordo em julho, considere as curiosidades citadas acima. De agora em diante, livrar-se de salários vai ser tão comum quanto congestionamento na Avenida Rebouças depois do túnel da Marta (quer dizer, nem tão comum assim).

Voltando à prova A, Fleury tem um custo para o time de cerca de US$ 1 milhão, com o agravante de, a partir da sua 25.ª partida (em que tiver jogado mais de 20 minutos), ele ter direito a bônus de performance facilmente atingíveis. Um contrato polpudo demais para os Penguins se eles tiverem a intenção de se manter abaixo do teto salarial alternativo da NHL.

Ah, você não ouviu falar do TSAlt? O nome fui eu que dei, mas ele existe, mesmo: é uma linha divisória cujo gatilho são US$ 29 milhões de folha de pagamento. Quem estiver acima desta linha tem de financiar o dinheiro que será, ao final da temporada, dividido entre os times que estiverem abaixo da linha.

Apesar de todo o dinheiro investido em veteranos, os Penguins ainda estão abaixo da linha. Mas se o jovem Marc-André — o salvador do time até o surgimento de Sidney Sei-Lá-O-Quê — jogar na NHL e atingir seus bônus, os Pens vão ultrapassar a linha do TSAlt, um golpe violento para uma franquia que projetava prejuízo de mais de US$ 7 milhões mesmo se vendesse todos os ingressos da temporada (algo que já não vai mais acontecer) e se chegasse à segunda fase dos playoffs (algo que parece a cada dia menos certo).

Melhor mandar Fleury para a AHL e ficar com Sebastien Caron a um preço muito mais camarada, US$ 646 mil. Com isso, o Pittsburgh se mantém na briga pela Copa Bettman, troféu que deveria surgir para ser dado ao time que melhor combinar gols e parcimônia (desde que essa moderação não passe de US$ 29 milhões).

Uma característica inerente aos times competindo pela Copa Bettman é a relutância extrema em passar do TSAlt, mesmo que isso leve à melhora dos seus plantéis. Esses times com espaço dentro do teto salarial real, de US$ 39 milhões, mudariam suas cores para rosa choque antes de contratar figurões na data-limite de trocas, se isso fizer com que eles tenham de ser devedores ao invés de credores no final da temporada.

Esta característica explicada, por que não damos uma olhada na classificação (até sábado) dos times brigando pela Copa Bettman? 1) Carolina, 29 pontos; 2) Nashville, 27; 3) Phoenix, 22; 4) Buffalo, 20; 5) Minnesota, 20; 6) San Jose, 19; 7) Pittsburgh, 18; 8) Washington, 16; 9) Florida, 16; 10) St. Louis, 11 (neste instante, os Blues estão acima do TSAlt, mas provavelmente vão estar abaixo em abril).

Isso nos traz de volta à prova B. O bom e velho Fedorov era uma pedra de US$ 6 milhões amarrada ao pescoço orçamentário do gerente geral Brian Burke em Anaheim, onde os Ducks estavam chegando muito perto do teto salarial real. Felizmente, ele achou um GG desesperado em Columbus, Doug MacLean, que tinha um time sofrível nas mãos e precisava de ajuda imediata.

Voilá! Burke foi o primeiro GG na temporada a se livrar de ativos não produtivos (e caros), criando espaço no seu orçamento e amarrando o contrato-âncora de Fedorov ao barco de MacLean. Quem sabe se os Ducks continuarem com a folha apertada eles venham até a entrar na disputa pela Copa Battman livrando-se de figurões como Jean-Sebastien Giguere (US$ 3,9 milhões), Sandis Ozolinsh (US$ 2,75 milhões), Keith Carney (US$ 2 milhões) ou Petr Sykora (US$ 3,1 milhões). Tudo que ele precisa é de mais MacLeans.

Até que é um jogo divertido, e você pode jogar também! Tente, por exemplo, ligar contratos inchados como o de Keith Tkachuk (US$ 7,6 milhões) ou o de Doug Weight (US$ 5,7 milhões) ao seu respectivo GG desesperado.

Na verdade, quando a data-limite chegar, em fevereiro, é bem possível que tenhamos 30 vendedores e nenhum comprador, por isso é bom que quem tiver de se livrar de grandes contratos de longa duração o faça rápido ou sofra o impacto da nova realidade econômica em meados do ano que vem.

Também vai ser interessante o cenário lá por novembro ou dezembro do ano que vem, quando cair a ficha dos contratos pecaminosos em certas cidades. A não ser que o comissário consiga aumentar dramaticamente as receitas da liga, o teto salarial apertado vai funcionar como um garrote para esses times.

Atlanta, Colorado, Detroit, New Jersey, Philadelphia, Tampa Bay e Toronto estão entre os 11 times que já estão batendo a cabeça no teto de US$ 39 milhões. E ainda há times que têm espaço de manejo dentro do teto salarial real e não estão precupados em ficar abaixo do TSAlt, como o Calgary. Os Flames têm condições de contratar o atacante de que precisam e ainda estão na confortável situação de não ter nenhum comprometimento contratual que se estenda além de 2008.

Mas achar clubes como o Calgary em fevereiro, com dinheiro e vontade de gastá-lo, será como procurar um político honesto em Brasília: você sabe que eles existem, mas vai ter de procurar muito, mas muito bem para achá-los.

Não é de se admirar, com a sedução da Copa Bettman encarando todo mundo de frente.


Alexandre Giesbrecht, 29 anos, foi no último sábado até o Canindé dar uma força à Portuguesa na Série B, mas não adiantou: ela perdeu para o Náutico por 2-0.
PROVA A Fleury fez 45 defesas contra os Flyers, mas foi mandado para a AHL no dia seguinte. Se ele tivesse conseguido um shutout, teria sido banido do hóquei? (Jim McIsaac/Getty Images - 16/11/2005)
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Página publicada em 23 de novembro de 2005.