Nosso editor-chefe Alexandre Giesbrecht é um homem mau, muito mau. Além de um salário de fome, que sempre chega com semanas de atraso, ele submete os colunistas da TheSlot.com.br a cargas horárias de trabalho que fariam os escravos do período colonial achar que o tronco era uma colônia de férias. Mas o pior são as colunas recusadas. Por acaso você já viu aqui nesta publicação eletrônica elogios ao defensor Brendan Witt, que um dia ousou acertar Mario Lemieux? Já viu colunas recentes sobre o New York Islanders, equipe que tirou dos Penguins o direito de sonhar com o tricampeonato da Copa Stanley em 1993? Claro que não, amigos. Se você sequer tocar no nome de David Volek — o tcheco que marcou, na prorrogação da sétima partida, o gol que fez os Isles eliminar os Pens nos playoffs de 93 —, você está imediatamente com um pé fora do quarteirão da TheSlot.com.br. A última do germano-brasileiro foi vetar a "All-Ovechkin-edition"!

Uma edição com todos os colunistas falando sobre o gênio russo e sua demolidora capacidade de enviar os discos para as redes. Foi feita até mesmo uma montagem com os principais lances de Ovechkin até agora na temporada, e, para espanto de todos, ele não demonstrou interesse. Como pode um ser humano assistir a Alexander Ovechkin humilhar os adversários rumo à meta contrária e não soltar nem um "&*~# que pariu, esse cara é #@*%!"?

Mas esse é nosso editor-chefe. Um homem sem emoções. Devido a esse hediondo veto, pensei em nem mesmo escrever para esta edição, mas isso significaria uma redução de aproximadamente dez centavos no meu contracheque e também decepcionaria meus três (não me abandonem, por favor!) fiéis leitores. Por isso — e como protesto —, trago agora a matéria mais cretina da gloriosa (?) existência da sua, da minha, da nossa revista semanal de hóquei em português: o passado e o presente do hóquei sobre o gelo na Romênia. Indicado apenas para os que têm sede pelo inútil e fome pelo intranscendente. Desfrute, se puder.

Começamos com um dado triste: nunca tivemos um jogador romeno atuando na NHL. Até a Nigéria — com o orgulho de Zaria, Rumun Ndur — teve essa honra. Líbano, Haiti, Jamaica e até mesmo, como todos sabem, nossa pátria amada, Brasil, e seus dois representantes já viu (no nosso caso, ainda estamos acompanhando) um dos seus patinando na mais prestigiosa e rentável liga de hóquei do mundo.

Porém esse pequeno detalhe não condiz com o que já aconteceu pelos rinques romenos nos últimos 50 anos. Em 1999, por exemplo, a seleção local ficou em segundo lugar no grupo C (que corresponde à terceira divisão) do Campeonato Mundial de hóquei. Se você já acha isso um feito louvável, fique sabendo que a Romênia já participou também do grupo A! Para termos uma idéia de como foi, voltaremos ao longínquo ano de 1931.

Em sua estréia na elite do hóquei mundial, a Romênia não foi muito bem, perdendo as cinco partidas que disputou e ficando em último na competição, que contou com dez equipes. Sofreu quase incontáveis 49 gols e marcou dois nesses cinco jogos. A estréia foi contra os Estados Unidos, na cidade de Krynica, Polônia, onde foi disputada a competição. O placar foi de 12-0 a favor dos sortudos ianques. A derrota foi cruel, mas aquele 2 de fevereiro de 1931 jamais seria esquecido pelo povo romeno.

Apesar da campanha, digamos, meio frouxa do selecionado, a equipe permaneceu na divisão de elite e no mundial de 1933, em Praga, obteve suas primeiras duas vitórias em mundiais. Para provar que o nível já estava melhor, sofreram apenas 19 gols em cinco partidas.

Só que, quando a coisa começou a melhorar, surgiu aquele medo de não sustentar o sucesso obtido e de decepcionar. Isso acabou não acontecendo com os bravos discípulos do Conde Drácula, e, em 1934, no mundial disputado em Milão, o time ficou na antepenúltima colocação! Como gostaria de estar em solo italiano naquela época para ver os romenos tirar um sarro dos belgas e dos franceses — os dois que ficaram abaixo dos romenos.

Esquecendo um pouco o sucesso nas competições internacionais, vamos ver como foram as primeiras partidas em solo romeno. Os primeiros jogos disputados no país datam de 1921, na localidade de Miercurea. A associação de hóquei local foi fundada pouco depois, em 1924, e rapidamente ingressou na Federação Internacional de Hóquei sobre o Gelo. Um ano depois, foi realizado o primeiro campeonato local, vencido pelo esquadrão do Brasovia Brasov.

Até 1927, essa associação se submetia aos mesmos responsáveis pelos outros esportes de inverno do país, mas o hóquei no gelo romeno ficou grande demais e foi criada a Federatia Romana de Hochei pe Gheata — que vou manter assim mesmo, em romeno, porque sei que meus três leitores têm amplo domínio da língua dos Ceucescus.

O que atrapalhava era a ausência de rinques artificiais, até que, no esplendoroso ano de 1958, alguns foram construídos nas cidades de Bucareste, Galati e Miercurea Ciuc. Treinadores russos e tchecos chegaram para aperfeiçoar o hóquei romeno.

Uma coisa que atrapalha nossa análise é o fato de a Romênia ter tido duas competições nacionais durante muito tempo: o campeonato nacional e a liga nacional. Ambas proporcionaram disputas tão sangrentas que fariam com que o Conde Drácula babasse se estivesse nas tribunas locais. Nos primeiros anos, quem dominou a cena foi o TC Roman, da capital Bucareste. Depois surgiram equipes para desafiá-lo, como HC Rapid, Dragos Voda (belo nome para um time de fantasy!), Venus e HC Bragadiru. A cidade de Miercurea Ciuc viu o sonho de ter uma equipe campeã romena se tornar realidade em 1949, quando o Avintul surpreendeu os favoritos e ficou com a taça.

Depois do Avintul, a cidade que hospedou a primeira partida de hóquei em solo romeno também viu o Vointa ser campeão em 1963. Foi o último ano em que um time de fora da capital ficou com a taça. Começaria aí o domínio do Dínamo e do Steaua Bucareste, equipes que também reinavam no futebol local. De 1964 a 1996 só dava eles. O ano de 1986 foi mágico para o Steaua, time do coração (?) do ditador Nicolae Ceaucescu. A agremiação foi campeã européia de futebol, vencendo o Barcelona nos penais e — mais transcendente ainda — campeã da liga de hóquei pelo quinto ano consecutivo.

Os torcedores do Dínamo ainda viram mais títulos do Steaua, num total impressionante de 14 campeonatos vencidos consecutivamente pelos craques do ditador, coisa que nem mesmo o Podhale Nowy Targ, na liga polonesa, o Montreal Canadiens, na NHL, ou o América, no campeonato mineiro de futebol, conseguiram! Quatorze campeonatos seguidos!

O nobre leitor deve estar curioso para saber os nomes das feras do Steaua na época, não está? Paul Burada, que teve uma temporada fantástica em 1991-92, Marius Gliga, maior pontuador da liga nas temporadas de 1991-92, 1993-94, 1994-95, 1996-97, e o Dallas Drake romeno, Andrei Petrus Nutu.

Finalmente apareceu alguém para dar um basta a esse domínio do Steaua. Esse alguém foi o SC Miercurea Ciuc, campeão em 1997. Com o goliero Szabolcs Molnár em estado de graça e os craques Csaba Gál e Levente Elekes (maior pontuador da liga em 1994-95 e 1998-99) produzindo dezenas de pontos, não teve como a equipe não ser campeã.

Nessa época já existia até mesmo uma segunda divisão romena de hóquei e uma liga júnior. Isso, porém, não evitou o trágico rebaixamento da seleção em 1995, quando passou da segunda para a terceira divisão do Mundial. Nessa complicada divisão, a seleção mediu forças com seleções de calibre pesado, como Bulgária, Holanda, Croácia, Coréia do Sul (?), Estônia e Nova Zelândia.

Em breve trarei, em minhas colunas mistas, mais atualidades do hóquei romeno. Fico por aqui, com o sentimento de vingança cumprido. Com essa coluna, mancho a reputação da revista, ganha com anos de sacrifício. Até a próxima semana.


Eduardo Costa garante a veracidade da informações acima e indica este site para você conferir todos os campeões da Romênia.

CLÁSSICO Steaua x Miercurea-Ciuc: ambulância já pronta, ao fundo, mostra como são intensos os jogos da liga romena. Já as arquibancadas... (www.sportclub.ro)
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Página publicada em 23 de novembro de 2005.