Nada mais emblemático do que um defensor capitanear os Bruins em sua sexta copa Stanley.
Bruins é a organização mais proficiente na posição na história da NHL, se você discorda desse comentário, envie um contra-argumento e será estraçalhado pelo nosso mais medíocre colunista com uma réplica devastadora.
Os números de troféus Norris e Hart conquistados por linhas azuis da franquia podem estar inflacionados devido a Bobby Orr - que muitos consideram o maior defensor da história do hóquei —, mas vai além da histórica camisa nº4.
Zdeno Chara mantém a linhagem iniciada por um atleta que foi uma espécie de Chris Pronger ainda mais talentoso e truculento. Todos amavam odiar Eddie Shore. O indivíduo que usava uma espécie de capa ao entrar no gelo, quase mandou Ace Bailey pra terra dos pés juntos em 1933. Até mesmo os ''ingleses'' torcedores do Montreal marrons se uniam aos ''franceses'' do Montreal Canadiens para torcer contra o Expresso de Edmonton quando Shore e os Bruins jogavam em Montréal. Apesar da truculência foi tão decisivo que até hoje é o terceiro atleta com mais troféus Hart (4), dado ao melhor jogador da temporada, atrás apenas de Wayne Gretzky e Gordie Howe. Venceu duas copas pelos Bruins: 1928-29, 1938-39.
Como encerrou a carreira em 1940, Shore não venceu nenhum Norris já que o troféu dado ao melhor linha azul da temporada foi criado apenas na temporada 1953-54. Troféu que foi vencido por Bobby Orr oito vezes de forma consecutiva. Esse domínio poderia ter sido maior caso o completo defensor não tivesse encerrado a carreira prematuramente devido a muitas lesões nos joelhos. Assim como Shore, Orr levou os Bruins a duas conquistas de copa Stanley e é o único defensor a ter sido o artilheiro de uma temporada da NHL, feito que alcançou duas vezes — 1969–70 e 1974–75.
Ao contrário de Shore e Orr, Raymond Bourque não conseguiu fazer parte de um esquadrão vencedor de copa por Boston, mas assim como os dois ícones citados também brilhou na linha azul da organização por muitos anos, vencendo cinco troféus Norris. Excelente patinador, genial em sua principal atribuição e um constante perigo nos disparos. Um jogador completo como poucos.
Além desses três, mais dois defensores tiveram seus números aposentados pela franquia — de um total de dez — o que mostra o apreço com os zagueiros em Boston: Dit Clapper e Lionel Hitchman.
Confesso que a primeira vez que ouvi o nome de Dit Clapper foi a uma das falas do treinador Reggie Dunlop no maior filme da história, Slap Shot.
It's my last game, and I wanna play it straight. No more "Nail 'em." No more "Fuck with 'em." That's finished. I wanna win that championship tonight, but I wanna win it clean. Old-time hockey, like when I got started, you know? Jeez. Toe Blake, Dit Clapper, Eddie Shore, those guys were the greats. (Traduzindo: É meu último jogo e eu quero jogar direito. Sem mais "Quebrem eles!". Sem mais "Arrebentem com eles!" Isso acabou! Eu quero ganhar esse campeonato essa noite, mas quero ganhar de forma limpa. Hóquei das antigas, como quando comecei, sabe? Deus! Toe Blake, Dit Clapper, Eddie Shore, esses caras eram os maiores.)
O que o treinador Reggie Dunlop quis dizer com isso? Que queria jogar no estilo antigo. Aliando garra, coragem desmedida, talento e, por mais contraditório que pareça, com respeito ao adversário. Assim foi Clapper, que chegou a ser campeão pelos Bruins aliando a função de atleta e treinador, assim como Dunlop naquele — infelizmente — fictício Charlestown Chiefs. Cabe ressaltar que Clapper chegou a atuar como atacante, mas seus melhores anos foram como defensor, função que exerceu por 11 anos pelos Bruins. Suficiente para colocá-lo na lista de maiores daquela posição em todos os tempos.
Hitchman ficou mais conhecido por ser o parceiro de Shore na principal dupla defensiva dos Bruins em seus primórdios. Pouco ofensivo, era conhecido por uma solidez defensiva e agressividade. Foi o primeiro capitão da história dos Bruins.
Do primeiro capitão para o último. Acredito que seja justo dizer que Zdeno Chara entrou para a história de uma das seis franquias originais. É o capitão que ergueu a primeira copa do time em 39 anos. E também uma figura determinante no sucesso da empreitada.
Pouca gente sabe, mas Chara também é um dos ícones sloteanos já que, devido seu tamanho nababesco (2,06m), foi aconselhado a jogar bola ao cesto ao invés de hóquei em sua juventude. Chara percorreu o caminho do bem, sendo recompensado agora com o cálice sagrado.
Chara chegou aos Bruins após os Senators o deixar livre em 2006. Basicamente era o eslovaco ou Wade Redden — que naquela época ainda não havia sido abduzido. Chara que já andava pra lá de insatisfeito com a saída do compatriota Marian Hossa — na negociação que levou Dany Heatley para os Sens — pediu um aumento obeso. John Muckler, sem ter como renovar com ambos, teve que ver Chara sair em troco de nada. Manteve Redden e o resto todos já sabemos.
Nos Bruins Chara subiu degraus que o posicionou definitivamente entre os principais defensores da NHL, chegando a vencer troféu Norris em 2009. O maior +/- da temporada regular e dos playoffs é um dos indicados para a edição desse ano – disputando com o seis vezes vencedor Nicklas Lidstrom e Shea Weber.
Como bons anos de carreira ainda pela frente Chara tem tudo para avançar ainda mais na rica e dominante história dos linhas azuis de Boston na NHL.
Eduardo Costa indica o ótimo livro: Eddie Shore and that old time hockey, de C. Michael Hiam.