É verdade que a esta altura o mundo inteiro já sabe que o time de Boston foi quem venceu a Copa Stanley e que o Vancouver Canucks foi o vice-campeão, ou o perdedor. Depende da percepção de cada um. É difícil dizer que um time que realiza o que o Canucks conseguiu realizar em uma temporada é alguém perdedor. É verdade também que vencer a Copa Stanley é a meta máxima e final de todo jogador, toda equipe de hóquei, mas é preciso também reconhecer as vitórias e as conquistas em meio às derrotas e durante os tempos difíceis.
Se há duas semanas o Vancouver parecia caminhar para finalmente conquistar a sua primeira Copa em 40 anos de história, na quarta-feira passada, após o jogo 7, quem levantou o troféu foi o Boston Bruins. O começo da série foi difícil e apertado, com o jogo 1 sendo decidido a apenas 18 segundos do final, quando Raffi Torres colocou o disco no fundo das redes de Thomas e deu a vitória por 1 a 0 para o time da casa. A Rogers Arena ficou pequena para tanta comemoração.
O jogo 2 não foi muito diferente. As equipes jogavam bem, os Canucks saíram na frente mas o Boston virou para 2 a 1. No terceiro período os Canucks acharam o empate e forçaram a prorrogação. Prorrogação que durou cerca de 11 segundos, o tempo necessário para os Canucks vencerem a partida com um gol fantástico de Alex Burrows.
A partir daí o que se viu foi um verdadeiro colapso do time que for a o melhor da NHL durante a maior parte da temporada e o melhor no geral do mundo do hóquei desde o mês de outubro de 2010. Apesar de ter obtido a melhor campanha na temporada regular, de ter o melhor ataque da liga, uma das melhores defesas, uma vantagem numérica mortal e decisiva, os Canucks não conseguiram resolver a questão Thomas (o goleiro dos Bruins) a partir do jogo 3.
Na verdade, muitos apontam como ponto chave para a virada dos Bruins o tranco de Rome em Nathan Horton, que deixou o atacante dos Bruins fora do resto dos playoffs. Na verdade, apenas isso não seria suficiente, visto que os Canucks jogaram muito bem aquele primeiro período. O time entrou em colapso mesmo foi a partir do Segundo período e a goleada que levaram dos Bruins acendeu a luz amarela no front de batalha. Como a mesma derrota já tinha acontecido contra Chicago e San Jose, era apenas a luz amarela que piscava. Depois da derrota seguinte na partida 4, por humilhantes 4 a 0, com a série empatada, era a luz vermelha que começava a piscar.
Jogo 5 em Vancouver, e os Canucks conseguem responder. Não uma resposta como as que o Boston deu jogando em casa, mas foi uma vitória. Suada e magra, outro 1 a 0, mas era 3 a 2 na série e os Canucks estavam a uma vitória de vencer a sonhada Stanley.
Jogo 6 em Boston, e os Bruins precisaram apenas de oito minutos para empatar novamente a série. Foram 3 gols em Robeto Luongo em apenas oito chutes, no começo do primeiro periodo e depois ainda fizeram mais um em Schneider. Quatro a zero em nove minutos de jogo e novo recorde para as finais da Copa Stanley.
Jogo 7 em Vancouver, a razão e as estatísticas mostram por que os Bruins são melhores e deveriam vencer a Copa, mas a torcida de Vancouver ainda acredita. Só faltou passar essa crença para os jogadores dos Canucks que entraram no gelo, porque eles não mostraram nem de longe um desempenho digno de uma partida onde você está decidindo a sua vida. Os Bruins, pelo contrário, mostraram que queriam a Copa, que queriam ser o primeiro time a vencer for a de casa na série, e que queriam levantar o sonhado troféu no final da partida.
E eles conseguiram, para a decepção de milhões de pessoas no Canadá. No final, mais uma vitória folgada para o esquadrão comandado na prática por Tim Thomas e na teoria por Zdeno Chara. É óbvio que os Bruins mereceram vencer a copa: eles foram o time que mais marcou gols, que mais mostrou raça e vontade de vencer, e mais ainda, quem mais mostrou capacidade de superação frente às adversidades. Uma vitória merecedora para o time que foi melhor na fase final, mesmo se era apenas um time mediano a bom durante o resto da temporada.
Para o Vancouver ficam as lições da derrota e de saber que você só pode tirar o pé do acelerador quando o ultimo apito soa e você sabe que não tem mais nada que te separa da Stanley. No final, foi sim uma campanha vencedora. Nos playoffs o time conseguiu finalmente eliminar o arquirrival Chicago, enfrentou uma parada mais difícil do que o previsto contra o Nashville e jogou muito bem contra o forte time de San Jose.
As razões para as derrotas ficaram claras e só não viu quem não quis: a ineficiência do ataque, as falhas da vantagem numérica, que, além de não marcar gols, acabava tomando, um goleiro inseguro em momentos cruciais e em outros fantástico, além da importância de ter um excelente banco de reservas com opções para os momentos difíceis.
E ponto para os Canucks, que se recusaram a usar como desculpa pela derrota a enxurrada de contusões na reta final. Se já não tinham Samuelsson desde o começo dos playoffs, eles perderam Mason Raymond e Dan Hamuis, e viram Edler jogando com dois dedos quebrados, Ehrhoff com contusão no ombro, Kesler com contusão no quadril, Henrik Sedin com uma lesão no pé e Christopher Higgins com o mesmo problema.
Foi uma série difícil e desgastante, mas também foi assim para o Boston, e vai ser quase sempre assim quando você está lutando para alcançar a glória maior do hóquei, o troféu mais antigo e tradicional dos esportes profissionais: a Copa Stanley.
A boa notícia para os torcedores de hóquei é que a próxima temporada nem está tão longe assim. Na próxima semana já há o recrutamento, em seguida a abertura do mercado para agentes livres e em outubro a NHL está de volta.
Até lá, os Bruins comemoram a Stanley, e os Canucks… bem, estes comemoram as vitórias da última temporada, mas focando agora em subir o ultimo degrau que ficou faltando.