Taylor Hall e Tyler Seguin eram os nomes mais badalados na época do recrutamento da NHL, Classe de 2020. Confirmaram o favoritismo sendo respectivamente escolhas geral de número 1, pelo Edmonton Oilers, e 2, pelo Boston Bruins. O defensor Erik Gudbranson foi a escolha de número 3, pelo Florida Panthers. Mas quem vem liderando os calouros da liga é Jeff Skinner, a escolha número 7, selecionado pelo Carolina Hurricanes. E com a semana das estrelas "em casa", Skinner vive a apoteose de sua temporada de estreia na NHL, tornando-se o jogador mais jovem a participar de um Jogo das Estrelas.
O papel de Skinner é maior que o de artilheiro e líder em pontos entre os calouros de 2010. Ele é pedra fundamental da busca dos Hurricanes por uma regularidade que não veio após a conquista da Copa Stanley em 2006. Boa parte das primeiras escolhas de recrutamento do Carolina desde 2005 não estão integrados ao time principal. Jack Johnson e Philippe Paradis não pertencem mais à franquia. Zach Boychuk segue com o Charlotte Checkers da AHL e somente Brandon Sutter faz companhia a Skinner. Sutter, no entanto, teve sabatina na AHL jogando com o Albany River Rats. Skinner veio direto para a NHL.
Fez sua estreia em 7 de outubro, contra o Minnesota Wild, em jogo disputado na Finlândia. No dia seguinte marcou seu primeiro ponto, assistência para Tuomo Ruutu e, na disputa de pênaltis, marcou o gol vencedor dos Hurricanes. Em 20 de outubro marcou seu primeiro gol de fato. O primeiro de 18 marcados até aqui que, somado às 22 assistências totalizam 40 pontos. Líder absoluto em pontos entre calouros e um dos líderes de seu time, empatado com Ruutu e atrás apenas de Eric Staal, segunda escolha geral de 2003. Capitão e jogador fundamental para a história dos Hurricanes, Staal foi, há algumas temporadas, exatamente o que Skinner é hoje.
A diferença simbólica é que em sua temporada de calouro, Staal foi uma das Jovens Estrelas da liga. Skinner está um passo a frente e estreia de cara no Time das Estrelas, substituindo Sidney Crosby, lesionado. Skinner é o jogador mais jovem da NHL atualmente e torna-se o jogador mais jovem a disputar um Jogo das Estrelas desde 1969, temporada em que dois Times das Estrelas passaram a ser selecionados para o evento festivo, formato que segue até os dias atuais — antes disso, apenas um time era formado por jogadores selecionadas, era o verdadeiro Time das Estrelas, e o time desafiador era indicado pela própria NHL.
A seleção de Skinner para o Jogo das Estrelas extravasou a "Skinner Mania" que Raleigh já vivia desde o começo da temporada. Staal brincou comparando o calouro número 1 de sua franquia à sensação das pré-adolescentes americanas Justin Bieber.
Cereja no bolo, o Jogo das Estrelas consagra Skinner como calouro do ano, pelo menos até aqui, mas está longe de ser sua maior glória. O chute de Skinner mira o Troféu Calder de calouro do ano. Os possíveis rivais de Skinner na briga são Hall, Logan Couture, Cam Fowler e o goleiro Sergei Bobrovsky. Atualmente Skinner é favorito absoluto, não apenas por sua vantagem em pontos em relação aos outros calouros (até porque esse parâmetro não serve para Bobrovsky), mas pela importância que ele vem tendo para seu time e pela notoriedade que seu desempenho vem recebendo na NHL.
E pensar que por pouco este talento não foi desperdiçado: quando criança, Skinner mandava bem em patinação artística e chegou a disputar competições na modalidade. Acabou decidindo jogar hóquei no gelo e passou pelo Toronto Young Nationals, time da liga metropolitana de Toronto, antes de mudar-se para Kitchener onde passou a jogar pelo Kitchener Rangers. Com os Rangers, Skinner fez uma temporada 2008-09 razoável, marcando 51 pontos, e teve maior sucesso na temporada 2009-10, onde marcou 90 pontos e ajudou o Kitchener a se classificar para a pós temporada.
Com 33 pontos em 20 jogos, Skinner levou o Kitchener à final de conferência, onde foi derrotado pelo Windsor Spitfires em sete jogos. A semi-final contra o London Knights foi um dos destaques de Skinner na pós-temporada. Ele marcou 15 pontos nos sete emocionantes jogos — entre eles um hat trick na vitória do Kitchener por 8-7, na prorrogação, em um momento crítico da série. Tivesse vencido esse jogo, os Knights liderariam por 3-1 com chances potenciais de fechar a série na partida seguinte, em London.
Skinner também começou arrasador na final de conferência: o Kitchener venceu os três primeiros jogos com sete pontos de seu melhor jogador. Mas o Windsor, que tinha do outro lado Taylor Hall e Cam Fowler acabou por virar a heróica série em 4-3 e partiu para o título da OHL, conquistado com uma varrida sobre o Barrie Colts, totalizando oito vitórias consecutivas. O duelo particular entre Skinner e Hall terminou com vitória esmagadora de Skinner, que anotou 13 pontos na série contra "apenas" dez de Hall. O calouro número 1 do recrutamento, no entanto, pontuou em todos os jogos enquanto Skinner passou uma das partidas sem pontuar.
Se na OHL Skinner se sobressaiu individualmente, mas coletivamente perdeu para Hall, na NHL o ex-atacante do Kitchener leva vantagem nos dois aspectos. Além de ter grande vantagem sobre Hall em pontos marcados, Skinner tem ajudado o Carolina Hurricanes na luta para chegar à pós-temporada. Os Canes estão em 9º lugar na Conferência Leste.
Mas dá para estabelecer essa comparação quando Hall joga num time tão ruim quanto o Edmonton Oilers? Tudo bem que o Carolina não tem uma grande equipe, mas há o esboço de um time com Staal, Sutter e ele, Skinner. Somando 31 pontos, Hall é o vicee-líder do Edmonton, atrás apenas de Dustin Penner, com 32 pontos. Quando o maior pontuador de um time tem 32 pontos você imagina em que fogueira jogaram o jovem calouro.
E no quesito confronto direto, como nos não tão longínquos tempos de OHL? Edmonton visitou o Carolina em novembro e Skinner marcou três pontos, sendo um gol e duas assistências, com quase 13 minutos de gelo. Hall teve quatro minutos a menos e não pontuou.
Esse tipo de comparação, embora inevitável, é fugaz. Assim como muitos insistem em traçar um paralelo entre Crosby e Alexander Ovechkin, é normal que procure-se entender porque Skinner, número 7 do recrutamento de entradas vem tendo um desempenho melhor que a primeira escolha geral Taylor Hall. Não é saudável, mas números e estatísticas fazem parte desse jogo, então esse confronto indireto acaba sendo estabelecido.
Aparentemente alheio a tudo isso, Skinner
joga na NHL com a mesma facilidade que marcava seus gols e decidia jogos na OHL. Tão jovem, Eric Staal talvez já tenha sucessor ideal. E ele chegou dos juvenis prontinho, sem ter passado por ligas de baixo ou mesmo disputado Campeonatos Mundiais Sub20.
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