Apesar das costas problemáticas e de ser bem mais velho do que costumava
ser, Mario Lemieux não teve dificuldade alguma para levantar a Copa Stanley na direção do céu de Detroit na sexta-feira passada. Impressionante, mas não parou por aí. Acontece que Lemieux teve força para levantar um time inteiro. Essa história começa nos incômodos minutos imediatamente após a derrota dos Penguins por 5-0 para o Detroit Red Wings no jogo 5 das finais da Copa Stanley. Os jogadores estavam arrasados. Não se pode perder um jogo por tantos gols de diferença com tanta coisa em jogo. Os técnicos deviam estar ainda piores. O que tinha acabado de atropelar seu time e o que é que eles iriam fazer para impedir que aquilo ocorresse de novo? "Estávamos, é claro, bem preocupados", contou o técnico Dan Bylsma.
Mas então, súbita e inexplicavelmente, apareceu Lemieux. Ele foi o primeiro a encontrar os decepcionados jogadores quando eles saíram do gelo, algo que ele nunca faz. Ele em seguida reuniu-se com Bylsma e a comissão técnica a portas fechadas. E foi tudo positivo. "Tudo o que ele disse foi: 'Tudo vai ficar bem'", prosseguiu Bylsma. "Ele fez a mesma coisa com os técnicos depois que perdemos as duas primeiras partidas da série contra o Washington. Lembro-me vividamente de quando ele disse: 'Vão ser dois longos meses.'"
Bylsma ficou tocado pelo apoio no momento difícil e contou o que acontecera ao gerente geral Ray Shero quando o time embarcava no voo daquela noite de volta a Pittsburgh. Shero enviou uma mensagem de texto a Lemieux para agradecer-lhe.
Lemieux respondeu-lhe em seguida com outra mensagem.
Somos uma família e estamos nessa juntos. Não precisamos de ninguém que esteja conosco apenas nas vitórias e empates. Realmente acho que este é o nosso ano. Vamos esquecer o que aconteceu hoje. Isso acontece. Vamos ganhar na terça e ganhar a Copa na sexta.
"Maravilhoso", disse Shero. "Acabávamos de ser goleados por 5-0, nosso goleiro tinha sido substituído, e ele diz que tem um bom pressentimento sobre esse time? Para mim, isso é maravilhoso."
Shero mostrou o texto para Bylsma, qe perguntou a Lemieux se podia encaminhá-lo para cada jogador. Lemieux concordou. Na noute de terça-feira os Penguins venceram o jogo 6 por 2-1, na Mellon Arena. Do jeito que o chefe tinha dito que eles venceriam.
Agora era a vez de Lemieux perguntar a Bylsma se este achava apropriado que ele mandasse aos jogadores mais uma mensagem de texto. Como dono dos Penguins, ele sempre se esforçou para não interferir no dia-a-dia do time. Mas este caso era especial. Apenas mais uma vitória, e a preciosa Copa seria conquistada. Lemieux queria ter certeza de que fizera tudo ao seu alcance. Bylsma disse que é claro que ele poderia mandar a mensagem. Então, na manhã de sexta-feira, cada um dos jogadores dos Penguins acordou com esta mensagem em seus celulares:
Esta é a chance de uma vida para realizar seu sonho de infância de conquistar a Copa Stanley. Joguem sem medo e terão sucesso! Vejo vocês no centro do gelo.
Talvez não se compare aoo discurso de Herb Brooks ao time de "Milagre no Gelo" antes de ele vencer os russos em 1980, mas era a mensagem certa na hora certa para os Penguins. O bilionário Ron Burkle, que, ao lado de Lemieux, também é dono do time, poderia ter mandado a mesma mensagem, que não teria significado a mesma coisa. Lemieux é uma das lendas do hóquei em todos os tempos. Ele já vestiu os patins dos jogadores. Ele sabe o que eles estavam sentindo nos tensos momentos que antecederam o jogo 7. E suas palavras vieram do coração.
"Achei perfeito", elogiou Shero. "Adorei a parte sobre não ter medo." Bylsma disse: "Fez com que eu quisesse colocar os patins para jogar." E o defensor Sergei Gonchar resumiu em uma palavra: "Excelente."
Ninguém está sugerindo que a mensagem de texto de Lemieux foi a parte mais importante da vitória dos Penguins por 2-1 no jogo 7. Esse papel cabe aos dois gols do ponta Max Talbot. Ou talvez às 23 defesas do goleiro Marc-André Fleury, incluindo uma em chute de Nicklas Lidström no segundo final. Mas quando se joga uma partida valendo tudo, toda ajuda, por menor que seja, é válida.
Vejo vocês no centro do gelo.
Meio que faz você querer colocar os patins e jogar também, não? E foi no centro do gelo da Joe Louis Arena, em Detroit, que Lemieux se encontrou com seu clube de hóquei para a entrega da Copa. Ele felicitou Shero pelo trabalho bem feito. Foi Shero que trouxe Bylsma para o cargo de técnico em meados de fevereiro e trouxe por meio de troca os valiosos veteranos Bill Guerin, Chris Kunitz e Craig Adams. Lemieux também cumprimentou Bylsma e ainda tinha para ele uma mensagem bem-humorada. "Foram dois longos meses", disse ele, acenando com a cabeça para o técnico, com uma piscadela e um grande sorriso.
Finalmente, após cada jogador e técnico ter seus respectivos momentos com a Copa, foi a vez de Lemieux empurrá-la bem para o alto, na direção do céu. Costas problemáticas? Que costas problemáticas? O cobiçado troféu parecia mais uma pena em suas mãos naquele momento. E por que não? Afinal, o levantamento pesado de verdade já tinha sido feito.
Ron Cook é colunista do jornal Pittsburgh Post-Gazette. O artigo original foi traduzido por Alexandre Giesbrecht.