Encarar chances mínimas como o time visitante no jogo 7 das finais da Copa Stanley, em uma Joe Louis Arena lotada com mais de 20 mil fanáticos vestindo vermelho, incluindo o legendário Muhammad Ali vergando a camisa vermelha do time da casa, os Penguins levaram o melhor soco do Detroit Red Wings e mereceram — quero dizer, mereceram — o direito de ser chamados de campeões pelo resto da vida. A grande torcida, sedenta de sangue, viu o nocaute, e os poderosos Red Wings caíram para a contagem.
"Uma vez após a outra, acho que nosso time provou que somos um time de verdade", comemorou o capitão dos Penguins, Sidney Crosby, depois da vitória por 2-1, enquanto algumas centenas de torcedores dos Penguins cantavam "Vamos, Pens!" e eram os últimos remanescentes em um estádio vazio. "Este é um sentimento fantástico."
É difícil dizer o que foi mais impressionante nessa vitória — os Penguins terem jogado os dois últimos períodos quase inteiros sem o contundido Crosby (joelho), o goleiro Marc-André Fleury ter grande atuação e parando todos os chutes do Detroit menos um em um estádio onde ele tinha tirado 11 discos de seu gol nos três primeiros jogos desta série ou Max Talbot marcar os dois primeiros gols no segundo período e dar a seu time a Copa e a imortalidade. Na verdade, isso não é importante. O que importa é que Pittsburgh inteira pode regozijar-se com este feito impressionante de um clube de hóquei muito especial. Campeões para sempre.
"Foi por isso que eu voltei", confessou o defensor Brooks Orpik, que recusou a chance de ganhar mais em outro lugar para renovar contrato com os Penguins depois da temporada passada.
E o cara que optou por não voltar?
Você sabia que eu chegaria a Marián Hossa, não sabia? Mesmo com um jogo tão bom de se assistir, a parte mais divertida veio depois, quando os garotos se alinharam para aceitar os apertos de mão dos orgulhosos, mas derrotados Red Wings, incluindo Hossa, que os tinha abandonado depois da temporada passada porque achou que eles não eram bons o bastante para ganhar um campeonato. "Eu estava procurando a melhor chance de ganhar a Copa", disse ele quando recusou a oferta dos Penguins de um contrato de muitos anos por muitos milhões, para assinar um de um ano com o Detroit. Você acha que Crosby, Fleury, Talbot e o resto gostaram de estar do lado em que estavam quando apertaram a mão de Hossa? Especialmente depois de eles de alguma forma impedirem o craque Hossa de marcar um gol sequer durante toda a série?
Mas esta vitória — este fantástico campeonato, o terceiro na história da franquia — não foi conquistada pelo que Hossa não fez. Ela foi conquistada pelo que os Penguins fizeram. Eles foram fenomenais, ganharam os dois últimos jogos de uma série totalmente intensa do início ao fim. A vitória por 2-1 no jogo 6, na Mellon Arena, na terça-feira passada, foi maravilhosa, mas tudo que ela garantiu aos Penguins foi a chance de disputar o jogo 7. O local: o Joe, um rinque que os tinha aterrorizado nestas finais da Copa e aquele onde, um ano atrás, os Red Wings foram o melhor time e levaram a Copa em seis jogos.
Mas os Penguins sequer piscaram. Sem desmerecer os Red Wings, o público e as minusculas chances que os Penguins tinham, mas apenas dois visitantes já tinham vencido um jogo 7 das finais da Copa na história da NHL. Nenhum visitante em qualquer esporte tinha ganho título num jogo 7 desde que os Pirates bateram o Baltimore Orioles em 1979 no Memorial Stadium. Acho que não preciso dizer que isso foi há muito tempo.
Meados de fevereiro também parecem anos atrás. Foi em 15 de fevereiro que o gerente geral dos Penguins, Ray Shero, demitiu o técnico Michel Therrien e substituiu-o com o técnico do time de baixo, Dan Bylsma. O time estava a cinco pontos da vaga nos playoffs com 25 partidas por jogar. A situação não estava desesperadoras, mas certamente pareciam estar assim na época.
Mas os Penguins tiveram uma campanha surpreendente de 18-3-4 no final da temporada regular. Eles eliminaram o odiado Philadelphia Flyers em seis jogos na primeira fase dos playoffs, superando uma desantagem de 3-0 no segundo período do jogo 6 para vencer por 5-3. Eles sobreviveram ao grande Alex Ovechkin e seu Washington Capitals em sete jogos, vencendo o último fora de casa por 6-2. Eles varreram o Carolina em quatro jogos nas finais do Leste.
E então o Detroit caiu na sexta-feira.
"Aonde chegamos desde junho passado, desde o início da temporada, desde 15 de fevereiro, desde onde você quiser começar a história, é uma coisa espantosa que conquistamos e merecemos", disse Bylsma. O fato de os Pens terem finalizado o trabalho basicamente sem Crosby meramente aumentou o mito sobre este time. Crosby contundiu-se no começo do segundo período, depois de uma colisão feia junto às bordas com Johan Franzen, do Detroit. Ele voltou para jogar brevemente no terceiro período, mas claramente não era o mesmo de sempre. Ele terminou a série com apenas um gol e duas assistências.
"Sid salvou-nos um milhão de vezes", disse o ponta Bill Guerin. "Foi a nossa vez de fazer o trabalho por ele." Sem problemas. Não com Talbot, que marcou aqueles dois belos gols no segundo período. Claro, quando criança ele tinha sonhado em marcar o gol da vitória em um jogo 7. Mas dois? Quer dizer, quem tem sonhos tão exóticos? "Não creio que eu já tenha sonhado em marcar dois gols em um jogo da NHL", brincou Talbot. "Este é o melhor dia da minha vida."
Fleury manteve a margem de 2-0 ao fazer 23 defesas. Nunca mais ele terá de ouvir que não é goleiro para grandes jogos. "Estou muito feliz por isso", disse Talbot, talvez o melhor amigo de Fleury. Depois de ser substituído no segundo período da derrota por 5-0 no jogo 5, Fleury recuperou-se e sofreu apenas um gol em cada um dos dois últimos jogos, recheados de pressão. Até o fim, os Red Wings desafiaram-no. Literalmente, enquanto o último segundo expirava, ele disse não à grande chance do capitão do Detroit, Nicklas Lidstrom.
Assim encerrou-se o reinado dos Red Wings como campeões da Copa Stanley. Os Penguins são os novos reis da NHL. Todos saúdem os novos reis.