Seguindo um padrão que pretendo estabelecer de agora em diante, inspirado num modelo que Bruno Bernardo introduziu na edição do campeão com o Tampa Bay Lightning, vou tecer breves comentários a respeito dos principais jogadores na conquista do Pittsburgh Penguins.
Evgeni Malkin — O MVP da pós-temporada, indicado também a MVP da temporada regular. No momento, o melhor jogador da franquia e, de longe, o mais decisivo do time. Malkin é um jogador habilidoso, um grande goleador e, principalmente, um exímio assistente, capaz de criar gols com jogadas maravilhosas e entregá-los já feitos a algum companheiro de linha, como fez com Maxime Talbot na finalíssima da Copa Stanley. Para muitos Geno foi o ponto de virada na história recente do Pittsburgh, por completar um time que tinha em Sidney Crosby seu único destaque, mais ou menos como a chegada de Jaromir Jagr em 1990. Malkin foi monstruoso nessa pós-temporada. Já havia feito a diferença em 2008 com 22 pontos. Mas agora, com 36, o russo liderou os Penguins na conquista da Copa. A meu ver, o Troféu Conn Smythe que ele conquistou seria seu independentemente dos Pens levarem ou não o campeonato.
Sidney Crosby — O central capitão dos Penguins é também o centro de todas as polêmicas da NHL neste momento. À medida que melhora seu jogo, coleciona desafetos. Ele é mascarado? Ele se joga? Ele reclama demais? Ele é chorão? Independentemente de qualquer coisa, Crosby é, tecnicamente, o melhor jogador dos Penguins, e para muitos o melhor na NHL. Machucado no segundo período da finalíssima, viu do banco os Pens vencerem a Copa por ele. Mas, claro, foi o primeiro a levantar o troféu e comandar a festa. Ninguém pode dizer que Crosby não fez por merecer chegar até aqui. E escolha número 1 de 2005 chegou ao time para se desenvolver ao lado do tutor Mario Lemieux, mas com a aposentadoria do Magnifique, o "Menino" ficou sozinho com toda responsabilidade. Segurou a onda e, mesmo precoce, assumiu o time, quebrando a marca dos 100 pontos em sua temporada de estreia. Malkin pode ter sido o líder no rinque, mas Crosby vem fazendo muito bem o papel de liderar a franquia fora dele. Mais goleador que o russo na pós-temporada, Sid the Kid torna-se o capitão mais jovem a erguer uma Copa Stanley. E os Pens só estão aqui porque ele correspondeu a todas as expectativas que existiam acerca de sua pessoa.
Marc-André Fleury — Todo bom time de hóquei tem que começar com um bom goleiro. Um esporte onde gols surgem de espaços mínimos precisa de um sujeito muito habilidoso debaixo dos paus para cobrir todos esses espaços. Eventuais falhas à parte, Fleury aguentou como ninguém o bombardeio dos Red Wings até o segundo final da série quando, mais uma vez, salvou o time, impedindo um gol que levaria o jogo à prorrogação e poderia mudar drasticamente o destino da Copa Stanley — ou melhor, NÃO mudar o destino dela, uma vez que certamente permaneceria em Detroit. Estrela em dois jogos das finais, Fleury travou e venceu um duelo particular com Chris Osgood, goleiro adversário. Sua melhor atuação foi a do jogo 3 da série final, mas sua participação inteira nos playoffs foi digna de elogios. E nunca é demais lembrar: ele foi a escolha número um dos Penguins em 2003.
Maxime Talbot — Termina como herói por ter marcado os dois gols dos Penguins na finalíssima. Nada mais justo, afinal, Talbot fez mais que isso. Foi um dos que mais lutou durante toda série, assim como em toda a campanha de pós-temporada. Mas obviamente sua figura no gelo acabava ofuscada pelas estrelas de brilho maior, como Malkin e Crosby, ou até por outros que, na prática, brilharam bem menos, mas eram nomes mais badalados, caso de Bill Guerin, Ruslan Fedotenko e Miroslav Satan.
Chris Kunitz — Fez as vezes de intimidador. Há quem diga que sem Kunitz não seria possível para os Pens ganharem a Copa. Exagero. Mas sua chegada foi importante para o time, uma vez que alguém tinha que cuidar do serviço sujo: trancos e proteção a estrelas como Crosby e Malkin. Nos minutos que esteve no rinque, Kunitz se mantinha em trabalho constante, e vivenciou um papel um pouco diferente que no Anaheim, onde conquistou sua primeira Copa, em 2007. Reforça minha teoria que times campeões precisam de um jogador encarregado apenas da parte física.
Sergei Gonchar — Alguns esperavam mais do principal defensor dos Penguins nas finais da Copa Stanley. Realmente, o russo, mesmo contribuindo com uma assistência e com o gol vencedor no jogo 3, ficou devendo. Seu dever era liderar a defesa do Pittsburgh para tentar barrar o poderoso ataque do Detroit, o que, na prática, não aconteceu. Muito pelo contrário. Não faltou espaço para os Wings bombardearem Fleury quando Gonchar estava no gelo. O trabalho acabou ficando por conta de outros defensores. E essa ausência não foi apenas na série final, mas ao longo de toda pós-temporada. O veterano foi perdendo espaço para os mais novos.
Brooks Orpik — O melhor defensor dos Penguins. Um destruidor ao longo de todos os playoffs, Orpik fez aquilo tudo que se esperava de Gonchar e um pouco mais. O #44 não temia adversário, por maior, mais forte, mais barbudo e mais sueco que fosse. Seus trancos foram, em muito, responsáveis pela anulação do Carolina Hurricanes e do Washington Capitals no gelo. O que ele fez contra o Philadelphia Flyers nem precisa comentar. Peça tão fundamental para o título quanto Crosby, Malkin, Fleury e Kunitz.
Rob Scuderi — No momento, o jogador mais antigo da franquia, passando por todo aquele sofrimento que foi a queda de rendimento dos Penguins, a vida na lanterna, etc. Merecia até mais reconhecimento por parte da direção do time. De qualquer forma, mais um a fazer um bom trabalho de defesa, embora não tenha sido tão ríspido quanto Orpik.
Kris Letang — Cresceu bastante durante a temporada regular e ganhou ainda mais espaço durante as finais. Outro defensor que segurou as pontas e se firmou como um dos principais nomes da franquia no gelo. Tinha facilidade de subir ao ataque e marcar seus gols também. E a figura de um defensor ofensivo é bem apreciada no hóquei moderno — já diria Bobby Orr. Nos Pens o responsável por esse setor era Letang, e funcionou muito bem sempre que preciso.
Tyler Kennedy — Alguém marcou mais gols decisivos que ele? Enfim... é duro ser atacante em time que tenha medalhões como Malkin, Crosby, Guerin, Fedotenko e Satan. Mas se Kennedy não teve a mesma sorte que Talbot, que marcou os gols do título e saiu como herói, ele contribuiu da melhor forma que pode. Era um atacante sempre presente e nunca hesitava em chutar a gol. Desta forma decidiu alguns jogos para o Pittsburgh e escreveu seu nome na Copa com algum trabalho, e não por mera participação.
Matt Cooke — Um Kunitz com brilho um pouco menor. Mas, como atacante físico e defensivo, engrossou o corpo dos defensores do Pittsburgh, muitas vezes carante de ajuda. Teve seu papel e o desempenhou muito bem.
Ruslan Fedotenko — Apareceu menos nas finais, mas foi participativo nos playoffs mais com trancos e chutes que com pontos em si. Chega a sua segunda Copa Stanley com menos brilho que a primeira, em 2004, pelo Tampa Bay. Mas um atacante de presença, mas poucos pontos, num time que tem bons pontuadores acaba servindo para o trabalho sujo, como abrir espaço na defesa adversária e, eventualmente, a exigir rebotes dos goleiros rivais — o que em playoff, acredite, é muito útil. Você não imagina a quantidade de gols que surgem assim...
Bill Guerin — Todo time tem que ter: uma estrela, um grande assistente, um intimidador, um atacante defensivo, um defensor ofensivo e um jogador "experiente", vulgo "véio". E o véio aqui foi o Guerin, mais um a chegar à sua segunda Copa Stanley. Mas Guerin teve participação decisiva em momentos determinantes dos playoffs. Era o que se esperava dele. O sangue mesmo ficaria por conta da juventude. E assim foi.
Miroslav Satan — Não fez muita coisa, concordo. Sua participação rendeu aquém do esperado? Pelo menos não para mim. Satan fez sua parte contribundo com alguns pontos no começo da campanha — e dele não podia se esperar mais que isso. Até porque seu tempo de gelo geralmente era curto. Vejo os poucos pontos de um jogador como ele com algum valor. É só entender que o cara era mais coadjuvante do que seu nome sugere, desde sua contratação.
Aproveito a ocasião para agradecer aos leitores por ter acompanhado nosso trabalho durante toda a temporada. E também agradecer ao empenho de Humberto Fernandes, Marcelo Constantino, Alexandre Giesbrecht, Marco Aurélio Lopes, Eduardo Costa, Daniel Novais, Igor Veiga, Alessander Laurentino e Fabiano Pereira.
Um grande abraço a todos e até a próxima temporada.