Por: Marco Aurelio Lopes

12 de junho. Segundo dia de um feriado prolongado. Chuva, frio. Dia dos namorados. Solidão, dor de cabeça. O cenário horrível para uma sexta-feira quase 13. Mas como diz o ditado, depois da tempestade vem a bonança. E é isso que espero daqui a cerca de 15 minutos, quando Detroit sedia o sétimo e decisivo jogo da Copa Stanley, entre os Wings e os Penguins. Depois de tantos percalços na temporada, seria a bonança perfeita ver o meu time erguendo a taça, pela terceira vez na sua história, a minha primeira como torcedor. Que me perdoem os torcedores dos Wings, que são muitos, mas eles já estão acostumados a ganhar, acho que não se incomodariam de ver o time do colunista levando a melhor uma vez.

Sinal ativado aqui, pré-jogo da CBC. Sem superstição, apenas opção. Mas não posso negar que foi um bom sinal ver a primeira imagem sendo a do Crosby. No fundo, por mais que o momento seja de tensão, nervosismo, etc, estou tentando me manter o mais calmo possível, embora sabendo que nem sempre é fácil. Talvez o fato dos favoritos serem os Wings facilita um pouco, na base do “eles que têm a obrigação, somos os azarões”. Deu vontade de apagar tudo isso que acabei de escrever, ao ver que agora o nervosismo já não era mais tão fácil de ser mascarado. Mas isso aqui é um relato de como um torcedor acompanha as finais da NHL, então é meu dever contar o que passou. E sem mais delongas, vamos ao jogo.

O jogo começa mas não dá para ver muita coisa, a torcida fica de pé, e não dá p ver a parte de baixo da tela. Seria melhor que os Penguins atacassem só pela esquerda. Mas aos 40 segundos é o Wings quem ataca, com Cleary, mas dessa vez Fleury defende, boa! Chegamos aos 3 minutos e os Penguins não fazem nada, por sorte, os Wings ainda não entraram no jogo. E assim continua até os 4, os 5, os 6, os 7 minutos. Intervalo, Wings com mais tacadas, com mais trancos... O telão mostra Muhammad Ali com a camisa dos Wings. E por pontos, Detroit vai vencendo. Aos 9 minutos, finalmente os Penguins conseguem alguma coisa no ataque, quando Kennedy e Staal, sempre eles, tentam chegar ao gol, mas é Osgood quem fica com o disco. Mas aos 10, em uma tacada despretensiosa dos Wings, o disco fica saltitando e confunde Fleury, mas nosso goleiro consegue dominá-lo. Um minuto depois, Kronwall com seu primeiro grande tranco, quando derruba Talbot, e no mesmo lance, Stuart comete penalidade em Malkin. E por 2 minutos os Penguins se mantêm no ataque, embora não tenha sido decisivo o suficiente para vazar a rede vermelha.

A essas alturas, os Penguins melhoram no jogo, embora sem tacadas a gol. Momentos depois, é Filppula quem tem a chance, mas é travado por Malkin e Fleury, e logo após, o goleiro aparece novamente, interceptando um passe de Datsyuk para Zetterberg, que aparecia livre. Aos 18 minutos, é Maltby quem tenta, mas Fleury começa a se destacar, com mais uma defesa. No entanto a última chance é dos Penguins, mas Talbot não consegue concluir a jogada de Fedotenko, e Osgood defende com facilidade. Final dos primeiros 20 minutos, 0 a 0. O jogo começa a ficar mais tenso. O colunista então, nem se fala. Aproveito o intervalo para tomar uma Novalgina. Curioso é ver Don Cherry falando maravilhas de Talbot e Cleary. Comento com Humberto Fernandes na redação que ou o veterano comentarista está louco ou nós não entendemos nada. No final do jogo a gente vê quem estava certo.

Começa o segundo período, e nem precisa de muito tempo para ver quem estava errado. Talbot, logo a um minuto, rouba o disco de Stuart, Malkin pega a sobra e lhe devolve. Talbot faz uma finta e acerta sem chance para Osgood. 1 a 0 Penguins. Comemoro “internamente”, mas evito me exceder. Ainda falta tanto... E logo depois Staal comete penalidade, mas por sorte Holmstrom também faz falta na frente da área, e o que poderia ser vantagem numérica para Detroit vira um 4-contra-4. Pittsburgh com a primeira chance, Malkin penetra, Osgood se recupera e defende. Agora é a vez de Detroit, Helm arrisca, Fleury defende. Na continuação, Cooke bloqueia a tentativa de Rafalaski, e parte sozinho, mas Osgood volta a frustrar os Penguins.

Aos 5:30, lance decisivo. Franzen colide com Crosby na zona neutra, próximo à tabela. Crosby se machuca, voltando com dificuldade para o banco. No mesmo turno, Gill comete a penalidade. Wings em vantagem numérica, e com todo o momento a favor. A tensão aumenta. Mas apenas no final da vantagem os Wings têm a chance de fazer o gol, mas não convertem, e vitória moral é dos Penguins. Ufa. Aos 10 minutos, Stuart, que já se atrapalhara no primeiro gol, erra de novo. E de novo Talbot, agora no 2-contra-1, manda no ângulo, Osgood não pode fazer nada, 2 a 0 Penguins. Pela primeira vez grito gol. Acho que ninguém esperava que na metade do jogo, Pittsburgh estaria liderando por 2 a 0. Ótimo! Agora é torcer para que acabe logo. No recomeço, Filppula e Franzen perturbam Fleury, que não se intimida e evita o gol. A torcida volta a gritar incentivando os Wings. Aos 13, Satan imita Sykora no jogo anterior e se joga para bloquear uma tacada de Kronwall. Minutos depois, o mesmo cenário, Staal se atirando para recuperar o disco após passe errado dos Wings. A essas alturas, fica evidente que os Penguins parecem mais determinados, se entregando mais na partida, talvez até pela motivação da derrota em 2008, e saber que uma nova derrota na final poderia ser devastadora para esse grupo. Os últimos minutos, para variar, Detroit pressiona com sua linha principal, Lidstrom com a última tacada, e Fleury, um dos destaques do jogo, faz mais uma defesa. No último minuto, Fleury faz uma defesa parcial, o disco bate em Helm, e passa perto do gol vazio. Zetterberg ainda tem uma última chance, mas não consegue a tacada. O período termina, a minha calma também, mas a dor de cabeça ainda persiste, ainda que um pouco mais branda.

A imagem do início do terceiro período é a de Crosby de volta ao jogo, ou pelo menos no banco, já que no gelo, Staal segue em seu lugar na linha de Kunitz e Guerin. Aos 2:30, a primeira tacada de perigo, com Ericsson, mas Fleury defende. E Eaton comete penalidade. Mais uma vantagem dos Wings. O jogo segue o mesmo, Wings pressionando, se mantendo mais tempo no ataque. O primeiro minuto dessa vantagem foi um sufoco, só deu Wings, mas Fleury consegue uma defesa (já perdi a conta de quantas) e o Penguins respira. A vantagem acaba, escapamos do primeiro susto. Faltam 15 minutos. Agora só faltam 10 minutos, e mais do mesmo, parece ataque contra defesa. Mas hoje realmente os Wings não conseguem engatar seu jogo, e nem as temidas bordas vivas dão o ar de sua graça. E somente agora o Penguins consegue ficar meio minuto na área de Detroit. Mas só meio minuto, nada além disso. Ainda bem que em todos os minutos anteriores a defesa dos Pens conseguiu se manter efetiva, impedindo o gol dos Wings, que repito, parecem sentir demais a final. Aos 11 minutos, o primeiro turno de Crosby no período, vamos ver como ele reage, porque é claro que ele não está inteiro. Passou o primeiro teste, não sentiu nada ao que parece, nem comprometeu o time. Mas não parece muito propenso a retornar.

Aos 13 minutos, Satan e Fedotenko vem no 2-contra-1, mas o passe de Satan não consegue contectar para o arremate. E no minuto seguinte, finalmente o gol, Lidstrom com passe preciso para Ericsson, que acerta no alto, o disco resvala em Fleury que defende parcialmente, mas não é suficiente. 2 a 1. Penguins ainda na frente, mas por quanto tempo? Pouco mais de seis minutos, muito tempo para uma reação. A torcida sente que é o momento. O nervosismo aumenta, mal consigo escrever. Aleluia, aos 16 minutos os Penguins dão uma tacada a gol, com Malkin, e Osgood defende sem problema. Essa viria a ser a única tacada dos Penguins no período. 17 minutos, Holmstrom tem problema com o controle do disco, e perde boa chance. Melhor para nós. A TV mostra a Copa Stanley pela primeira vez, recebendo seu último polimento. Ela já esteve tão longe, mas ao mesmo tempo já esteve mais perto. Nunca três minutos demoraram tanto para passar. Logo em seguida, o susto maior, Kronwall do meio da rua, manda uma tacada que explode o travessão, após uma finta em Kunitz. O disco desviou em alguém ainda, e depois Fleury acaricia o poste, agradecendo a “defesa”. Detroit pede tempo. 80 segundos eternos. Osgood no banco.

Os Wings continuam tentando, os Penguins continuam se defendendo. Faltam 16 segundos. E o clima é tão tenso que um simples faceoff precisa ser repetido 3 vezes. Mais 10 segundos, nova parada. Último faceoff, Lidstrom, o capitão, tem a chance do empate no seu taco, mas Fleury faz a última defesa. A mais importante de sua carreira, não há tempo para um rebote. As luvas voam, os tacos vão ao chão, o jogo acaba. A televisão foca em Hossa, o grande personagem da série, que finalmente foi exorcizado. Os Penguins são campeões! ACABOU! Só escuto essa palavra, vinda de mim mesmo. ACABOU! É CAMPEÃO! Solto um misto de risada com um certo embargo na voz. Não sei o que dizer, nem o que senti. O pingüim de pelúcia que se faz presente na minha mesa recebe meu abraço. Comemoramos juntos. Acabou, os Penguins ganharam a Copa. Os Penguins ganharam a Copa! Não acredito! É festa lá, festa aqui. Meus colegas “Penguins” aparecem no MSN para trocar “aeeee”, “campeão” e outras saudações do tipo.

Depois de tomar uma água para refrescar um pouco, e baixar um pouco a adrenalina, volto para ver o que espero desde 1993 para ver, o meu time recebendo a Copa Stanley. Primeiro a formalidade, Malkin recebe o Conn Smythe, será que alguém tinha dúvidas? Depois, ela chega, a Copa. Depois de ver tantos times medianos ganhando a Copa Stanley e ver o meu time sempre relegado a eliminações sofridas ou campanhas pavorosas, finalmente hoje vou ver como se comemora a conquista do título. Para quem começou a acompanhar a NHL e torcer para o Penguins em um jogo 7 onde foi eliminado em casa (pelos Islanders, há 16 anos), isso quando era o então bi-campeão e dono da melhor campanha da temporada, ver ano após ano seu time não ter mais a chance de repetir o feito de 1991 e 1992 é frustrante. Era! Porque finalmente um capitão dos Penguins recebe a Copa. Sempre que via a cerimônia me perguntava como ia reagir. Reconheço, abri um largo sorriso, um ar ainda de incredulidade, um alívio enorme, uma felicidade maior ainda (nem no gol do Petkovic senti isso), e no fundo disso tudo, os olhos mareados. Foi inesquecível. A transmissão se estendeu com entrevistas, perfis, etc. Não tinha como perder nada disso. Não perdi. A transmissão encerra. Fico aqui pensando em tudo que vivi nas últimas quatro horas. A dor de cabeça já tinha ido para o espaço. Ainda restava uma coisa a fazer. Um último acesso ao site da NHL. Os melhores momentos! Tela cheia, som ligado. Revivi cada minuto da partida, cada lance, cada sufoco, e a alegria da conquista. A noite acaba. A alegria não. A Copa Stanley é dos Penguins! Ou, como digo aqui em casa, O PINGÜIM É CAMPEÃO!

Assim encerro esse “Diário do Torcedor”. Por toda a pós-temporada, procurei mostrar como um torcedor comum da NHL assistia aos playoffs da sua liga preferida. Acompanhando as partidas da maneira que podia, e claro, torcendo para seu time de coração. Na verdade, era um projeto que tinha em mente ainda na temporada passada, mas infelizmente não pude levar adiante. Concluir esse diário foi também uma conquista, depois de uma fase tão difícil. Acho que mesmo que os Penguins não fossem os campeões, seria um pouco vitorioso também. Queria agradecer a todos os que leram essa verdadeira saga, e em especial aos amigos da TheSlot.com.br, que me apoiaram sempre e incentivaram essa minha “loucura” chamada Diário do Torcedor. E olha, os playoffs exigem demais dos jogadores, concordo. Mas vocês não tem idéia de como exigiu de cada um de nós aqui na redação. A Copa muda tudo. Mesmo. Com certeza estamos diferentes depois dessa maratona. Agora, vamos curtir nossas férias, voltar a nossa vida normal, para retornar na edição guia da temporada 2009-10. A todos, meu muito obrigado! Até a próxima!

Marco Aurelio Lopes é campeão!

Christopher Horner - Pittsburgh Tribune-Review
Talbot e seu segundo gol: ele acerta no ângulo de Osgood, dando aos Penguins a vantagem de 2 a 0. Essa imagem se eternizará como o gol do título de 2009.
(12/06/2009)

Jamie Sabau/Getty Images
Kronwall quis matar o colunista do coração quando sua tacada estourou no travessão. Mas Fleury mostrou que o grande goleiro também precisa de sorte.
(12/06/2009)

Jim McIsaac/Getty Images
Repito aqui o que disse quando vi esse momento: ACABOU! GANHAMOS!
(12/06/2009)

AP
Rei morto, rei posto. Mike Babcock, técnico campeão com so Wings em 2008, parabeniza Crosby pela conquista de 2009. Sim, Sid participou dos cumprimentos.
(12/06/2009)

AP
Abram alas para Sidney Crosby e a nova geração dos Penguins, campeões de 2009. A Copa é deles. E vem mais por aí...
(12/06/2009)

AP
17 anos após erguer a Copa Stanley como capitão dos Penguins, Mario Lemieux agora também conquista a Copa como dono da equipe onde fez história.
(12/06/2009)

AP
Max Talbot com o grande prêmio. O improvável herói da conquista comemora com toda a razão. Seu nome ficará gravado na Copa e na memória dos torcedores. (12/06/2009)

Arquivo TheSlot.com.br
O pinguim de pelúcia na mesa do colunista foi o talismã do "Diário do Torcedor"

Arquivo TheSlot.com.br
Torcedores ilustres marcaram presença na final: Os pinguins de Madagascar, Happy Feet, Pingu, o Backyardigan Pablo e Tux também vibraram com a vitória de Pittsburgh.

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Página publicada em 16 de junho de 2009.