Por: Scott Burnside
Enquanto víamos os jogadores do Pittsburgh Penguins e do Philadelphia Flyers se alinhar para o aperto de mãos cerimonial ao final da série no meio do gelo, no domingo, a torcida dos Penguins girar em júblio toalhas brancas sobre suas cabeças e confeti se caindo do teto da Mellon Arena, era fácil esquecer que, não muito tempo atrás, esse time dos Penguins era um time sem futuro — ao menos sem um futuro em Pittsburgh.

Mas meros 17 meses depois de o magnata canadense da tecnologia Jim Balsillie desistir de sua oferta para comprar o time — e supostamente dar início ao processo de mudá-lo para o Canadá —, esses mesmos Penguins estão a caminho das finais da Copa Stanley pela primeira vez desde que Mario Lemieux e Jaromír Jágr levaram os Pens ao bicampeonato em 1992.

Do caos às finais da Copa em um piscar de olhos.

"Parece que foi muito tempo atrás. Na verdade, não foi, mas parece que trilhamos um longo caminho, dentro e fora do gelo", avaliava o gerente geral Ray Shero depois de os Penguins encerrarem as finais da Conferência Leste com enfáticos 6-0 sobre o Philadelphia Flyers no jogo 5, no domingo. "É uma grande notícia para a cidade de Pittsburgh e para esta franquia."

Os Penguins chegam às finais da Copa como o time mais quente da NHL, com um campanha impressionante de 12-2 na pós-temporada, algo que era quase inimaginável duas temporadas atrás, quando o time foi o pior da Conferência Leste, com 58 pontos (29.º na NHL).

"Acho que é demais", conta Shero. "Eu estava justamente falando a alguém uns dias atrás, que, olhando para trás uns 15, 16 meses, tínhamos nos mudado para nossa casa e minha esposa não tinha nem comprado novas cortinas. Não sabíamos se estaríamos aqui no ano seguinte ou para ver quão longe este time chegou nesse período."

Depois dos apertos de mão pós-jogo, o vice-comissário da NHL, Bill Daly, presenteou ao capitão do Pittsburgh, Sidney Crosby, o Troféu Príncipe de Gales, que é dado ao campeão da Conferência Leste. Crosby, como manda a tradição, não tocou no troféu, que depois foi colocado sobre uma mesa em um corredor escuro do lado de fora do vestiário dos Penguins. Ele foi quase esquecido.

"Eu assisti a vários jogos de playoffs da Copa Stanley", disse Crosby, que foi aconselhado por veteranos como Petr Sykora a não encostar na peça. "Você não vê muita gente tocá-lo. Nós percebemos que não é esse que queremos levantar."

No vestiário, camisetas novinhas aclamando os Penguins como campeões da conferência apareciam como se brotassem de esporos. Havia bonés para combinar. Lemieux, o dono e ícone dos Penguins, peregrinou pelo vestiário cumprimentando jogadores.

"Mais quatro", clamava Ryan Whitney ao sentar à frente de seu armário no vestiário. Mas, além de um alegre burbirinho, não era uma cena de euforia desenfreada, mas algo talvez mais próximo de uma satisfação calma.

Shero disse que estava conversando depois do jogo com, Tom Fitzgerald, o diretor de Desenvolvimento de Jogadores, cujo Florida Panthers venceu os Penguins nas finais da Conferência Leste de 1996 e foi pela única vez na história da franquia às finais da Copa Stanley.

"Eles achavam que tinham ganho a Copa Stanley", conta Shero. "Acho que temos um grupo realmente concentrado. Espero que, no fim, tudo dê certo para nós."


Dois anos atrás, os Penguins foram de longe o pior time da liga na defesa. Pouco depois de o técnico Michel Therrien assumir o lugar de Ed Olczyk, ele falou uma de suas frases mais famosas: os Penguins estavam tentando ser o pior time da NHL na defesa.

E agora, ao longo dos playoffs e da segunda metade da temporada regular, os Penguins têm demonstrado uma serenidade extraordinária. Eles sofreram apenas 26 gols em 14 jogos e ostentam a melhor campanha dos playoffs na defesa. O shutout de Marc-Andre Fleury foi seu terceiro da pós-temporada. Os Penguins não perdem no tempo normal em casa desde 13 de fevereiro, e têm 8-0 em casa na pós-temporada.

Estes são os fatos que compõem a história do renascimento dos Penguins.

"Estamos cientes do que conquistamos, mas é óbvio que nosso objetivo é ganhar a Copa", avisa o defensor Rob Scuderi. "Ao mesmo tempo, não ignoramos o fato de quão longe avançamos nos últimos três anos."

Sob vários aspectos, o massacre dos Flyers no domingo foi emblemático de toda a campanha do time nos playoffs nesta primavera setentrional.

Sim, as estrelas voltaram de seu sono de um jogo na quarta-partida, na quinta-feira passada, na Filadélfia, com Marián Hossa liderando o caminho com um gol e três assistências. Crosby contribuiu com um par de assistências e Evgeni Malkin, sumido nos três últimos jogos, marcou um gol.

Mas essa vitória foi tanto de Max Talbot, Pascal Dupuis e Brooks Orpik como dos Penguins mais famosos.

Foi Talbot, o enérgico central da quarta linha, que cavou a primeira penalidade do jogo, mantendo seus pés em marcha na zona de ataque e forçando Mike Knuble a enganchá-lo com o taco e derrubá-lo ao gelo com apenas 2:18 no primeiro período. Doze segundos depois, o forte chute/passe de Crosby foi para as redes depois de bater no taco de Ryan Malone, e a sorte foi lançada.

Os matadores de penalidade, liderados por Jordan Staal e Dupuis, mais uma vez limitaram as chances dos Flyers. Os Flyers desperdiçaram suas quatro chances com um homem a mais, e os Penguins sofreram apenas sete gols de vantagem numérica em seus 14 jogos, ao mesmo tempo em que marcaram 16 vezes em vantagem numérica própria.

"Não havia dúvida de que estávamos encarando cada jogo com muita confiança", garante Therrien. "Mas, para ser franco, quando os playoffs começaram, não estávamos pensando nas finais da Copa Stanley. Nosso foco principal era a primeira fase, e essa era a nossa filosofia com esse jovem grupo. Não sou muito adepto de olhar para o topo da montanha quando ainda há muitos passos por dar. O próximo passo é só mais um."

Os Flyers, que passaram pelo seu próprio renascimento, vindos da última colocação na liga no ano passado (a pior campanha da história da franquia) e surpreendendo Washington e Montreal neste ano, simplesmente ficaram sem combustível. Eles saíram atrás logo no começo, com o gol em vantagem numérica de Malone, e não conseguiram mais se impor.

"Eu só disse ao pessoal que estou no esporte há muito tempo. Trabalhar com esse grupo tem sido uma das experiências mais agradáveis que eu tive no hóquei profissional. De verdade", elogiou o técnico dos Flyers, John Stevens. "Tivemos uma tremenda evolução neste ano, e trilhamos um longo caminho. Dê crédito ao Pittsburgh. Para mim, eles são o número 1 no Leste, em termos do que vi."

Os Penguins vão enfrentar o vencedor das finais da Conferência Oeste, entre Detroit Red Wings e Dallas Stars. Nos próximos dias, talvez eles tenham a chance de refletir no caminho que esse time seguiu para chegar ao grande baile.

Do outro lado da rua em relação à Mellon Arena, os prédios já foram demolidos para dar lugar a uma nova casa para os Penguins. Fora do estádio, milhares de torcedores reúnem-se antes de cada jogo em casa nos playoffs para confraternizar e assistir à partida em um grande telão. No passado, os escombros seriam simbólicos do estado das coisas no time, e não haveria um jogo de playoffs para levar em consideração, muito menos para a torcida assistir no gramado.

Agora, os escombros falam do futuro do time, um futuro que agora inclui a disputa das finais da Copa Stanley.

Scott Burnside é colunista do site ESPN.com. O artigo original foi traduzido por Alexandre Giesbrecht.
Gregory Shamus/NHLI/Getty Images
Participantes das finais de 2008 e 1992 pelos Penguins: Sidney Crosby é cumprimentado por Mario Lemieux.
(18/05/2008)
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Página publicada em 21 de maio de 2008.