Logo depois do dia-limite de trocas, os Penguins continuavam com problemas por resolver. O único de que eles tinham cuidado foi a falta de um finalizador para a linha de Sidney Crosby, e Marián Hossa vem cumprindo à risca essa função nos playoffs, apesar de um mau início. Já é o goleador do time, ao lado de Evgeni Malkin, cada um com nove gols marcados.
Para a defesa, a "solução" buscada pelo gerente geral Ray Shero foi Hal Gill, um zagueiro lento e com tendência a cometer penalidades questionáveis. Por pouco mais do que ele custou, os Red Wings, adversários das finais da Copa Stanley a partir de sábado, conseguiram Brad Stuart, que não tem sido
tão impactante como no passado, mas que também não era assim tão necessário para uma defesa que já contava com Nicklas Lidstrom e Brian Rafalski, entre outros.
Gill não foi a solução dos Penguins, mas a defesa do time de fato melhorou. Sergei Gonchar deixou a inconsistência para trás, e o resto tem feito o seu trabalho sem aparecer muito. A fase é tão boa que o técnico Michel Therrien defendeu com unhas e dentes o ditado "Em time que está ganhando não se mexe" e deixou de fora o veterano Darryl Sydor, assistindo aos jogos do camarote desde o início da pós-temporada.
Uma boa parte do mérito das boas atuações da defesa tem de ser creditada ao goleiro Marc-André Fleury. Ele chegava aos playoffs como um ponto de interrogação grande o bastante para a sua substituição por Ty Conklin ter sido cogitada no final da temporada regular. Conklin tinha jogado muito bem durante a ausência por contusão de Fleury e foi um dos principais motivos — o outro foi Malkin — para o time se manter na briga apesar dos desfalques de Fleury, Crosby e do defensor Mark Eaton, que não tem condições de jogo até agora.
Fleury calou todos os críticos com belíssimas atuações e defesas milagrosas e/ou acrobáticas. Ele já tem três shutouts nestes playoffs. Nada mau para quem tinha um histórico de fracas atuações em jogos decisivos ao longo de sua carreira juvenil.
Um problema menor era o entrosamento, especialmente o clima no vestiário, pois a vinda de Hossa custou ao time dois de seus jogadores mais populares, Colby Armstrong e Erik Christensen. Não foi problema algum. Em um time jovem, esse impacto é menos sentido, ainda mais quando se traz alguém que contribui de maneira tangível com a campanha do time, como tem sido o caso de Hossa.
Tudo isto posto, faz parecer que os Pens têm um mar de rosas pela frente nas finais, mas não é bem assim. O time dominou os playoffs do Leste, com meras duas derrotas, ambas quando já estava com 3-0 nas respectivas séries. Só que não se pode esquecer da qualidade dos oponentes. Na primeira fase, os Penguins tiveram pela frente um Ottawa Senators esfacelado por contusões e por uma péssima reta final. A varrida quase não foi surpresa. Em seguida, o adversário que mais deu trabalho, os Rangers, dependia muito de um goleiro e de noites inspiradas de seu ataque, poderoso no papel, mas inconstante na prática. Na final da conferência, outro time com sérios problemas de contusão — nada menos que seu melhor defensor e seu melhor atacante —, vindo da pior campanha da liga na temporada passada.
A boa campanha, no fim das contas, não foi mais que obrigação. Diferente dos Wings. Até pode-se dizer que a divisão deles, com Blackhawks, Blue Jackets, Blues e Predators, está bem longe do calibre da Divisão Atlântico, mas o estrago que o Detroit fez não ficou limitado à Divisão Central. É sabido ainda que o Oeste hoje é mais forte que o Leste, e o caminho do time vermelho na pós-temporada representou bem isso.
A primeira série, contra os Preds, teve o confronto mais fácil no papel, mas na hora de levar o duelo ao gelo a coisa complicou. Os dois jogos em Nashville fizeram com que a torcida passasse a questionar o time, mas veio a série seguinte e acabou com essa idéia. Foi uma varrida contra um time do porte do Avalanche, que não só tem um bom elenco, reforçado pelo retorno de Peter Forsberg, como ainda havia o clima de uma rivalidade adormecida, que sempre tem o potencial de novelar batalhas.
Tal facilidade estendeu-se ao começo das finais de conferência, apesar de um adversário que tinha derrubado dois favoritos nas fases anteriores. Com as três vitórias sobre os Stars, os Wings acumularam nove vitórias seguidas e só não foram mais além nessa seqüência porque os texanos voltaram a mostrar a resistência que os tinha carregado até ali. É verdade que essa resistência até fez a série chegar ao sexto jogo, e um eventual jogo 7 provavelmente seria o fim para os Red Wings, mas estes souberam como se comportar desde o início do sexto combate e, ainda no primeiro período, as favas já eram contadas.
Não tenha dúvida de que é com esse pensamento que o Detroit vai entrar no gelo no começo das finais. Eles já se acostumaram com adversidades nestes playoffs; os Penguins encontrá-las-ão pela primeira vez. Esse fator já seria determinante em uma série perfeitamente equilibrada, mas acredito que não podemos dizer que este adjetivo caiba nesta série.
Na defesa, a vantagem sem dúvida é dos Wings. No ataque, a coisa é mais igual, assim como no gol, onde um novato em boa fase vai pegar um veterano questionado em boa fase. Com a experiência ao lado do pessoal de Detroit, é difícil apostar nos Penguins. A série tem tudo para ser longa, mas não dá nem para descartar a hipótese de uma série mais curta, dependendo do quanto os jovens do Pittsburgh sentirem o peso de estar em uma final. Uma eventual goleada sofrida na estréia pode causar um grande estrago em um time que até agora esguichava auto-confiança.
É claro que tudo isso é especulação, baseada em uma análise do que ocorreu até aqui, algo não tão fácil de se fazer, porque os times não se enfrentaram durante a temporada regular. Aliás, mesmo que tivessem se enfrentado, teria sido em condições bem diferentes de agora.
Ainda bem. Senão, nem seria necessário que os times entrassem no gelo.