Algo que se comenta dos campeonatos de futebol na Alemanha e na Espanha é que "ninguém quer ser campeão", assim como na França dizem que "ninguém quer se classificar à Liga dos Campeões", uma vez que as equipes que disputam os títulos (ou vagas) em questão perdem jogos importantes e nunca atigem os resultados mais fáceis na hora em que necessitam.
O mesmo pode ser dito a respeito do Calgary Flames. Afinal, a franquia de Alberta, que há algumas rodadas chegou a abrir dez pontos de vantagem sobre o Colorado Avalanche, deslanchou a perder perigosamente, permitindo que a vantagem, que já chegou a cair a até quatro pontos, hoje esteja em míseros seis pontos. Isso, antes do fechamento desta matéria, com apenas mais nove partidas a ser disputadas na temporada regular.
Depois de toda uma temporada com altos e baixos, mas sempre mantendo confiança na classificação, o Calgary joga a vida nessas últimas semanas. Dificilmente a atitude dos Flames mudará, e aí é que está o problema. O time é bom o suficiente — ou será o Colorado ruim o suficiente — para que esta vantagem seja mantida?
Entender o que acontece para a queda de rendimento do clube é fácil. Os Flames têm tido recentemente uma seqüência de jogos mais irregular que os Anaheim Ducks — sem nunca na temporada ter aberto a segura poupança que a franquia californiana conseguiu. Nos últimos dois meses, o Calgary se deu ao luxo de perder partidas para Chicago, Columbus e Phoenix, e o mais importante: dos quatro jogos que teve contra o rival direto Colorado Avalanche neste período, perdeu três.
Ainda restam mais duas datas contra o rival de divisão que poderá definir a classificação. O último jogo do Calgary na temporada, inclusive, é contra eles, em Denver. Torcedor dos Flames certamente não quer depender desta partida para que o time vá à pós-temporada.
Mas o que tem determinado a irregularidade dos Flames?
O ataque tem funcionado bem. Iginla continua liderando o time, como sempre. E a primeira linha como um todo tem tido um rendimento aceitável. Tanguay e Huselius vêm pontuando com freqüência — o último, por sinal, foi o responsável pela vitória na terça-feira sobre o Detroit por 2-1, que aliviou um pouco mais o time e a torcida. O Calgary vem marcando um bom número de gols em seus jogos, e não só os nomes citados, como os demais atacantes, principalmente Daymond Langkow, têm participado com eficiência nessa produtividade. Ao lado do Buffalo, o Calgary é o único time com três jogadores com 30 ou mais gols na temporada.
Mas não adianta marcar gols e sofrê-los com a mesma freqüência.
A defesa do Calgary vem sendo tão irregular quanto a campanha do time recentemente. Apesar das boas atuações de Dion Phaneuf, inclusive subindo freqüentemente para apoiar o ataque — como nas duas assistências que deu na vitória sobre os Wings —, o restante dos defensores não tem jogado com regularidade, nem atuado com regularidade nas partidas em que representam a franquia. Os números da zaga do Calgary não chegam a assustar tanto quanto a das demais equipes "eliminadas" no Oeste, mas seu desempenho nos últimos dois meses tem sido um dos fatores que mais atrapalha o time.
Parte da queda do rendimento de defesa se deve também a Robyn Regehr. Assim como Cheechoo, em San Jose, Regehr não consegue repetir as atuações sensacionais de duas temporadas atrás. Isso se soma ao fato de que o Calgary constantemente consegue contundir seus defensores e recorre ao menor Omaha Knights (AHL) para tentar resolver o problema. De lá vieram Brad Ference, Mark Giordano e Richie Regehr. O primeiro não rendeu nada. O segundo vem atuando bem, mas não com grande freqüência. E o terceiro, em idas e vindas da AHL para a NHL, se contundiu um dia depois de sua última promoção aos Flames e está de molho até agora na enfermaria. Ou seja, os menores não contribuíram para a solução do problema de defesa nessa temporada.
Kiprusoff tem que se desdobrar para fazer mais de 30 defesas por jogo, de tanto que as linhas mais baixas da defesa permitem os adversários chutar. Desta forma, o trabalho do ataque, em fazer um bom número de gols, que na Conferência Oeste só perde para Nashville e Anaheim, acaba sendo inútil.
Ainda sobre o "heróico" jogo contra os Wings, Kiprusoff chamou atenção para a energia do time no gelo. "Sabemos que temos condições de jogar bem, e hoje foi um grande jogo para nós," disse o goleiro, responsável por 30 defesas na noite. A vitória renova as esperanças para que o Calgary se segure à frente do Colorado. Além dos confrontos com o rival direto na briga pela vaga, os Flames têm um calendário difícil em suas últimas semanas de temporada regular: Nashville, Minnesota duas vezes, Vancouver e San Jose são os principais adversários nessa reta final. Desses cinco, apenas dois jogos são em casa, e serão imprescindíveis para a possível classificação da franquia.
Se a vitória puder inspirar maior confiança no time, será excelente para jogos como contra o Nashville nesta quarta à noite — quando você estiver lendo esta matéria, certamente já saberá o resultado — ou para os desafios que terá diante do Colorado. Convenhamos, não está tão difícil assim. Basta o Calgary não desandar mais do que tem desandado. Para isso, será essencial o trabalho de Kiprusoff e Phaneuf. Com certeza, será uma longa semana.
Vale chamar atenção também para o fato de que o clube está a cinco pontos do sétimo colocado — atualmente o Dallas Stars. Não é uma diferença que seja simples de tirar nos próximos nove certames, e se quiser pensar como um time que já está dentro da pós-temporada, o treinador Jim Playfair precisará de um trabalho mais consistente em sua defesa.
A questão é... será que Playfair já pode pensar assim?