Como todos sabem, nós colunistas de TheSlot.com.br entregamo-nos totalmente para tentar trazer a vocês um pouco de hóquei semanalmente, ainda que isso implique em parar de trabalhar por algum tempo ou passar uma madrugada escrevendo. Nesse momento, estou fingindo que estou almoçando e escrevendo este texto. E como forma de comemorar a (próxima) edição de número 150 desta revista que me orgulho fazer parte, decidi lançar uma série de textos com equipes históricas da NHL. Claro que a grande maioria dos times comentados aqui serão campeões da Copa Stanley, mas se aquele time fantástico, que jogou demais naquele determinado ano, mas que por alguma eventualidade perdeu nas finais, também quero escrever. E por isso, peço ajuda de vocês nisto. Algumas grandes equipes eu já tenho em mente, como os "Broad Street Bullies" ou as grandes dinastias, como Oilers e Islanders ou até as equipes campeãs da Stanley Cup do Pittsburgh Penguins. Mas, qualquer sugestão será válida. É só me contactar: fabiano [arroba] theslot.com.br.
E para o azar de vocês, vou falar (novamente), sobre a conquista de quem, de quem? Sim, isso mesmo, o título da temporada 1993-94 do New York Rangers sobre o Vancouver Canucks.
"Agora eu posso morrer em paz!", dizia o cartaz no Madison Square Garden, no jogo 7 das finais da Copa Stanley. Um torcedor, anônimo, erguia estas palavras, simbolizando o que foram os 54 anos entre esta conquista e a anterior, em 1940. Os Rangers (assim como os Leafs atualmente), viraram motivo de chacota entre os torcedores. Afinal, um dos Seis Originais, com toda a tradição, grandes times, grandes nomes, jogando na tão proclamada "melhor arena do mundo", esperar mais de 50 anos para erguer o maior troféu do hóquei? Além disso, não fazia ainda dez anos que o New York Islanders havia conseguidos seus quatro títulos consecutivos e franquias não tão expressivas (até aquele momento, diga-se), haviam conquistado diversos títulos (Edmonton Oilers e Pittsburgh Penguins). Ser torcedor dos Rangers era motivo de chacota (mais do que hoje, diga-se), talvez não tanto quanto torcer para os Leafs, já que Jacy naquela época era um garoto e o problema dele não é com os Rangers. Aliás, estou ansioso pela visita dele em Manhattan, já que é do lado de New Jersey. Ou melhor, que passe em Long Island, primeiro.
A equipe começou a ser montada em 1991, quando os Rangers adquiriram o experiente Mark Messier do Edmonton Oilers. Messier havia carregado a equipe canadense na temporada 1989-90 para o quinto título da Copa Stanley, quando muitos diziam que eles jamais conseguiriam, já que o monstro sagrado Wayne Gretzky havia sido negociado para o Los Angeles Kings durante a pré-temporada. Messier teve 129 pontos (a maior marca de sua carreira), numa equipe que ainda contava com Jari Kurri, Glenn Anderson, a peste Esa Tikkanen, Adam Graves, Kevin Lowe, Craig MacTavish, enfim, com exceção de Gretzky, toda a base estava lá.
Bom, não estamos falando dos Oilers, mas do quanto Mark Messier representava para os Rangers, uma franquia que contava com um elenco decente, mas que não tinha um grande líder. Estrelas, havia: Brian Leetch, Bernie Nicholls e Mike Gartner, além de um emergente Mike Richter. Mas alguém que liderasse, seja por exemplo, seja por atitude ou caráter, isso não havia. Messier chegou em Manhattan e mostrou que era realmente a cara da ilha. Seja por ter namorado a Madonna e ser figura ativa na noite novaiorquina, seja por ter sido o líder em pontos dos Rangers logo em sua primeira temporada. Os Rangers passavam a ser favoritos à Copa Stanley, coisa que há anos não acontecia. Messier vinha com uma atitude vista em poucos jogadores. Ele gritava com os companheiros de equipe, apontava o dedo na cara se preciso e além disso, ainda fazia o que tinha que ser feito. Sempre vai haver discussão, mas para mim, ele é de longe um dos maiores capitães de todos os tempos. Os Rangers chegariam longe naquela pós-temporada, mas acabariam sendo derrotados pelos eventuais campeões Pittsburgh Penguins, de Mario Lemieux e companhia.
Temporada seguinte, os Rangers nem foram aos playoffs. Ficaram em último na Divisão Patrick e muitos já começavam a se questionar se trazer Messier realmente teria valido a pena. Na verdade, valeria. Mas quem poderia dizer algo? Alguns jogadores importantes foram trazidos nessas duas temporadas: Esa Tikkanen, Jeff Beukeboom, Adam Graves, Jay Wells e aos poucos a base ia se formando.
Na temporada 1993-94, a do título, os Rangers mostraram que levavam a sério ser campeões, dominando os jogos e principalmente: jogando defensivamente. Messier, por exemplo, adotou uma postura mais conservadora e incrível, teve menos pontos que um defensor pela liderança da equipe: 84, contra 89 de Sergei Zubov. O time ganharia o Troféu Presidente de melhor equipe da temporada, mas antes disso, algumas trocas feitas pelo gerente geral Neil Smith mostraram-se vitais. Jogadores populares em Manhattan, como Mike Gartner e Tony Amonte, foram trocados por jogadores mais defensivos e físicos, como Stephane Matteau, Brian Noonan, Craig MacTavish e Glenn Anderson. Anderson havia sido companheiro de linha de Messier em Edmonton e o treinador Mike Keenan acreditava que esta adição ajudaria o time. Ele era o típico jogador aguerrido e brigador, que fazia o jogo sujo das linhas, assim como Matteau, Noonan e o último jogador que jogava sem capacete, MacTavish. A visão de Smith foi impecável. Ele sabia que para ser campeão uma equipe não precisa apenas de matadores e trocou logo dois por jogadores úteis e que iriam dar o sangue pela equipe.
Com essa nova cara, faltava ver se o time realmente estava pronto para os playoffs. Como reza a tradição, a torcida dos Islanders, primeiro adversário dos Rangers nos playoffs, começaram a cantar: "1940". Mas parecia que a equipe de Long Island não incomodaria, levando dois retumbantes 6 a 0 em Manhattan, e apanhando de 5 a 1 e 5 a 2 no Nassau Memorial Coliseum. Varrida e a próxima série seria contra o Washington Capitals, que tinha batido o favorito ao título Pittsburgh Penguins.
Os Capitals também não foram um desafio aos Rangers, perdendo a série por 4 x 1, mas começava a ficar evidente que os próximos jogos não seriam fáceis. A torcida dos Devils, próximo adversário dos Rangers, também começou a empreender o expediente de gritar "1940", e com razão, já que haviam vencido o primeiro jogo das finais da conferência por 4 a 3. Parecia que mais um ano se adicionaria à "Maldição de 1940", que espero poder falar um pouco em outro texto. Perdendo a série por 1 a 0, os Rangers empatariam, com noite inspirada de Mike Richter, que conquistava seu quarto shutout: 4 a 0 no Madison Square Garden e a série iria para New Jersey agora. Os Rangers viraram a série, com uma vitória por 3 a 2, vendida com muito custo pelos Devils. Foi então que as chances novaiorquinas pareciam acabadas. Os Devils venceram os Rangers por 3 a 1 e viraram a série para 3 a 2 no Madison Square Garden, com uma vitória acapachante por 4 a 1, com dois gols anotados por Bernie Nicholls.
Com o sério risco de ver a temporada ir pelo ralo, Messier mostrou o quanto confiava na equipe e sabia que esse time merecia ser campeão. Antes do jogo 6, ele declarou: "We'll win" (Nós venceremos), quando perguntado o que esperar dos Rangers para o jogo 6. Na verdade, a frase é muito maior do que essa. Ele não só garantiu uma vitória no jogo 6, como também garantiu que a Copa Stanley voltaria para New York.
Pretensão? Com certeza. Joe Namath, quarterback do New York Jets na década de 70, tinha garantido o título para a torcida novaiorquina e ele conseguiu. Talvez as luzes da Broadway tenham um efeito estranho sobre as pessoas e elas façam declarações como essa. Porém, promessa é dívida.
Os Devils saíram na frente na East Rutherford arena, com um gol de Scott Niedermayer e outro do homem-tartaruga Claude Lemieux, com Alexei Kovalev descontando para os Rangers, com assistência de Messier. O placar de 2 a 1 seguindo e chegamos ao terceiro período. A torcida via aquela temporada maravilhosa esvair-se. Mas, não tinha jeito. O Messias estava no gelo. Num contra-ataque, Kovalev passou para Messier que, sem chances para Brodeur, marcou com um chute de esquerda. O jogo estava empatado. Continuando a reação, Kovalev chutou da esquerda e Brodeur soltou um rebote. E quem estava lá para virar o jogo? Sim, o capitão!
Final do jogo, os Devils pressionavam a meta de Richter, que fazia o que podia para segurar. Brodeur deixa o gelo para entrar mais um atacante. Reposição do disco na defesa dos Rangers. Messier vence o cara-a-cara. O disco sobra atrás do gol novaiorquino. O jogador dos Devils John MacLean tenta mandar o disco para os defensores e Messier intercepta. Gol vazio e ele chuta e sim, ele completa um hat trick natural. Reza a lenda que Brodeur, sentado no banco de reservas apenas disse quando viu Messier chutando para o gol: "Não acredito, ele conseguiu". Quer conferir e ver o feito? Clique aqui!
Pode-se não gostar de Mark Messier. Pode-se não gostar dos Rangers. Mas esta garantia, seguida de um hat trick natural, está entre os maiores feitos da história do hóquei. E de uma franquia que estava há 54 anos sem título! Messier é indiscutivelmente um dos maiores jogadores de todos os tempos e não apenas por ser o segundo em pontos, atrás apenas de Gretzky. Mas por vencer com uma desacreditada equipe dos Oilers.
Com a vitória, os Rangers voltaram mais do que determinados ao Madison Square Garden e após uma prorrogação dupla, um dos queridinhos do treinador Mike Keenan levou os Rangers às finais: Stephane Matteau.
Pelo oeste, vinha o Vancouver Canucks, do endiabrado Pavel Bure e de Trevor Linden, Kirk MacLean, Jeff Brown, Geoff Courtnall e Cliff Ronning. A equipe canadense, que classificou-se em sétimo no Oeste, bateu o Calgary Flames (segundo colocado) por 4 a 3 na primera rodada dos playoffs, eliminando em seguida o Dallas Stars (quarto colocado), por 4 a 1 e por fim, nas finais da conferência, o Toronto Maple Leafs (terceiro colocado), por 4 a 1.
Esse time que vinha com tudo mostrou aos Rangers como seria difícil, ganhando no Madison Square Garden por 3 a 2, com direito a um gol de Greg Adams na prorrogação. Então, vieram três vitórias seguidas dos Rangers, com placares relativamente fáceis: 3 a 1, 5 a 1 e 4 a 2, com o defensor Brian Leetch dominando as atitudes ofensivas. Emblemática foi a defesa de Richter em um pênalti de Bure, no jogo 4 da série. As coisas íam tão bem, que nada parecia poder impedir que a Copa Stanley fosse para o Madison Square Garden. Foi aí que Geoff Courtnall e Jeff Brown lideraram os canadenses a duas vitórias acapachantes: 6 x 3 (em pleno Madison Square Garden), e 4 a 1.
A síndrome de 1940 estava de volta? A maldição ia prevalecer? Os Canucks haviam vencido a série contra os Flames por 4 a 3, após estarem atrás por 3 a 1. E haviam virado contra os Stars também, que saíram ganhando. Era uma equipe com um ataque extremamente explosivo e poderia esperar-se tudo. Mas eles não esperavam um New York Rangers fechado e físico. E claro, Messier de novo. Ele acha Zubov com um belo passe de esquerda. O defensor russo segura o disco e passa para Leetch que dispara contra MacLean. Os Rangers abrem o placar e ampliam depois com Graves. Linden diminui para os Canucks, mas o capitão não deixaria que os Canucks empatassem, marcando o gol que seria o da vitória. Linden novamente colocaria os Canucks próximos, mas com Ricther defendendo tudo que podia e os Rangers protegendo seu gol o melhor que pudesse, nada mais restava, a não ser a festa. Após o "We'll win", Messier finalmente podia dizer "We did it! We did it!" ("Nós conseguimos, nós conseguimos!") e o torcedor erguer sua emblemática plaquinha. E para complementar, para premiar sua ótima atuação, Brian Leetch recebeu o Conn Smythe, como melhor jogador de todos os playoffs.
Aqui estão os heróis desta conquista (todos os jogadores que tem seu nome cravado nesta conquista da Copa Stanley):
— Atacantes:
Steve Larmer,
Mark Messier,
Adam Graves,
Glenn Anderson,
Joey Kocur,
Alexei Kovalev,
Craig MacTavish,
Sergei Nemchinov,
Esa Tikkanen,
Greg Gilbert,
Stephane Matteau,
Brian Noonan,
Mike Hartman,
Mike Hudson,
Ed Olczyk e
Nick Kypreos.
—
Defensores:
Kevin Lowe,
Brian Leetch,
Sergei Zubov,
Jay Wells,
Jeff Beukeboom,
Doug Lidster e
Alexander Karpovtsev.
—
Goleiros:
Mike Richter e
Glenn Healy.
Arquivo TheSlot.com.br Chora Brodeur, chora! Brodeur vê Messier cumprir sua promessa de que os Rangers venceriam o jogo 6 das finais de conferência. |
Arquivo TheSlot.com.br Ó Capitão, meu Capitão! Nem Walt Whitman imaginaria que o time da cidade que tanto amou finalmente livraria-se de tal tormento. |
Arquivo TheSlot.com.br Os heróis responsáveis pelo fim da maldição. |