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6 de novembro de 2002
Depoimento pessoal de um torcedor

Por Marcelo Constantino

Como inúmeros outros, passei a me interessar por hóquei no gelo através dos jogos de computador. Meu primeiro contato foi com uma ainda nos tempos de MSX, mas disso pouco me recordo. Anos mais tarde, creio que em 1994, já nos tempos de BBS, lembro que baixei o NHL Hockey da EA Sports, versão 1993, da melhor BBS gratuita que eu conhecia no Rio de Janeiro, a ACE BBS.

Dali em diante, a febre seguiu até os dias de hoje. Quantas vezes joguei aquela versão de 93! Eu e meu irmão tínhamos de escolher um time para cada um: escolhi o Detroit Red Wings — as cores branca e vermelha me atraíram de alguma forma. Por um bom tempo, aquele era meu único contato com o esporte.

Numa viagem ao Peru em 1995, conheci uma figura que morava no Canadá e estava de férias no país natal. Lembro de ter perguntado alguma coisa a ele sobre a liga, que me contou sobre a greve que estava acontecendo.

No meio de 1996 fui trabalhar no aeroporto e tive de fazer um curso em Dallas. Por uma sorte incrível, numa das noites em que girava os canais da TV deparei-me com uma partida de hóquei. Colorado Avalanche x Florida Panthers. Final de Stanley Cup, jogo 4! Agora, que times eram esses? Colorado? Florida? Não existiam no meu NHL Hockey! Alguns jogadores eram bem familiares, como Roy e Sakic, mas daqueles times eu nunca tinha ouvido falar. Foi a primeira partida de hóquei no gelo a que assisti, e logo uma decisiva de Stanley Cup.

Entre 1996 e 1997 pude realmente ampliar meu horizonte. Tempos de câmbio sobrevalorizado e passagens aéreas a preços idiotas para funcionários (com uma simples nota de R$ 50 eu ia e voltava de Dallas, Nova York ou Miami. E tinha troco). Em outubro de 1996, na primeira das viagens que fiz, adquiri o NHL97 da EA Sports, embora na verdade estivesse buscando a versão 96, que acreditava ser a mais recente. O Detroit tinha novos jogadores, uma das linhas era repleta de russos... sem contar o jogo em si, absolutamente deslumbrante para quem estava acostumado à versão 93. A apresentação, então, embasbacante.

Nesta época de aeroporto, freqüentemente conversava com americanos sobre a NHL, além de conseguir alguns exemplares de dois, três dias antes do USA Today. Estas eram as únicas formas que eu tinha de saber alguma coisa sobre a liga.

Em novembro de 1997 passamos a ter TV por assinatura em casa e a primeira coisa que me veio à mente era ESPN e NHL. E lá estava na programação, Detroit Red Wings x Vancouver Canucks, numa madrugada daquelas. Inesquecível. Parecia que eu era torcedor daquele time havia anos. A maior parte dos jogadores eu conhecia, exceto por Tomas Holmstrom. Brendan Shanahan no time, com número 14 e não o 94 habitual dos Whalers. Partida empatada apesar do domínio dos Wings, graças a um gol do próprio Shanahan em vantagem numérica de dois homens.

Dali em diante, foram vários jogos — vários mesmo — nas madrugadas da ESPN. Não digo vários jogos de diversos times, digo vários jogos do Detroit Red Wings. Sim, a ESPN era bastante generosa com torcedores da NHL em 1996-97. Posso estar errado, mas minha impressão era de que havia uns dois jogos por semana naqueles tempos, sempre de madrugada. Sobre esse assunto, assistindo aos jogos da NHL pela ESPN, já discorri em artigo anterior.

Pouco tempo depois de a ESPN chegar à minha casa, a Internet também chegou, em abril de 1997. Circuito fechado, a rede mundial oferece o que você quiser para acompanhar todo o campeonato, exceto por jogos ao vivo e em cores. Meses depois entrei para NHLbr, a famosa lista de discussão em português sobre a liga, convidado pela primeira pessoa que conheci no mundo do hóquei no Brasil, o amigo Alexandre Nascimento. Por diversos motivos já não participo mais da lista há algum tempo.

Durante todo esse período tive a incrível felicidade de ver meu time ser campeão da Stanley Cup por três vezes, sendo a primeira vez logo no primeiro ano em que acompanhei. Mais: sinto-me um abençoado por ter sido um espectador "ao vivo" da famosa e singular partida de 26 de março de 1997 entre Detroit e Colorado, o blood bath.

Qual o amante de hóquei que não quer ter uma boa variedade de jogos da NHL a seu dispor? É exatamente disso que reclamam os torcedores do esporte no Brasil, apenas que haja igualdade com outros esportes norte-americanos, como basquete, futebol americano e beisebol. Todos eles disponibilizam pacotes de jogos para assinantes da DirectTV; somente o hóquei no gelo não tem.

Já que falamos nisso, outro ponto interessante que reparo é que os fãs da NHL no Brasil geralmente acompanham outros esportes norte-americanos. Não são raros os que conhecem, alguns profundamente, também a NBA, NFL, MLB etc. E o campeonato de futebol inglês! Sinto-me um estranho no ninho diante disso tudo, atenho-me exclusivamente à NHL.

Para finalizar, há dois acontecimentos que vêm fazendo grande sucesso no Brasil. Um deles é a Liga Brasileira de Hóquei, sobre a qual Fabiano Pereira já escreveu recentemente. Outro é exatamente esta revista on-line, a The Slot BR. Iniciativa única, pioneira e inédita na língua portuguesa.

É sonho, mas por que não imaginar a The Slot BR impressa, para que os torcedores brasileiros do esporte leiam enquanto a partida da NHL a que estiverem assistindo ao vivo em suas casas está no intervalo?

Marcelo Constantino é otimista quanto à NHL no Brasil. No longo prazo.
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Página publicada em 4 de novembro de 2002.