Por
Marcelo Constantino
Como inúmeros outros, passei a me interessar por hóquei
no gelo através dos jogos de computador. Meu primeiro contato
foi com uma ainda nos tempos de MSX, mas disso pouco me recordo. Anos
mais tarde, creio que em 1994, já nos tempos de BBS, lembro que
baixei o NHL Hockey da EA Sports, versão 1993, da melhor BBS
gratuita que eu conhecia no Rio de Janeiro, a ACE BBS.
Dali em diante, a febre seguiu até os dias de hoje. Quantas vezes
joguei aquela versão de 93! Eu e meu irmão tínhamos
de escolher um time para cada um: escolhi o Detroit Red Wings
as cores branca e vermelha me atraíram de alguma forma. Por um
bom tempo, aquele era meu único contato com o esporte.
Numa viagem ao Peru em 1995, conheci uma figura que morava no Canadá
e estava de férias no país natal. Lembro de ter perguntado
alguma coisa a ele sobre a liga, que me contou sobre a greve que estava
acontecendo.
No meio de 1996 fui trabalhar no aeroporto e tive de fazer um curso
em Dallas. Por uma sorte incrível, numa das noites em que girava
os canais da TV deparei-me com uma partida de hóquei. Colorado
Avalanche x Florida Panthers. Final de Stanley Cup, jogo 4! Agora, que
times eram esses? Colorado? Florida? Não existiam no meu NHL
Hockey! Alguns jogadores eram bem familiares, como Roy e Sakic, mas
daqueles times eu nunca tinha ouvido falar. Foi a primeira partida de
hóquei no gelo a que assisti, e logo uma decisiva de Stanley
Cup.
Entre 1996 e 1997 pude realmente ampliar meu horizonte. Tempos de câmbio
sobrevalorizado e passagens aéreas a preços idiotas para
funcionários (com uma simples nota de R$ 50 eu ia e voltava de
Dallas, Nova York ou Miami. E tinha troco). Em outubro de 1996, na primeira
das viagens que fiz, adquiri o NHL97 da EA Sports, embora na verdade
estivesse buscando a versão 96, que acreditava ser a mais recente.
O Detroit tinha novos jogadores, uma das linhas era repleta de russos...
sem contar o jogo em si, absolutamente deslumbrante para quem estava
acostumado à versão 93. A apresentação,
então, embasbacante.
Nesta época de aeroporto, freqüentemente conversava com
americanos sobre a NHL, além de conseguir alguns exemplares de
dois, três dias antes do USA Today. Estas eram as únicas
formas que eu tinha de saber alguma coisa sobre a liga.
Em novembro de 1997 passamos a ter TV por assinatura em casa e a primeira
coisa que me veio à mente era ESPN e NHL. E lá estava
na programação, Detroit Red Wings x Vancouver Canucks,
numa madrugada daquelas. Inesquecível. Parecia que eu era torcedor
daquele time havia anos. A maior parte dos jogadores eu conhecia, exceto
por Tomas Holmstrom. Brendan Shanahan no time, com número 14
e não o 94 habitual dos Whalers. Partida empatada apesar do domínio
dos Wings, graças a um gol do próprio Shanahan em vantagem
numérica de dois homens.
Dali em diante, foram vários jogos vários mesmo
nas madrugadas da ESPN. Não digo vários jogos de
diversos times, digo vários jogos do Detroit Red Wings. Sim,
a ESPN era bastante generosa com torcedores da NHL em 1996-97. Posso
estar errado, mas minha impressão era de que havia uns dois jogos
por semana naqueles tempos, sempre de madrugada. Sobre esse assunto,
assistindo aos jogos da NHL pela ESPN, já discorri em artigo
anterior.
Pouco tempo depois de a ESPN chegar à minha casa, a Internet
também chegou, em abril de 1997. Circuito fechado, a rede mundial
oferece o que você quiser para acompanhar todo o campeonato, exceto
por jogos ao vivo e em cores. Meses depois entrei para NHLbr, a famosa
lista de discussão em português sobre a liga, convidado
pela primeira pessoa que conheci no mundo do hóquei no Brasil,
o amigo Alexandre Nascimento. Por diversos motivos já não
participo mais da lista há algum tempo.
Durante todo esse período tive a incrível felicidade de
ver meu time ser campeão da Stanley Cup por três vezes,
sendo a primeira vez logo no primeiro ano em que acompanhei. Mais: sinto-me
um abençoado por ter sido um espectador "ao vivo" da
famosa e singular partida de 26 de março de 1997 entre Detroit
e Colorado, o blood bath.
Qual o amante de hóquei que não quer ter uma boa variedade
de jogos da NHL a seu dispor? É exatamente disso que reclamam
os torcedores do esporte no Brasil, apenas que haja igualdade com outros
esportes norte-americanos, como basquete, futebol americano e beisebol.
Todos eles disponibilizam pacotes de jogos para assinantes da DirectTV;
somente o hóquei no gelo não tem.
Já que falamos nisso, outro ponto interessante que reparo é
que os fãs da NHL no Brasil geralmente acompanham outros esportes
norte-americanos. Não são raros os que conhecem, alguns
profundamente, também a NBA, NFL, MLB etc. E o campeonato de
futebol inglês! Sinto-me um estranho no ninho diante disso tudo,
atenho-me exclusivamente à NHL.
Para finalizar, há dois acontecimentos que vêm fazendo
grande sucesso no Brasil. Um deles é a Liga Brasileira de Hóquei,
sobre a qual Fabiano Pereira já escreveu
recentemente. Outro é exatamente esta revista on-line, a
The Slot BR. Iniciativa única, pioneira e inédita na língua
portuguesa.
É sonho, mas por que não imaginar a The Slot BR impressa,
para que os torcedores brasileiros do esporte leiam enquanto a partida
da NHL a que estiverem assistindo ao vivo em suas casas está
no intervalo?
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Marcelo Constantino é otimista quanto à NHL no Brasil.
No longo prazo. |
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