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23 de outubro de 2002
Fabiano: Você tem o controle! Seja dono de um time e entre no gelo

Por Fabiano Pereira

E, no jogo desta noite, o Campinas Joes enfrenta o São Paulo Pittsburghers, pela primeira rodada da pós-temporada da LBH (Liga Brasileira de Hóquei). Os Joes empataram a série na última partida, 1-1, com atuação destacada do asa esquerdo e capitão Todd Ulrich, do defensor Bill Callahan e do goleiro Adam Barrie. Os Pittsburghers esperam fazer valer seu mando de jogo, na Geraldo Linhares Arena, e que Rob Sears feche o gol, algo que não aconteceu ainda nesta série. E, ao contrário do que têm pregado todos os analistas da liga, esta tem sido uma série de muitos gols e equilíbrio.

Mas esperem. Que diabos é isso aí, descrito no parágrafo anterior? LBH? Joes? Pittsburghers? Ulrich? Sears? Estamos falando de um mundo paralelo, onde o hóquei torna-se o esporte número 1 do País? Será apenas algum devaneio do colunista? Ou os Irmãos Grim estão criando contos de fadas baseados na vida real? Não, nada disso. Ainda mantenho todas minhas faculdade mentais inalteradas. Acho, ao menos. Estou falando de algo real, sim. Quer dizer, virtual, mas real a quem participa desta liga.

A LBH é uma de várias ligas virtuais espalhadas pelo mundo, onde participantes reais disputam partidas de acordo com regras pré-estabelecidas entre os competidores. No caso desta liga, todos os participantes têm que fazer o download de um programa chamado Hockey League Comissioner ou, simplesmente, HLC. Nele, o gerente geral — papel assumido por cada competidor — tem controle total sobre sua equipe, decidindo quem será titular em cada partida, se o goleiro precisa descansar, quem joga com quem em cada linha, como cada linha irá atuar. Definido quem vai jogar, ele grava um arquivo com as linhas e envia ao comissário, que controla todas as transações e é quem faz a simulação dos jogos.

Isso mesmo. Com base nas equipes, o HLC simula situações e, com base nelas, marca os gols, penalidades, contusões, quantidade de chutes por período. Com os resultados em mãos, o comissário atualiza o site (sim, a LBH tem um site!), e envia para uma lista de e-mails (sim, a LBH tem uma lista de e-mails!) os resultados.

Aí, sim, é que acontece a liga. Com base nos resultados, cada GG prepara os próximos passos. Aciona outros GG's para tentar trocas. Altera suas linhas. E o principal: todos interagem, das mais diversas maneiras. Alguns provocam os outros, o que cria as rivalidades entre times. Alguns ocupam-se em noticiar os jogos, fazendo resumos da rodada, descrição de como foi a partida do seu time. Mas você me pergunta: como falar de um jogo que não se viu? Ora, meu caro, eu lhe respondo: imaginação. O atrativo de uma liga como a LBH não está no simulador, mas nas repercurssões sobre cada um dos jogos.

Para se ter uma idéia, a liga conta com diversas agências de notícia. Sim, agências de notícia, que cobrem cada movimentação e ainda contam com colunistas, bem aos moldes da NHL mesmo. Se existem a ESPN, CBS e Sporting News, na LBH existem a Agência Hóquei Rio, o Planeta Niteroiense e a Leafs Press. E a cobertura tem todo o sentido de existir. Na primeira temporada, foram 16 equipes, e o Hóquei Lions de Recife sagrou-se campeão. Com a expansão da liga (viram que chique?), o total subiu para 24 e os playoffs estão ocorrendo neste exato momento. O jogo do primeiro páragrafo, inclusive, é real. Deverá ter ocorrido até a publicação deste artigo. Só não saberei quem venceu.

Mas este tipo de liga, onde existe um comissário concentrador das simulações, é apenas um exemplo de tipos de liga existentes. Existem também as ligas de fantasia, baseadas na NHL, onde os competidores fazem um recrutamento de todos os jogadores da liga. Imagine poder contar com Peter Forsberg, José Théodore e Nicklas Lidstrom em um mesmo time? É como estas ligas começam. E como funcionam? Com o time em mãos, pode-se também trocar jogadores, definir titulares, mas suas performances são baseadas em como cada jogador se sai em seus jogos pela NHL.

Exemplo: no jogo da última quinta-feira dos Rangers, contra os Sabres, Eric Lindros marcou dois gols. Se você tiver Lindros no time, ganha pontos (de acordo com a regra da liga) por isso. Se você tiver Olaf Kolzig, dos Capitals, em seu time, com certeza ganharia muitos pontos, graças a suas 37 defesas em 38 chutes contra os Hurricanes. Ganha no fim quem tiver mais pontos.

Vai do conhecimento de cada GG montar sua equipe, procurar os jogadores certos. Pois ter uma grande estrela não significa que ela vai render o esperado. É conseguir identificar que uma linha está "pegando fogo", que um goleiro está em boa fase, que um time vai bem. É descartar rapidamente um jogador machucado e ter um bom jogador reserva, que, claro, você deveria ter negociado ou trazido daqueles que sobraram.

Mas e para quem quer realidade? Quero dizer, algo próximo a ela? Que queira ver os jogadores, ou algo que se pareça com eles? Neste caso, basta utilizar o recurso da série NHL, da EA Sports, para jogar on-line. Neste caso, você procura rivais pela rede ou mesmo algum amigo e o desafia para uma partida, com seu time e com os times da NHL ou com as seleções de cada país. E as ligas? Pela internet, é possível encontrar ligas que se baseiam no jogo para sua disputa.

As pessoas se unem e criam um calendário, mais ou menos como no futebol e são dados pontos a cada vitória ou empate. Mas com um diferencial: os participantes se enfrentam, por meio do jogo. Aí vale a habilidade de cada um no manejo do teclado ou joystick e das manhas do jogo. Neste caso, o atrativo é realmente o confronto direto. Não estão sendo testadas as habilidades gerenciais ou estratégicas dos adversários, mas se ele domina ou não os comandos para fazer seus jogadores renderem.

Assistir à NHL é sensacional. Vibrar com seu time no gelo, ver os jogadores desferindo trancos, marcando gols, os goleiros fazendo defesas espetaculares, tudo isto é a alma do hóquei no gelo. Mas chega-se a um ponto em que cada torcedor quer mais. Quem não gostaria de poder decidir por seu time? Evitar determinada troca, mandar embora algum jogador que não mais está rendendo. Como isto não é possível, ao menos nas ligas virtuais pode-se ter um gostinho dos bastidores não revelados da NHL...

Fabiano Pereira é gerente geral do Campinas Joes, citado no começo do artigo. Seu amigo de Slot, Alexandre Giesbrecht, é o gerente do São Paulo Pittsburghers. Quem irá ganhar este confronto?
 
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Página publicada em 21 de outubro de 2002.