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6 de novembro de 2002
Hóquei no Brasil: uma tentativa de estudo sobre o caso

Por Bruno Bernardo

Hóquei no Brasil. Escrever sobre isso exige bastante tempo, existem várias vertentes e várias coisas a ser ditas sobre isso. Esta coluna vai ficar grande, mas certamente não conseguirei englobar todos os assuntos relacionados a isso, mas espero que tenham a paciência de ler tudo e que gostem.

Para começar, a televisão é um elemento principal para a popularização do hóquei. Atualmente a TV aberta não tem nenhum interesse no esporte. Aliás, em TV aberta só lembro de ter visto algo relacionado ao hóquei poucas vezes: uma reportagem no RJ TV, a divulgação dos resultados da Stanley Cup na Bandeirantes (quando eles estavam começando essa nova série do Show do Esporte) e uma entrevista com Jaromir Jagr num programa da Gillette (aliás, programa muito bom, fala de todos os esportes de todos os lugares do mundo), exibido também na Band.

Mas tem uma coisa que me chama atenção: a TV aberta sempre fala algo que tenha sido negativo e que tenha acontecido na NHL. Como a briga de Tie Domi com um torcedor dos Flyers ou o caso McSorley (quando ele deu uma tacada na cabeça de Donald Brashear, à época nos Canucks).

Um exemplo disso foi a morte da garota que assistia ao jogo do Columbus com um disco na cabeça, Brittany Cecil. Todos noticiariam a morte, mas as providencias tomadas ninguém disse. Hoje a NHL colocou redes para proteger os espectadores. Se isso foi realmente necessário é uma outra historia, mas isso deveria ter sido noticiado, ao menos para os telespectadores terem um retorno e não pensarem que a NHL é uma liga violenta, que não tem preocupação com os torcedores.

A TV fechada, é, no momento, a única escolha para o fã de hóquei: a ESPN da América Latina é a única emissora que exibe jogos da NHL, mas eles normalmente são cortados e exibidos de madrugada, e não raro pouquíssimas vezes ao mês.

Algo que se deve ressaltar é o total despreparo da ESPN para o mercado brasileiro. Os programas da emissora são de origem argentina em sua maior parte, que não têm nada a ver com o público local. Hoje, inclusive, agüentei meia hora de uma propaganda de Auri Gold (para quem não sabe, uma cera de automóveis que era vendida há muito tempo pelo Grupo Imagem, aquele do 011 1406), ou seja, a ESPN, além de passar coisas que não interessam aos brasileiros, agora vende seus horários para propaganda inútil.

A esperança está na Directv. Ela tem um pacote de hóquei para os EUA e Canadá que transmite, se não me engano, 49 jogos por semana. Mas, por algum motivo, a Directv Brasil se recusa a exibir esse pacote aqui, algo que, sinceramente, não entendo, já que eles exibem o pacote da NBA, da NFL e da MLB. Para isso, será necessário um esforço dos fãs junto à emissora, para ver se eles finalmente liberam o pacote. A meu ver, essa é a chance mais plausível.

Temos que mencionar a Sportv, que exibiu o hóquei nos Jogos Olímpicos, exibe de vez em quando os resultados da NHL e exibe regularmente campeonatos de hóquei tradicional e in-line.

Depois disso, pensamos nos jornais e revistas. Neles só tenho a lembrança de algumas revistas da TVA, que, aliás, muito me ajudaram a conhecer a liga. Esta revista produzia matérias sobre a NHL, já que a ESPN era um dos carros-chefe da empresa, e são uma verdadeira relíquia para mim. Tenho algumas reportagens guardadas até hoje.

Em jornais, só me vem à cabeça o Lance: volta e meia eles publicam algo, nem que seja uma nota ou uma foto sobre hóquei, principalmente a NHL, mas sempre com erros de escrita e até mesmo desinformação, como a troca do nome dos times. Quantas vezes já não li Carolina Panthers, ao invés de Carolina Hurricanes.

Quem sabe um dia a Slot pode vir a se tornar um jornal ou talvez uma revista. Quem sabe...

Mas, sem dúvida, a Internet é a melhor referência para o fã de hóquei no Brasil. Graças a ela, pude encontrar fãs do esporte como eu.

A primeira lista de hóquei criada no brasil foi a NHLBr, na qual fui o membro número 3. Ela foi o resultado da união de dois membros da lista Redzone, de futebol americano: Bruno Zaneti e Rodrigo. Zaneti fundou a Powerplay com Bruno Gripp, que, aliás, sumiu do mapa, e que foi o primeiro torcedor do Montreal Canadiens conhecido no Brasil (morda-se de inveja, Murilo).

Eu fiz parte da Powerplay por algum tempo; era encarregado da seção Database, que falava da história do hóquei. Um tempo depois a Powerplay foi aberta para outros membros, e todos eles estão aqui hoje. Talvez aquilo tenha sido a semente da Slot. Algo que vale a pena mencionar era o fato de a Powerplay ser hospedada na touchdown.net, endereço do narrador da ESPN André José Adler, que fez propaganda do site por algum tempo.

Graças à lista, fiz muitos amigos e pude entender mais sobre o jogo. Todos nós aprendemos um pouco com os outros, e essa camaradagem acabou sendo o berço de outro sucesso relacionado ao hóquei no Brasil, a LBH, uma liga simulada, com 24 membros, que faz muito sucesso já ao fim da segunda temporada.

Existem alguns sites sobre hóquei em geral, sobre times específicos e sobre o hóquei in-line na rede, e esse numero aumenta cada vez mais.

O hóquei in-line no Brasil possui até muitos times, a maioria em São Paulo. A Sportv exibiu alguns campeonatos, que me agradaram muito. Essa é a alternativa mais cabível ao Brasil de hóquei na minha opinião. É certo que dá para termos rinques de patinação em todo o pais (afinal, existem rinques no Texas e no Arizona), mas isso dependeria de um investimento muito grande, que não vejo ninguém fazendo.

Investimento é uma palavra-chave neste País, mas, infelizmente, só se investe maciçamente em futebol no Brasil. É preciso algum ícone surgir, como Gustavo Kuerten, para outros esportes terem alguma projeção na mídia local.

Resta mencionar um ponto muito importante: o espectador brasileiro está pronto para o hóquei? Quando sou perguntado sobre meu esporte favorito, as pessoas ficam meio assustadas com a resposta, dizem ser um esporte muito violento, algo que, com certeza, é passado pela imprensa ou pelos filmes, que nada refletem a realidade do esporte. O hóquei é tão violento quando qualquer outro esporte de contato. Um dos argumentos que uso é que, no hóquei, você não vê torcedores de times diferentes brigando e se matando, como vemos freqüentemente no futebol nacional, que, para mim, é a verdadeira violência.

Mas algo me enche de esperança sempre. Quantos de nós, colunistas aqui neste site, já recebemos mensagens de pessoas querendo comprar material de hóquei, perguntando onde ver os jogos, ou até mesmo matricular o filho em um dos times da LBH, que sequer existem de verdade? Isto prova que há muita gente que quer viver o hóquei, e assim as coisas se espalham; a NBA começou assim, com o tênis foi assim, com a Fórmula 1 também. O povo brasileiro gosta de novidades e acho que o esporte pode ter um futuro neste País. Podem demorar anos, décadas, posso nem estar mais vivo, mas escrevam minhas palavras: o hóquei, um dia, vai ter alguma projeção no Brasil.

Bruno Bernardo, que agora tem 20 anos, sente-se orgulhoso de ser um membro da Slot e de poder cobrir o esporte que tanto ama.
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Página publicada em 4 de novembro de 2002.