Por Humberto Fernandes

Convenhamos: estamos no país do futebol! Que emissora se interessaria em encher sua grade de programação com hóquei no gelo para uma terra onde não há a mínima possibilidade de se disputar o esporte?

Tudo bem, até há esta possibilidade, afinal, na Flórida se pratica hóquei no gelo e o clima pode ser comparado ao de algumas regiões brasileiras. O problema é que o custo para implantar uma arena de gelo seria elevadíssimo, algo que exigiria muitas despesas e nenhum lucro.

Resta-nos o hóquei sobre patins, em que estamos bem representados e evoluindo. Desconheço o montante exato de times existentes hoje no Brasil, mas certamente poderia encher esta página apenas com seus nomes. E ainda há as federações nacional e estaduais. Esta modalidade do esporte tem todas as condições necessárias de se tornar constante na vida do brasileiro. Em um país tão grande e com tanta gente, há espaço para mais culturas, não só a do futebol.

Iniciativas na área, além das já citadas, estão aparecendo um pouco mais nos últimos tempos. O Sportv — canal de TV por assinatura — freqüentemente transmite um ou outro campeonato de hóquei sobre patins e até de outra modalidade, o chamado hóquei tradicional — jogo disputado com tacos mais curtos e sem contato físico, parecendo mais de golfe que de hóquei. A emissora também transmitiu, recentemente, o hóquei no gelo dos Jogos Olímpicos de Inverno, em Salt Lake City.

Ainda observando a reação da televisão em reação ao hóquei, pode ser um bom sinal a iniciativa da TV Gazeta, que, segundo um amigo, tem exibido os lances da noite anterior da NHL em seu noticiário esportivo, inclusive com participação de comentaristas brasileiros dizendo que não entendem como o esporte ainda não emplacou no Brasil. Apesar de ser uma pequena emissora, é a única a se manifestar a respeito na TV aberta. Outra emissora, mas de TV por assinatura, a ESPN Brasil exibe no SportsCenter os gols da partida mais importante da noite anterior. Já é alguma coisa.

Apesar destes bons exemplos, ainda não é o suficiente para acompanharmos hóquei no gelo na ESPN. Não por nós, mas por eles. A ESPN não vai investir em algo a longo prazo, como o desenvolvimento do esporte no Brasil. Ela certamente sabe que sua audiência não é grande, talvez nem mesmo considerável. Além disso, a programação da América Latina é muito influenciada pelos gostos esportivos americanos. Somente isso explica dois jogos ao vivo por semana da NFL — futebol americano. O hóquei não está tão longe do futebol americano — no Brasil — para merecer apenas repetecos de jogos nas madrugadas.

Fazendo-se um julgamento racional, a ESPN tem certa razão em não transmitir constantemente hóquei para o Brasil. Não que ela ganhe mais com outros programas, mas isto é problema deles, não nosso. Nem mesmo vôlei ou basquete, em que temos um histórico de vitórias internacionais, são esportes respeitados e amplamente divulgados na imprensa nacional; por que o hóquei seria, e ainda trazido por um órgão mundial? E então, se transmitido para cá, quem garante seu desenvolvimento?

Há espaço para o crescimento do esporte. Basta que haja manifestações de qualquer tipo em prol do esporte. Seja lendo ou escrevendo, criando páginas dos times, enviando e-mails, estaremos mostrando "ei, ESPN, ajude-nos a difundir o esporte, e no futuro isto lhe trará um novo mercado".

Nota do autor: Consultando a programação da ESPN até janeiro do ano que vem, encontrei apenas quatro jogos programados para o Brasil. Tudo bem que não haja mercado, mas quatro jogos é quase uma ofensa.