Por
Marcelo Constantino
Desde a primeira partida a que assisti do meu time, o Detroit Red Wings,
na ESPN, em meados de novembro de 1996, um empate de 2-2 contra o Vancouver
Canucks, que incorporei este estranho hábito de assistir aos
jogos da madrugada da ESPN como se fossem ao vivo. Quer dizer, assistir
sem saber do resultado final.
Trata-se de uma tradição desde então. Como são
cada vez mais raros jogos do meu time não, eu não
acordo de madrugada para ver jogos de outros times na temporada normal
e nem os gravo para ver depois , qualquer jogo do Detroit é
motivo para mobilização de véspera. Dormir cedo
dois dias antes e no dia também, para não ficar com sono
durante a madrugada. Acordar no horário marcado, assistir, voltar
a dormir se o jogo não acabar às 6 da manhã
, acordar novamente e ir trabalhar.
Ah, é terminantemente proibido gravar um jogo para ver no dia
seguinte. O prazer está em assistir de madrugada mesmo.
Assisti a muitos jogos em 1996-1997, quando a ESPN transmitia geralmente
duas partidas por semana e ainda eram bem generosos com os Wings. Outros
tempos aqueles: nem sempre eu precisava acordar cedo, tinha outro horário
de trabalho. Pra se ter uma idéia, pude assistir a três
dos quatro confrontos entre Detroit e Colorado Avalanche daquela temporada.
Do ano seguinte em diante a quantidade de partidas transmitidas foi
caindo, a ponto de eu poder contar em poucos dedos quantos jogos dos
Wings a ESPN passou nesta temporada normal de 2001-2002.
Durante este intervalo, sempre se discutiu entre os torcedores brasileiros
uma forma de pressionar a ESPN para que transmita mais jogos para o
Brasil. Diversas são as sugestões, mas que sempre esbarram
no evidente pouco apelo que o esporte ainda tem no país. Entretanto,
custo a crer que golfe e outras aberrações que vemos freqüentemente
na emissora tenham mais audiência do que a NHL no Brasil. Existe
alguma publicação em português como a The Slot BR
de algum desses esportes menos conhecidos no país?
Neste ano pude assistir a três partidas da final de conferência
entre Detroit e Colorado. Jogos 3, 6 e o derradeiro 7. Nos playoffs
de 1997 a ESPN transmitiu os jogos 1, 3 e 4 entre os mesmos times e
em 1998 não transmitiu nenhum entre Detroit e Dallas Stars. Ou
seja, algo melhorou de lá para cá.
Principalmente a decisão de transmitir o jogo 7 da final de conferência
deste ano, algo que não estava na programação e
que só entrou no dia anterior. Agradeço ao amigo Humberto
Fernandes, que avisou a todos da sábia decisão da ESPN.
Quem assistiu aos playoffs deste ano eu assisti a todos os jogos
dos Wings e todos os que passaram ao vivo deve ter ficado de
saco cheio de tanta paralisação e tanto comercial da mesma
coisa. "Perfis", corrida de cavalo, Strongest Man, X-games,
Copa do Mundo, a "emoção" do PGA, o escambau.
Sempre as mesmas chamadas em todo santo intervalo.
Eu mesmo não agüentava mais ver Simeone, Batistuta, Crespo,
Gáudio, Sanchez e Romário falando a mesma coisa uma dúzia
de vezes por partida naquele raio de "Perfis". De fato, foi
uma piada ver os jogadores argentinos falando aquilo e a Argentina sendo
eliminada da Copa. Mas a piada contada dezenas de vezes perde a graça
e irrita.
Sem contar o incorrigível mau hábito de cortar parte dos
jogos e manter a "cobertura completa" dos intervalos. Quer
dizer, "por premência de tempo", ao invés de
cortarem os cerca de 15 minutos de intervalos entre períodos
ou aqueles momentos em que os juízes ficam esperando o pessoal
do vídeo dizer se foi gol ou não ou quando cai uma parte
das bordas e ficam mostrando toda a recolocação ou mesmo
quando o treinador pede tempo, qualquer coisa assim. Não, isso
continua, corta-se mesmo é o disco rolando no gelo.
Isso para não dizer quando a ESPN programa uma partida, anuncia
e... Não passa! Não é raro: aconteceu nos playoffs
deste ano.
Ah, ainda temos o Sporscenter argentino, que nos faz o favor de colocar
o placar final da partida que iremos ver daqui a alguns minutos! Os
desavisados que se previnam: escureçam a imagem, desfoquem, retirem
o som, evitem olhar para a TV. De todas as formas eles tentarão
dizer-lhe o resultado e tirar o prazer de assistir à partida
como se fosse "ao vivo". Depois de acontecer comigo num Detroit
5-0 Chicago nesta temporada, nunca mais caí na armadilha.
Boa parte dos torcedores da NHL no Brasil tem no locutor André
José Adler o grande referencial. Querido por todos e carismático,
talvez seja o maior incentivador da transmissão do esporte para
o Brasil dentro da emissora. Outra parte dos torcedores já foi
formada antes, nos tempos em que raros eram os jogos narrados em português.
Estes já estão acostumados com as vozes de Gary Thorne,
Dave Strader e Steve Levy e, sempre que podem, acionam a tecla SAP.
De qualquer forma, as lembranças de estar assistindo à
ESPN no silêncio da madrugada em casa, na sala, bebendo alguma
coisa, são, na verdade, muito mais um prazer do que um martírio.
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Marcelo Constantino Monteiro reconhece que a qualidade da transmissão
dos jogos da NHL pela ESPN é incomparável. Pena que não podemos
desfrutar uma quantidade razoável deles. |
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"PERFILES" Alguém
ainda aguentava rever pela enésima vez as chamadas para o "Perfis"
durante os playoffs? (Reprodução) |
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