Por: Thiago Leal

Bem-vindo ao evento esportivo mais empolgante do ano: a pós-temporada da NHL. São 16 times, oito da Conferência Leste e oito da Conferência Oeste brigando pela coisa mais importante do mundo: a Copa Stanley.

É nos playoffs onde as coisas realmente acontecem. As tradições mais legais nascem, as rivalidades surgem ou ganham força, o time poderoso é eliminado pelo mais fraco etc.

OK, tudo isso você já sabe. Mas como a grande dança só começa na quarta-feira, vamos tratar de algumas curiosidades a respeito de sua história. Qual a série de playoffs que mais se repetiu? Quais foram as maiores séries de playoffs da história da liga? Por que alguns jogadores deixam a barba crescer durante a pós-temporada? E se a NHL só surgiu em 1917 e a Copa Stanley existe desde 1893, como ela era conquistada antes?

Aliás, como tudo isso começou?

A Copa Stanley: Também conhecida como Santo Graal ou, simplesmente, A Copa, esta taça de prata foi idealizada pelo Lorde Frederick Arthur Stanley, o 16º Conde de Derby, apontado Governador Geral do Canadá pela Rainha Elizabeth em 1888. Seu primeiro contato com hóquei no gelo fora em 1889, em Montreal, e ele gostou tanto do esporte que resolveu criar um troféu para condecorar campeões. Nascia a Copa Stanley.

A disputa: A primeira vez que a Copa Stanley foi posta em jogo foi na temporada de 1893 da Associação de Hóquei Amador do Canadá (Amateur Hockey Association of Canada) e conquistada pelo Montreal Hockey Club. A partir de 1894 a Copa Stanley foi colocada a desafio. Qualquer clube de liga amadora de hóquei no Canadá poderia desafiar o campeão em séries válidas pela Copa, que assim transitava entre ligas diferentes. Esse formato persistiu até 1914. Nesse ano, surgiu uma controvérsia a partir de um desafio do Victoria Aristocrats da Associação de Hóquei da Costa do Pacífico (Pacific Coast Hockey Association). No final das contas a Copa Stanley passou a ser disputada no formato de Série Mundial, como acontecia no beisebol, com ligas diferentes indicando seus campeões para a disputa. Em 1917 surgiu a NHL. As demais ligas foram fechando até que em 1926 restava apenas a NHL. A Copa Stanley passou a ser entregue diretamente a seu campeão.

Playoffs da NHL: Surgiram em 1918, após a primeira temporada regular da NHL, de modo a indicar um time para a disputa da Copa Stanley. A primeira série de playoffs contou apenas com dois times, o Montreal Canadiens e o Toronto Hockey Club, e apenas dois jogos no esquema ida e volta. O Toronto foi o vencedor e avançou à disputa da Copa Stanley, vencendo o Vancouver Millionaires e conquistando a Copa Stanley. Em 1980 pela primeira vez os playoffs eram disputados com 16 times, formato matido até hoje, com mudanças apenas no número de jogos (de melhor de 5 para melhor de 7) e no sistema de divisões e conferências.

Montreal Canadiens-Boston Bruins: A maior rivalidade da NHL também é a série de playoff mais comum: ela se repetiu 32 vezes e na temporada atual teremos a 33ª edição. Os Habs levam larga vantagem: 24 vitórias contra apenas 8 do Boston. A última série, no entanto, foi uma varrida dos Bruins, na temporada 2008-09. O irônico é que essa história toda começou com uma varrida dos Bruins: 3-0 em 1929. A série também já decidiu a Copa Stanley sete vezes, com Montreal vencendo todas elas.

Outras séries que se repetiram bastante: Toronto Maple Leafs contra Detroit Red Wings aconteceu 23 vezes com 12 vitórias do Toronto contra 11 do Detroit. Essa série atualmente só pode acontecer na final. O mesmo vale para Montreal Canadiens contra Chicago Blackhawks que já se pegaram nos playoffs 17 vezes. Montreal vs. Toronto e Detroit vs. Chicago aconteceram 15 vezes cada.

O Milagre de Manchester é considerada a maior virada da história dos playoffs, com o Los Angeles Kings derrotando o poderoso Edmonton Oilers de Gretzky, Messier, Coffey e Kurri. TheSlot.com.br detalhou essa história, ocorrida em 1982. Na primeira partida da série, em Edmonton, vitória dos Kings por 10-8, um recorde ainda estabelecido de gols em uma partida de playoff. Os Oilers venceram o jogo 2 ainda em Edmonton por 3-2. O jogo do "milagre" foi o terceiro da série, com o Edmonton vencendo por 5-0 até o terceiro período, quando os Kings empataram e venceram na prorrogação.

Ainda que o milagre tenha ficado famoso pelo jogo 3, não parou por aí. Os Oilers venceram o jogo 4, também por 3-2, e levaram a decisão para casa. Em Edmonton, vitória do Los Angeles por 7-4 na série melhor de cinco.

O Épico de Páscoa: Imagine um jogo sete de série de playoffs que comece às 7:50 do sábado e termine apenas às 1:58 da manhã, já no Domingo de Páscoa. É pra jogar ovo de chocolate no gelo com o gol vencedor ou não é? E esse confronto aconteceu em 1987, bem antes do Mateus Tagata nascer, na série entre New York Islanders e Washington Capitals pela semi-final da Divisão Patrick. Depois de empatarem em 3 jogos a 3, os dois rivais chegaram às finais em Landover, Maryland, no Capital Centre, então casa do Washington. E foram eles, os donos da casa, que abriram o placar no primeiro período. Com o segundo período empatado em 1-1, os Capitals levaram a vantagem para a (teoricamente) etapa final, até que os Islanders empataram com Bryan Trottier a cinco minutos do fim.

Foram quatro prorrogações até que Pat LaFontaine definiu a vitória, já no Domingo de Páscoa. Foram 68:47 minutos de prorrogação. Kelly Hrudey, então goleiro dos Islanders, estabeleceu um recorde que ainda persiste: 73 defesas num jogo de playoff. Chocolate para todo mundo no vestiário dos visitantes!

Em 1996 os Capitals viriam a jogar quase 80 minutos de prorrogação contra o Pittsburgh Penguins.

O jogo mais longo da história dos playoffs, no entanto, ocorreu em 1936, com 116 minutos de prorrogação. Recentemente, Dallas venceu o San Jose em 69 minutos de prorrogação em 2008; Vancouver e Dallas arrastaram uma prorrogação por 78 minutos em 2007; Anaheim e Dallas passaram os 80 minutos em 2003 e Philadelphia e Pittsburgh foram até 92 minutos em 2000. O Épico de Páscoa é "apenas" o 10º da lista.

O Milagre de Segunda à Noite: São Luís também faz milagres. Em 12 de maio de 1986 o St. Louis Blues recebeu o Calgary Flames para o sexto jogo da série entre os dois, com vantagem de 3-2 para a franquia canadense. E tudo se encaminhava para uma vitória época dos Flames, levando para o intervalo do segundo período uma vantagem de 4-1 e ampliando o placar para 5-1 no terceiro. Os Blues correram atrás do prejuízo e empataram a partida a um minuto do fim do jogo com Greg Paslawski, vencendo na prorrogação por 6-5 com gol de Brett Hull, no que Ken Wilson, histórico narrador de St. Louis, chamou de maior momento na história dos Blues.

O St. Louis foi eliminado no jogo 7, em Calgary, por 2-1.

O Boston Bruins é o time com o maior número de classificações seguidas aos playoffs: 29 temporadas consecutivas, de 1968 a 1996. O time com maior número de aparições atuais é o Detroit Red Wings com 20 desde 1991. O Montreal Canadiens é o time com mais aparições consecutivas em final de Copa Stanley (dez, de 1951 a 1960) e o maior número de campeonatos consecutivos: cinco, de 1956 a 1960.

O time com a maior sequência de não-aparição nos playoffs tanto atualmente quanto historicamente é o Florida Panthers, há dez temporadas fora da grande dança. Já o time com a maior sequência de derrotas em séries de playoffs é o Phoenix Coyotes/Winnipeg Jets: 22 temporadas sem vencer uma série (11 aparições nos playoffs até então).

A barba: Não fazer a barba durante os playoffs. Começar a dança com a cara limpa e terminar com ela mais peluda que um leão-de-atlas. A brincadeira da barba começou nos anos 80, durante a dinastia do New York Islanders. A prática foi abandonada, até que o New Jersey Devils a trouxe de volta em 1995, sendo praticada por vários jogadores daí pra frente, e estendendo a tradição a ligas juvenis, ligas universitárias (OK, essas com menos barba) e, em alguns casos, campeonatos mundiais e ligas fora da América.

A tradição também se estende a fãs e torcedores do esporte. Até hoje estou me perguntando qual seria o equivalente feminino da brincadeira, mas já pedi à minha namorada que, seja qual for, por favor, não pratique.

A Lenda do Polvo: História muito bem conhecida de quem acompanha o esporte mais rápido no gelo. A tradição dos fãs de Detroit de jogarem polvos no gelo começou em 1952 e segue até hoje. Sempre que o Detroit marca um gol em playoffs, funcionários entram para retirar as coisas gosmentas e pegajosas do rinque da Joe Louis Arena. Em 1995 um recorde de 36 polvos no gelo da Joe Louis Arena, inclusive um pesando 17kg! O clube abraçou a causa e lançou um mascote, Al the Octopus, um polvo geralmente pendurado no teto da Joe Louis Arena, o único mascote da NHL que não vem na forma de uma fantasia de pelúcia com algum trabalhador assalariado dentro.

Às vezes algum torcedor do Detroit repete a façanha em outras arenas, o que nunca é bem vindo. Isso aconteceu durante a série final entre Detroit e Pittsburgh, em 2008, levando os vendedores de peixes e frutos do mar de Pittsburgh exigirem identificação de seus clientes e se recusando a vender para clientes de Michigan.

Jogar coisas no gelo: Assim como no futebol brasileiro, torcedores de hóquei imitam as torcidas rivais. A diferença é que ao invés de copiar os cantos irritantes de torcidas como se vê aqui, eles só copiam as tradições legais. Imitar os torcedores do Detroit e jogar coisas no gelo tornou-se uma tradição esporádica de fãs de outras franquias.

Em 1995, por exemplo, um torcedor do Boston Bruins jogou uma lagosta no rinque em série contra o New Jersey Devils. No mesmo ano um fã do New Jersey, em resposta aos fãs do Detroit, jogou um peixe no rinque, durante as finalíssimas contra os Wings.

Talvez o fato mais notável depois do polvo de Detroit seja os ratos de borracha jogados no gelo durante a surpreendente campanha do Florida Panthers em 1996. Reza a lenda que Scott Mellanby teria matado um rato no vestiário. O problema é que a quantidade de ratos de borracha era infinitamente superior a de polvos (afinal de contas, quem diabos vai ter coragem de levar um polvo morto no casaco?) e o atraso no recomeço do jogo era grande, interrompento a tradição — o que é uma pena, e uma forma da NHL reprimir franquias menos influentes.

Os fãs de Anaheim recentemente imitaram o fato jogando toalhas laranjas no rinque.

Já foi registrado bagres jogadas em Nashville, em uma série entre Nashville Predatores e Detroit Red Wings; e um tubarão-leopardo, peixe típico da Califórnia, atirado no rinque em jogo da série entre San Jose Sharks e Detroit Red Wings.

O aperto de mãos: A mais bela da tradição dos playoffs. Os times se perfilam e apertam mãos cordialmente. Após minutos de hóquei jogados, brigas, trancos, pancadas, nada supera o bom e velho espírito esportivo.

Thiago Leal espera só fazer a barba em junho.

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O New Jersey Devils sempre respeitou a barba dos playoffs.

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Dono de uma notável barba em 2003, o MVP Jean-Sebastian Giguere não teve sorte e saiu sem Copa Stanley.
(09/06/2003)

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Já foi dito aqui: poucas coisas têm tanta cara de playoffs quanto um cefalópode.
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É ela que retira os polvos do rinque da Joe Louis Arena após os gols? Eu jogaria um polvo a cada chute a gol então.
Jim McIsaac/Getty Images
Duas tradições juntas: barbado, o Al o Polvo avisa: você está entrando numa área onde não se barbeia. A barba voltou!
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Gol dos Panthers = ratos de borracha no gelo. A NHL barrou a brincadeira.
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Espírito esportivo: Ganhem ou percam, todos se cumprimentam no final.
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Página publicada em 11 de abril de 2011.