Por: Alexandre Giesbrecht

Se um time vencer todos os seus jogos ao longo da temporada regular, ele garante a vaga para os playoffs. Por isso, o lema "Ganhe e você estará na pós-temporada" é verdadeiro até suas entranhas. Mas dois times testaram a essência desse lema no último fim de semana de jogos, quando seus destinos dependiam de uma vitória. E ambos falharam. Ao contrário do que temos nos acostumado no Brasil, quando rodadas decisivas inteiras são marcadas para o mesmo dia e horário, na América do Norte eles já estão marcados com meses de antecedência, o que muitas vezes faz um time entrar no gelo sabendo exatamente o que tem de fazer para alcançar um objetivo.

Desta feita, os Hurricanes receberam o Lightning com a consciência de que uma simples vitória os colocaria nos playoffs no lugar dos Rangers, que tinham encerrado participação algumas horas antes, livrarando dois pontos de vantagem. O time da Carolina do Norte, entretanto, levaria vantagem nos critérios de desempate caso conseguisse derrotar o Tampa Bay. Com ou sem preparo psicológico para a situação, os Canes foram goleados, 6-2, e deram adeus aos playoffs antes mesmo de eles começarem.

Mas essa briga apenas servia para ver quem seria o boi de piranha dos Capitals na primeira fase. Na conferência oposta, uma situação praticamente igual se desenharia no dia seguinte. Os Blackhawks, atuais campeões, receberiam os eternos rivais Red Wings podendo desde conquistar a quarta posição no Oeste até simplesmente ser eliminados. Veio a derrota por 4-3, e o destino do Chicago passou a ser controlado pelos Stars, que jogariam horas mais tarde em Minnesota contra o Wild. A gama de possibilidades para os Hawks tinha diminuído consideravelmente, mas o terror ainda assombrava os corações na maior cidade de Illinois. Agora, ou vinha a classificação na oitava colocação — e o consequente encontro com os Canucks, vencedores do Troféu dos Presidentes — ou uma dolorosa desclassificação.

Para os Stars, apenas a vitória interessava, mas seu destino estava em suas próprias mãos, ao contrário do que Dave Clayton passava enquanto tinha de torcer contra o Dallas para ver seus Hawks se classificar. Os Stars, entretanto, não lidaram muito bem com a pressão de imediato: o Wild saiu na frente aos 6:05, com um gol de Brad Staubitz. Ainda no primeiro período Brad Richards e Brenden Morrow viraram o jogo. Era hora de preparar a festa.

Aparentemente, os jogadores dos Stars ficaram mesmo preocupados em preparar a festa, porque simplesmente deixaram de jogar no segundo período e deram um mísero chute a gol durante os primeiros 17 minutos. Nesse meio-tempo, o Wild virou novamente o jogo, com direito a um gol do truculento Colton Gillies. Uma vantagem numérica de cinco contra três serviu para acordar o time que realmente estava brigando por alguma coisa. Um gol de Alex Goligoski empatou novamente a partida.

Bastava ao Dallas vencer o último período. Apesar de alguma pressão, principalmente depois de o ex-Star Antti Miettinen fazer 4-3 para o Wild, o gol seguinte foi em rede vazia, para fechar o placar em 5-3, eliminando os Stars e aliviando meu amigo Dave. "Você ganha um presente como esse, e é quase como se fosse Natal", lamentou o gerente geral Joe Nieuwendyk. "E então, algumas horas depois, sua temporada acabou." Dois dias depois, ele demitiu o técnico Marc Crawford. Fina a linha que separa o sucesso do fracasso.

O goleiro Kari Lehtonen também estava decepcionado: "Você quer olhar para algumas coisas e sentir bem, mas não importa. Tudo que posso pensar agora é que [no domingo] eu só joguei ok, eu não fui bom o suficiente." O sempre frágil goleiro foi um dos pontos altos da campanha dos Stars, tendo atuado em 69 partidas, bem acima de sua média anual. A derrota no tempo normal tambpem impediu que um recorde fosse quebrado: os 95 pontos que os Stars acumularam foram o maior total de um time que não foi aos playoffs na história, mas ao lado do Avalanche de 2006-07. Se o time tivesse perdido após os 60 minutos, assumiria esse recorde, mas certamente preferiria ganhar o jogo e deixar a marca para os Hawks, que, nesse caso, teriam 97 pontos e assistiriam à pós-temporada pela televisão.

Muitos dos jogadores dos Hawks já estavam pensando nesse terrível destino que assola todo ano catorze dos trinta times da liga. Quando a partida contra o Detroit se encerrou, o grupo estava desolado. Os Stars vinham embalados, e o Wild não tinha mais o que fazer. Difícil colocar-se na situação de torcer pelo Minnesota. No fim das contas, deu certo. "Nunca na minha vida fiquei tão empolgado com um jogo de que não participei", confessou Joel Quenneville, técnico dos Hawks. "Não consigo expressar meu júbilo, meu entusiasmo, minha empolgação."

Esse júbilo, esse entusiasmo, essa empolgação a esta altura já devem ter terminado. A oitava colocação só foi uma boa notícia comparada à última alternativa, que era ficar fora dos playoffs. Comparada às possibilidades que o time tinha no domingo de manhã, que incluíam até o mando de gelo na primeira fase, o confronto contra os donos do Troféu dos Presidentes não é lá tão animador, apesar do bom histórico recente nos embates entre as duas equipes na pós-temporada. Agora os Hawks não poderão depender dos outros. "Sabemos que para jogar com o Vancouver temos de ser especiais", avisa Quenneville. "O entusiasmo por chegar aos playoffs depois do que tivemos de superar ao longo do ano tem de ser algo para mantermos."

Alexandre Giesbrecht, 35 anos, achou um vestígio da Estação Roosevelt.
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Página publicada em 12 de abril de 2011.