Por: Thiago Leal

O controverso nome de Evgeni Nabokov retorna aos noticiários cheio de interrogações. Ele assina com o Detroit Red Wings, mas é colocado em waivers por estar retornando da Europa. É chamado dos waivers pelo New York Islanders e, insatisfeito, não responde ao chamado, arriscando, talvez em definitivo, sua carreira na NHL. Nabokov já tem 35 anos e se recusar o chamado dos Islanders pode ser suspenso pela liga por até um ano.

O que os Wings queriam com Nabokov afinal? E por que Nabokov recusaria os Islanders? Por não irem aos playoffs? Porque seu desempenho é bem melhor em temporada regular. E por que os Islanders recrutam Nabokov dos waivers? Para resolver seu problema crônico de goleiros?

Quando Doug Wilson anunciou que Nabokov não renovaria sua extensão contratual com o San Jose Sharks, muito torcedor na região da Baía de São Francisco comemorou. Não que Nabokov, goleiro da franquia por dez temporadas, fosse um goleiro ruim. Muito pelo contrário. O problema eram suas falhas em momentos decisivos — vulgo "playoffs", a grande obsessão do San Jose desde 2004.

Talvez essa sina de falhar em momentos decisivos esteja mais associada particularmente à traumática eliminação para o Anaheim Ducks em 2009, quando os Sharks ganharam o Troféu dos Presidentes e se candidataram a favoritos para a Copa Stanley. Se Patrick Marleau e Joe Thornton sofreram críticas por não aparecer durante a trágica série, Nabokov foi crucificado por não ser ele o santo que todos esperavam. Porque o goleiro é aquele cara que salva o time quando nada vai bem. É aquele que no final do jogo recebe tapinhas na máscara por ter se sacrificado pelos companheiros. Basta pensar na quantidade de goleiros que se superam em playoffs, lideram o time à Copa Stanley e ganham o Troféu Conn Smythe. Os nomes Patrick Roy, Cam Ward e Mike Vernon lembram alguma coisa?

Durante temporada regular o desempenho de Nabokov chegava a ser brilhante. Jogos em que parava mais de 40 chutes, até mesmo 50, não era coisa esporádica e o cazaque naturalizado russo estabeleceu um recorde de 11 vitórias consecutivas em jogos fora de casa. O problema todo era quando a responsabilidade apertava, ainda que sua carreira seja marcada por uma série em particular. Talvez a varrida para o Chicago Blackhawks em 2010 (ainda que, na série, ele tenha feito dois bons jogos) tenha esgotado de vez a paciência da gerência do San Jose e o vínculo não foi prolongado. Nabokov voltou à Rússia para jogar pelo SKA St. Petersburgh mas rescindiu contrato por razões pessoais e retornou aos Estados Unidos sendo um agente livre.

E, diga-se de passagem, Nabokov não vinha fazendo uma boa temporada regular na KHL, perdendo oito jogos e empatando cinco — ganhando outros oito jogos. É com esses índices que ele volta à América para pleitear lugar em alguma equipe da NHL e, naturalmente, seria por alguma franquia da parte de baixo da tabela. A oportunidade de jogar pelos Wings foi um achado, mas sua chance de retornar pelos Islanders não pode ser encarada como o fim do mundo. Ele era um goleiro sem clube! O que esperava afinal? Ser chamado pelo Vancouver Canucks de Roberto Luongo? Pelo Philadelphia Flyers de Sergei Bobrovsky e Brian Boucher? Ao Anaheim Ducks de... Jonas Hiller?

Esse tipo de atitude em conjunto com sua figura apática, calada, suas falhas em playoffs e, finalmente, sua provável recusa em assinar com os Islanders, acabam levando Nabokov da fama à infâmia. Sua carreira não o conduziu a um caminho onde possa pleitear lugar entre as equipes com os melhores e mais experientes goleiros ou mesmo entre os times que apostam em jovens promessas.

Nabokov desceu do nível de um grande goleiro para um goleiro que, do alto de seus 35 anos, ainda tem algo a provar, ou, caso contrário, contente-se com a reserva. E não é por nunca ter conquistado uma Copa Stanley. Miika Kiprusoff, goleiro que, ironicamente, ele, Nabokov, barrou no San Jose, também nunca conquistou uma. A diferença vem da atitude do atleta e da manutenção de seu rendimento. O talentoso Nabokov, goleiro de 50 defesas, se mostrou alguém controverso debaixo dos paus e acaba tornando-se uma segunda opção. Alguém lembrou de Martin Gerber, atualmente goleiro do Oklahoma City Barons, equipe menor do Edmonton Oilers? Nabokov ficaria satisfeito em jogar pelo Grand Rapids Griffins?

O New York Islanders tem problemas com goleiros faz um bom tempo e Nabokov dificilmente seria uma solução definitiva. Essa atitude de procurar goleiros veteranos como Dwayne Roloson não vingou antes e não é agora que iria vingar. Mas os Isles estão na ponta de baixo da tabela com uma defesa patética jogando a carreira de John Tavares no lixo. Nabokov teria a oportunidade de jogar um pouco mais numa liga de ponta e, quem sabe, aparecer. Quem sabe, dependendo de seu desempenho, até mesmo conseguir transferência no dia-limite de trocas para alguma equipe que vá disputar os playoffs.

Quem arriscaria em Nabokov para playoffs? Vai saber. O Atlanta Thrashers não está muito bem servido de goleiro, por exemplo.

Nabokov deixou a NHL cercado de controversa e consegue voltar atraindo ainda mais. Ao invés de insatisfação, todo esse estardalhaço em torno de seu nome deveria deixá-lo até orgulhoso. O cara ainda é capaz de causar algum barulho, mesmo com suas marcas negativas — entre tantas outras marcas positivas, claro, mas NHL é playoffs e lá ele nunca chegou onde se esperava.

A última interrogação é se Nabokov realmente está tentando retomar a carreira ou se quer enterrá-la de vez.

Thiago Leal está apresentando João Pessoa ao amigo Daniel Novais e sua namorada Clara.
Edição Atual | Edições anteriores | Sobre TheSlot.com.br | Comunidade no Orkut | Página no Facebook | Contato
© 2002-10 TheSlot.com.br. Todos os direitos reservados. Permitida a reprodução do conteúdo escrito, desde que citados autor e fonte.
Página publicada em 23 de janeiro de 2010.