Por: Thiago Leal

Era uma pegadinha e eu caí. A notícia Cheechoo junta-se aos Sharks no começo de fevereiro me deu um susto e eu cliquei só para descobrir que o colunista malandro se referia ao Worcester Sharks, time da AHL filiado ao San Jose Sharks. E nem dá para dizer que Jonathan Cheechoo faz parte da "Organização San Jose Sharks", porque seu contrato de experiência é direto com o Worcester. E por ser um contrato de experiência, Cheechoo depende de renovação constante para continuar com esses outros Sharks.

Assim como Patrick Marleau, Jonathan Cheechoo apareceu de surpresa em 2004 ajudando os Sharks a chegar às finais de conferência e, em 2006, aparentemente, mostrou que a promessa era realidade ao marcar 93 pontos (sendo 56 gols) e se tornar o melhor jogador do time na temporada, superando o próprio Marleau e a nova contratação Joe Thornton. Cheechoo faturou o Troféu Maurice Richard. Na temporada seguinte, mesmo com seu número de pontos caindo consideravelmente, chegou ao Jogo das Estrelas. E de lá pra cá passou a ser um jogador medíocre com rendimento pífio a ponto de nem ser mais considerado uma decepção, porque dele não se esperava nada mesmo.

Em 2009, Cheechoo mudou de casa e foi para o Ottawa Senators junto com Milan Michalek. Em Ottawa sua incompetência chegou a ser tratada com bom-humor por alguns fãs, sugerindo que Cheechoo poderia acabar virando uma espécie de Chad LaRose. A gerência por outro lado não deu muitas risadas e mandou o rapaz para Binghamton, para jogar a AHL. Voltou para mais um jogo de pós-temporada mas não deu certo. Sem paciência, o Ottawa comprou seu último ano de contrato e o liberou. Agente livre, Cheechoo chegou a treinar com o Dallas Stars, jogou duas partidas de pré-temporada e foi liberado.

Finalmente, em outubro deste ano, sou surpreendido com a notícia de que Cheechoo jogaria pelos Sharks e leio nas primeiras linhas que trata-se dos "Sharks da AHL" e, ainda por cima, contrato de experiência, ronavado a cada 25 jogos. Neste momento, Cheechoo está em seu segundo contrato. Curiosamente, Cheechoo juntou-se a Ray Sommer, seu primeiro técnico profissional, quando ele jogou pelo Kentucky Thoroughblades em 2000, então franquia da AHL filiada ao San Jose Sharks. Sommer afirmou que seria uma grande oportunidade para Cheechoo ajudar os jogadores mais jovens a se desenvolver — quase todo o elenco do Worcester tem contrato com o San Jose. Sommer também lembrou que Cheechoo é um jogador de valor por sua garra no rinque.

Não que essa situação seja exatamente novidade para Cheechoo, que começou sua carreira profissional com o Kentucky na AHL, passou pelo Cleveland Barons antes se firmar no San Jose e, recentemente, jogou pelo Binghamton Senators — onde teve um desempenho razoavelmente bom, o que é bem abaixo do esperado para um atleta do nível da NHL. O problema todo é que Cheechoo não inspira mais confiança. Depois de frustrar altas expectativas e de manter um nível de atuações medíocres, o natural é entender que aquele é o patamar de atuação do jogador. Se Cheechoo, por um lado, tem a experiência necessária para chegar em um time usando o A de capitão alternativo no ombro logo em sua estreia, por outro não inspira a menor segurança mesmo em uma franquia da AHL, que, ao invés de lhe oferecer um contrato cheio prefere o contrarto de produtividade. Significa que mesmo o Worcester não acredita tanto assim que vá dar certo, embora, até aqui, esteja dando.

O mais engraçado disso tudo é que assinar com o Worcester acabou dando algum cartaz a Cheechoo que vinha sumido dos noticiários. Sua dedicação nos treinos vem sendo elogiada por Sommer e colegas de times e para o programa Hockey Central, o ponta direita ajudou a chamar um pouco mais de atenção para a liga de baixo. De acordo com Sommer, Cheechoo estaria totalmente concentrado em recuperar sua carreira e teria interesse em chamar atenção do San Jose Sharks novamente.

Sommer ainda tentou defender a carreira e legado de Cheechoo sugerindo que é comum que os índices de um jogador no nível da NHL caiam consideravelmente de um momento para o outro. A forma como aconteceu com Cheechoo, no entanto, foi assustadora. Numa temporada você é um atacante de 50 gols. Depois você se torna um cara que pontua tanto quanto um jogador de liga de baixo, que sobe apenas para ocupar a vaga de algum atleta enquanto ele estiver machucado. Marc Crawford elogiou Cheechoo nos treinos com os Stars, mas a franquia entendeu que não era o jogador que ela precisava naquele momento. Por quê? Fácil constatar: Cheechoo tem um rendimento de jogador da AHL.

E seu desempenho? Cheechoo, capitão alternativo, marcou seu primeiro gol com pouco mais de cinco minutos de jogo, na estreia do Worcester na temporada 2010-11, contra o Bridgeport Sound Tigers. Começou bem. Depois de bons números em outubro e novembro, Cheechoo fez um mês de dezembro excelente, mas caiu um pouco de rendimento em janeiro. Seu índice +/- também piorou este mês, principalmente se comparado a dezembro. No último jogo, contra Portland, por exemplo, Cheechoo sequer chutou a gol e esteve no rinque em dois dos cinto gols dos Pirartes.

Cheechoo ainda lidera a franquia em pontos com larga vantagem. São 37 pontos em 40 jogos. O Worcester briga para avançar aos playoffs da AHL e atualmente é o nono no leste. Cheechoo vem sendo o principal jogador na campanha.

Enquanto o San Jose Sharks joga na Costa Oeste americana, o Worcester está no lado oposto, na Costa Leste. Sem contrato com o San Jose, o sonho de Cheechoo voltar à NHL parece bem distante. Mas quem sabe com a manutenção de seus números, alguma coisa não acontece? Eu não apostaria nisso, mas quando você espera pouco de um jogador, qualquer bom desempenho já é algo fora do comum. É triste que Cheechoo tenha chegado a este ponto.

Thiago Leal aprendeu a jogar sinuca.

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Começo da carreira profissional: Jonathan Cheechoo pelo Kentucky Thoroughblades, onde foi treinado por Ray Sommer.

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Em grande fase pelo San Jose Sharks.
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Troféu Maurice Richard: o auge de sua carreira.

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Os tubarões não são mais os mesmos: Cheechoo pelo Worcester Sharks.

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Página publicada em 23 de janeiro de 2011.