Por: Thiago Leal

Em 15 de abril de 1997 o Seattle Thunderbirds perdia o Campeonato da WHL para o Leathbridge Hurricanes. Com 23 pontos nos 15 jogos de pós-temporada da liga juvenil, o capitão Patrick Marleau não foi capaz de levar o Seattle à disputa da Copa Memorial. Ele havia encerrado a temporada regular com 125 pontos, terceiro melhor marcador da WHL, e seus números o credenciaram para ser a segunda escolha geral do recrutamento de entradas da NHL naquele ano, selecionado pelo San Jose Sharks. Só ficou atrás de um certo Joe Thornton, primeira escolha geral pelo Boston Bruins.

Há quem considere Marleau um dos melhores atacantes (ou mesmo o melhor) da história do Seattle, o que é um exagero. Esse título pertence ao anônimo Glen Goodall, pelo menos enquanto jogador pela franquia juvenil. O que dá para afirmar, pelo menos até aqui, é que Marleau é o maior jogador da história do San Jose Sharks — o que não significa necessariamente o melhor. E entre altos e baixos, Marleau chega a seu milésimo jogo na NHL, sempre pelos San Jose.

Talvez este nem seja o melhor momento para homenageá-lo, uma vez que, definitivamente, não vive bom momento na carreira. Mas quando um jogador torna-se ídolo, está de certo modo acima do bem e do mal. Marleau é o terceiro jogador mais jovem a atingir 1000 jogos na NHL, o mais jovem a chegar a esta marca por uma mesma franquia. Um fato notável. Recrutado em tempos de vacas magras na franquia da Baía de São Francisco, Marleau não teve sabatina na AHL e já chegou encarando os tubarões da NHL sob o comando do treinador Darryl Sutter e tutela do já experiente Owen Nolan, então capitão do time.

Nolan, que havia chegado em 1995, ficou até 2003 e se mudou para Toronto. O treinador dos Sharks, que àquela altura já era Ron Wilson, realizou um rodízio de jogadores para definir o novo capitão. Passou por Mike Ricci, Vincent Damphousse, Alyn McCauley e, enfim, na metade da temporada 2003-04, Marleau, que acabou como o capitão definitivo da franquia. Pelo menos era o que se esperava. Assim como se esperava que aquele Marleau, rápido, habilidoso, cuspindo fogo, seguisse evoluindo no esporte.

Desta metade de 2004 para cá muita água rolou no mar da Califórnia. Marleau e os Sharks surpreenderam na pós-temporada de 2004 e avançaram às finais de conferência, perdendo para o Calgary Flames. Joe Thornton se juntou ao time, que se manteve nos playoffs, sempre sendo eliminado nas semifinais de conferência, até que em 2009, ano em que conquistou o Troféu dos Presidentes, veio a traumática eliminação para o Anaheim Ducks e o time estremeceu. Marleau (que havia feito boa temporada regular) e Thornton foram questionados por "sumirem" em momentos decisivos e o C de capitão acabou indo parar no ombro de Rob Blake. Para Marleau nem o A de capitão alternativo sobrou — posto que ele acabaria ganhando no decorrer da temporada.

Com a proximidade da agência livre, muito especulou-se sobre uma possível saída de Marleau, seja trocado ou ao fim de seu contrato. Nada disso aconteceu e Marleau teve um bom desempenho na temporada regular e pós-temporada 2009-10, mesmo com os Sharks eliminados na final de Conferência pelo Chicago Blackhawks. Marleau renova por mais quatro anos por um alto salário e aí chegamos a temporada atual. Capitão alternativo, Marleau se apresenta com um rendimento baixo e a expectativa de ter um desempenho pior que na temporada 2007-08. Foi nesse cenário que ele fez seu jogo 1000 em temporadas regulares com a única camisa que vestiu desde aquele 15 de abril, quando atuou pela última vez com o Seattle Thunderbirds.

O tal milésimo jogo foi contra o Phoenix Coyotes no Arizona. E Marleau abriu a contagem marcando o primeiro gol da noite. Os Sharks acabaram vencendo por 4-3, com gols de Dany Heatley, Logan Couture e Thornton, o atual capitão. O gol foi o único ponto de Marleau, que também não pontuou na vitória sobre o Vancouver Canucks, nos pênaltis, após empate em 1-1. Mas seu desempenho no jogo 1000 foi até surpreendentemente bom. Quem acompanha a Conferência Oeste de perto sabe que tem sido um ano complicado para os Sharks e a ameaça de ficar fora dos playoffs é real. O time era só o 10º na conferência quando este artigo foi fechado. E Marleau está relativamente distante dos dois melhores jogadores do time até aqui, Heatley e Thornton, que também estão longe de seus dias mais inspirados. Em gols marcados ele até que vem tão regular quanto o restante da equipe, o que é pouco. Marleau melhorou consideravelmente nos últimos jogos simplesmente por aparecer mais de que vinha sendo comum. Antes disso, constantes apagões. Quando ele decide aparecer para chutar, o que tem feito bastante recentemente, acaba errando mais de que acerta. Não é a pontaria da temporada passada, quando chegou a um nível bem próximo de seus melhores anos.

É curioso observar o quanto Marleau faz parte desta história recente chamada San Jose Sharks. Esta é apenas a 19ª temporada da franquia, fundada em 1991. Quando Marleau chegou em 1997 o time ainda estava para começar sua sétima temporada. Só havia ido aos playoffs duas vezes e ficado de fora quatro. Desde que ele vestiu a camisa, os Sharks só ficaram de fora dos playoffs uma vez, em 2003. Até aqui, Marleau lidera a franquia em gols, assistências e pontos. Discreto e alheio a declarações polêmicas, Marleau acaba tornando-se uma figura controversa por alternar bons e maus momentos e, ao mesmo tempo, fazer uma grande sombra sobre a única franquia profissional que defendeu na carreira.

Seu melhor momento com os Sharks foi mesmo em 2006, quando a franquia estava em processo de ascensão. Maior responsável pela primeira mordida do time, em 2004, Marleau nunca jogou tão bem em temporada regular e em playoffs quanto em 2006. Mas os Sharks, assim como todos no Oeste, acabaram surpreendidos pelo Edmonton Oilers. É irônico que a apoteose da franquia estivesse para acontecer em 2009, quando, de repente, os Ducks se intrometeram na história e estragaram o roteiro. E Marleau acabou sendo apontado responsável pela derrota. É um sentimento conflitante, porque, talvez, sem o seu recrutamento em 1997, essa perspectiva de ascensão nem tivesse existido.

Thiago Leal manda um abraço ao eterno Canis lupus cearensis.

Arquivo TheSlot.com.br
1997, recrutamento de Patrick Marleau pelo San Jose Sharks.

Chronicle/Michael Macor
2004: Marleau e os Sharks surpreendem nos playoffs, mas ficam nas finais de conferência contra o Calgary.
AP Photo/Mark Humphrey
2006: talvez o melhor ano de Marleau, tanto em temporada regular quanto em playoffs.

Christian Petersen/Getty Images
2011: Marleau comemora 1000 jogos pela única equipe profissional que defendeu na carreira.
(17/01/2011)

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Página publicada em 23 de janeiro de 2011.