Por: Alexandre Giesbrecht

Quase exatos três anos atrás publicamos uma capa em que analisávamos por que Hurricanes e Oilers estavam patinando tanto na tabela de classificação depois de terem decidido a Copa Stanley meros oito meses antes. Era surpreendente que os dois finalistas anteriores estivessem vivendo péssimos momentos ao mesmo tempo, embora ao menos para o Carolina ainda houvesse esperança para aquela temporada — a esperança não durou muito, e os Canes tornaram-se o primeiro time desde os Black Hawks de 1938-39 a ser campeão e não alcançar os playoffs na temporada seguinte, depois de também não tê-los alcançado na temporada anterior. O time ainda obteve algum sucesso na temporada passada, quando chegou às finais do Leste depois de aprontar zebras contra os favoritos Devils e Bruins, mas neste ano está de novo caindo pelas tabelas. Já os Oilers ainda não voltaram aos playoffs, e só um milagre parece ser capaz de quebrar essa escrita ainda neste ano.

Neste momento os dois finalistas de 2006 ocupam as lanternas de suas respectivas conferências e as duas últimas posições da liga. Para se ter uma ideia do tamanho do desastre, ainda que os Oilers vencessem seis jogos seguidos, nenhuma combinação de resultados seria o bastante para tirá-los da lanterna do Oeste. Os Canes não estão tão distantes assim do vice-lanterna, mas o G-8 está a catorze pontos, distância que parece agora insuperável, mesmo com as três vitórias nos últimos quatro jogos, que sugerem uma tentativa de reviravolta, graças principalmente à ressurreição da equipe de vantagem numérica.

É verdade que o time da Carolina do Norte foi assolado por contusões no início da temporada, incluindo o goleiro titular, Cam Ward, o que o levou a contratar Manny Legace como goleiro de emergência em novembro, por falta de confiança no reserva Michael Leighton. Depois que Ward retornou, Leighton e Legace disputaram a vaga de reserva, e Legace acabou ficando, enquanto Leighton foi para o time de baixo e, ao ser chamado de volta, foi recrutado na desistência de reentrada pelos Flyers, com metade de seu salário ainda sendo paga pelos Canes — ele foi o titular dos Flyers no Clássico de Inverno.

Apesar desses percalços e da razoável melhora recente do time, que já não tem mais o ataque mais anêmico da liga, em Raleigh ainda se fala muito em uma limpa no elenco, e praticamente nenhum jogador cujo contrato vence em julho tem garantias de que vai voltar a usar a camisa vermelha na temporada que vem. O público total no RBC Center nesta temporada caiu 4,3% no primeiros 25 jogos da temporada em relação ao mesmo período de 2008-09, e isso representa muita receita perdida. Como na reta final do ano passado o time foi muito bem e atraiu a torcida, se não tiver uma sequência semelhante neste ano a queda será ainda mais acentuada.

A limpa no elenco ajudaria a controlar o volume de dólares que saem pelo ladrão. O defensor Joni Pitkanen, um dos destaques do elenco, tem sido cobiçado por outros clubes, que ligam constantemente para o gerente geral Jim Rutherford. Ray Whitney, atual coartilheiro do time e seu segundo goleador, também está na mira de muitos times, apesar de quase 38 anos nas costas. Matt Cullen, Joe Corvo, Aaron Ward e Scott Walker também podem estar a semanas — talvez dias — de ser trocados. Mesmo o futuro em Raleigh do agora ex-capitão Rod Brind'Amour não é garantido. Talvez não tenha relação com a turbulência da atual temporada, mas na semana passada ele passou o C de capitão, que ele usava desde a aposentadoria de Ron Francis, em 2005, para Eric Staal. Brind'Amour demonstrou a classe que se esperava dele ao ser comunicado da decisão, cujo motivo alegado foi a diminuição no tempo no gelo do jogador. Rutherford garantiu que Brind'Amour encerrará sua carreira ainda vestindo a camisa dos Canes, mas deixou em aberto quando isso acontecerá, o que pode muito bem ser ao final desta temporada.

O fato de jogadores como Cam Ward, Staal, Tuomo Ruutu, Tim Gleason e Brandon Sutter serem considerados intocáveis pela gerência deve amenizar o impacto da reconstrução que parece estar por vir. Afinal, se o time tem tido problemas para lotar o estádio com um elenco que mescla bem experiência e juventude, imagine com um time em formação que talvez não consiga os resultados que a torcida da terra do Nascar quer para prestigiar ao vivo. Ao menos um motivo restará para o pessoal deixar as corridas de carros de lado, que é justamente esse núcleo jovem e de potencial, que pode começar a brigar de maneira consistente pelo título antes mesmo da metade da década, se as peças complementares forem adquiridas e funcionarem.

Em Edmonton, entretanto, não há esse fator atenuante. O grupo no máximo tem alguns veteranos que poderiam servir de base, como Shawn Horcoff, Ales Hemsky, Dustin Penner e Lubomir Visnovsky. Os Oilers ainda contam com promessas como Jordan Eberle, Magnus Pääjärvi-Svensson e Linus Omark, que ainda não têm previsão para subir, mas têm potencial, e há outros bons jogadores no sistema. Já no time de cima, percebe-se que Sam Gagner está evoluindo. Isso sem falar que já é quase garantido que no próximo recrutamento os Oilers terão a escolha mais alta de sua história — o que, em si, não é grande garantia, pois a escolha mais alta do time foi a quarta geral de 1994, que ele usou para selecionar o esquecível Jason Bonsignore.

Dá para prever um time competitivo em um prazo maior que o dos Canes. É que, mesmo com a campanha ridícula desta temporada, os Oilers têm uma folha de pagamento para 2010-11 em torno de US$ 45 milhões, o que deixa muito pouco espaço para melhorias. Pensando nisso, o gerente geral Steve Tambellini já pensa em livrar-se de Sheldon Souray e seu polpudo salário (mais dois anos de contrato, média para o teto de US$ 5,4 milhões), embora ele tenha em seu contrato uma cláusula impedindo trocas — ele já concordou em abrir mão dela se for para determinados times que ele não citou publicamente. Mesmo Penner, relativamente jovem aos 27 anos, pode estar de saída, pois conta US$ 4,5 milhões contra o teto por mais duas temporadas e pode atrair um retorno melhor que o de Souray, embora a saída de um não signifique necessariamente a permanência do outro. Como os Oilers não deverão estar em condições de competir antes de o contrato de Penner vencer, faz sentido trocá-lo agora se uma boa oferta surgir. Fernando Pisani, Ethan Moreau e Steve Staios também podem estar de saída até o dia-milite de trocas ou, na pior das hipóteses, antes da próxima temporada. Hemsky, se não tivesse se contundido com gravidade em novembro, poderia ser outra moeda de troca.

O papo de reconstrução tem ecoado forte em Edmonton, e a torcida o tem aceito com surpreendente facilidade, considerando-se que, 2006 à parte, o time está numa construção ad æeternum desde a primeira metade dos anos 1990. Ainda faltam peças para essa reconstrução, que podem ser conseguidas nos próximos recrutamentos, com as altas escolhas que o time tende a ter. Há que se lembrar que nos times de baixo há jogadores demais com as mesmas características, especialmente atacantes baixos, que também abundam no time de cima. Por causa disso, há quem especule trocar Andrew Cogliano, que poderia trazer no mínimo mais uma escolha alta, mas também adiaria mais um pouquinho a chegada de uma nova época de vacas gordas.

Se as joias certas forem selecionadas no recrutamento e talhadas nos times de baixo, uma ou outra peça de encaixe — por exemplo, um zagueiro sólido ou um atacante goleador — poderia ser encontrada no mercado e o time voltaria a competir em pé de igualdade rapidamente, talvez em duas ou três temporadas. Mas, como haverá uma grande dependência do recrutamento, uma fonte volátil de talento que às vezes demora para trazer resultados, uma projeção mais realista seria para além de meados da década de 2010.

Coincidindo com a eventual boa fase dos Hurricanes, quem sabe uma nova final entre os dois times volte a acontecer em médio prazo. Para isso, ambas as reconstruções teriam de dar certo, e muito certo, ao mesmo tempo. Seria interessante. Mas também seria interessante se Papai Noel existisse e se houvesse um pote de ouro no final de cada arco-íris.

Alexandre Giesbrecht, 33 anos, não teve o que comemorar nos quarenta anos da Praça Roosevelt.
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Página publicada em 28 de janeiro de 2010.